terça-feira, 1 de agosto de 2017

Os grandes Vultos do Espiritismo (Livro)

 OS GRANDES VULTOS DO ESPIRITISMO
PAULO ALVES GODOY



ÍNDICE

Algumas Palavras do Autor
Nota da Editora

CAPÍTULO 1 = ADÉLIA RUEFF
CAPÍTULO 2 = ADOLFO BEZERRA DE MENEZES
CAPÍTULO 3 = ALLAN KARDEC
CAPÍTULO 4 = AMÉRICO MONTAGNINI
CAPÍTULO 5 = ANÁLIA FRANCO
CAPÍTULO 6 = ANTÔNIO GONÇALVES DA SILVA BATUÍRA
CAPÍTULO 7 = ARTUR LINS DE VASCONCELOS LOPES
CAPÍTULO 8 = AUGUSTO MILITÃO PACHECO
CAPÍTULO 9 = AURORA A. DE LOS SANTOS DE SILVEIRA
CAPÍTULO 10 = BENEDITO GODOY PAIVA
CAPÍTULO 11 = CAÍRBAR SCHUTEL
CAPÍTULO 12 = CAMILLE FLAMMARION
CAPÍTULO 13 = CARLOS GOMES DE SOUZA SHALDERS
CAPÍTULO 14 = CLÉLIA SOARES DA ROCHA
CAPÍTULO 15 = CORINA NOVELINO
CAPÍTULO 16 = COSME MARIÑO
CAPÍTULO 17 = EMMA HARDINGE BRITTEN
CAPÍTULO 18 = EURÍPEDES BARSANULFO
CAPÍTULO 19 = FRANCISCO ANTÔNIO BASTOS
CAPÍTULO 20 = FREDRICH WILLIAN HENRY MYERS
CAPÍTULO 21 = GEORGE VALE OWEN
CAPÍTULO 22 = GUILHERME TAYLOR MARCH
CAPÍTULO 23 = INÁCIO BITTENCOURT
CAPÍTULO 24 = JOÃO BATISTA PEREIRA
CAPÍTULO 25 = JOÃO FUSCO (JOFUS)
CAPÍTULO 26 = JOÃO LEÃO PITTA
CAPÍTULO 27 = JOSÉ PETITINGA
CAPÍTULO 28 = JÚLIO ABREU FILHO
CAPÍTULO 29 = JUVÊNCIO DE ARAÚJO FIGUEIREDO
CAPÍTULO 30 = MIGUEL VIVES Y VIVES
CAPÍTULO 31 = PEDRO DE CAMARGO VINÍCIUS
CAPÍTULO 32 = PEDRO LAMEIRA DE ANDRADE
CAPÍTULO 33 = UMBERTO BRUSSOLO
CAPÍTULO 34 = VIANA DE CARVALHO
CAPÍTULO 35 = WILLIAM STAINTON MOSES


Algumas palavras do autor
      
      O meio espírita brasileiro, há largos anos vem-se ressentindo da falta de informações biográficas de grandes vultos do Espiritismo.      
      Sentindo essa lacuna, iniciamos, há mais de vinte anos, a publicação, pelas páginas dos jornais "O Semeador", órgão da Federação Espírita do Estado de S. Paulo, e "Unificação", órgão da União das Sociedades Espíritas do Estado de S. Paulo, subsídios biográficos de numerosos pioneiros e divulgadores do Espiritismo, os quais exerceram suas tarefas no Brasil e em outros países. Esse trabalho alcançou acentuada repercussão. 
       Atendendo a solicitações de numerosos núcleos espíritas do Brasil e, particularmente, de muitos estudiosos do Espiritismo, os quais se interessam pela vida e obra de grandes seareiros da Doutrina dos Espíritos, achamos de bom alvitre publicar um livro de biografias, aproveitando o material já publicado naqueles jornais. 
       Nesses vinte e poucos anos, grande número de trabalhos biográficos foram divulgados. Entretanto, se eles fossem todos enfeixados numa só obra, além de ela tornar-se muito volumosa, seria dispendiosa e inacessível ao bolso de muitos, devido ao preço atual dos livros. 
       Levando em consideração esse e outros fatores, achamos conveniente publicar volumes com cerca de trinta registros biográficos, eventualmente dando à publicidade mais de um volume. 
       A escolha dos primeiros nomes foi feita de forma indiscriminada, pois é tarefa sumamente difícil, entre tantos seareiros de renome, escolher apenas um número limitado. Por isso, tomamos de forma aleatória, dentre os espíritas brasileiros e estrangeiros, o número necessário para a formação do primeiro volume, sem levar em conta a magnitude das tarefas por eles desempenhadas. 
       Estamos animados da esperança de que, dentro em breve, outros livros serão dados à lume, quando então a vida e obra de outros grandes batalhadores da causa espírita poderão ser legadas ao público ledor. 
      
                                    PAULO ALVES GODOY


Nota da editora
       
      É gritante a falta de informações biográficas de muitos seareiros que desempenharam papel de relevância na Terra. Alguns livros surgiram recentemente, os quais ensejaram a oportunidade de projetar na posteridade, os nomes de alguns dos mais salientes militantes espíritas, no entanto, um elevado número de outros obreiros permanece relegado ao esquecimento.
       Embora reconhecendo que muitos Espíritos desencarnados não dão qualquer apreço às homenagens terrenas, é óbvio que os nossos pósteros não podem e não devem ignorar, ainda que de forma bastante resumida e apagada, a obra por eles deixada na Terra, pois muitos deles por aqui passaram como verdadeiros rasgos de luz a iluminar os horizontes do mundo.
       Alguns órgãos da imprensa espírita, num trabalho hercúleo, têm procurado pesquisar e difundir ligeiros dados biográficos de muitos espíritas que desempenharam tarefas de projeção na Terra, o que tem contribuído, de algum modo, para preencher essa lacuna.
       As "Edições FEESP", da Federação Espírita do Estado de São Paulo, sentindo a extensão desse problema, deliberou lançar um ou mais livros desse gênero, tendo, para tanto, encarregado o jornalista Paulo Alves Godoy, de prepará-los, uma vez que aquele companheiro tem desenvolvido uma tarefa, que perdura há mais de 20 anos, no campo da pesquisa e publicação de informes biográficos de grandes vultos do Espiritismo.
       Neste livro houve a preocupação de circunscrever ao menor espaço possível esses dados, para que maior número de personalidades espíritas pudesse ser nele enfeixado, e o fato de não ter sido possível abranger a todos, no que não vai nenhuma desconsideração pelas tarefas por eles desempenhadas, esperamos que, futuramente, novos volumes sejam lançados, nos quais mais alguns vultos espíritas tenham sua vida e obra registradas.
       A Federação Espírita do Estado de S. Paulo presta, assim, o seu tributo, lançando a lume esta obra que, temos a certeza, virá satisfazer a aspiração de elevado número de espíritas.
      
                                  A EDITORA


1
ADÉLIA RUEFF
           
          Nascida em Pinhal, Estado de São Paulo, no dia 5 de Junho de 1868 e desencarnada na mesma cidade, no dia 2 de Fevereiro de 1953, com 84 anos de idade.

      Desde o seu surgimento na Terra, no ano de 1857, o Espiritismo enfrentou tenaz resistência por parte da religião majoritária do Brasil. Entretanto, na década de 1930, essa pressão acentuou-se de maneira inusitada, fazendo-se sentir em toda a sua intensidade. 
      Na cidade de Pinhal, o clima não era diferente. Entretanto, como Deus situa em cada cidade um Espírito que desenvolve tarefas pioneiras e santificantes, aquele núcleo populacional do Estado de São Paulo, não poderia constituir exceção, por isso ali reencarnou o Espírito missionário de Adélia Rueff, mais conhecida por "tia Adélia", que teve a oportunidade ímpar de desenvolver santificante trabalho em favor do esclarecimento dos seus semelhantes, alicerçada na recomendação de Jesus do "Amai-vos uns aos outros". 
      A fim de propiciar aos nossos leitores uma apagada súmula biográfica dessa grande vida, passamos a transcrever um substancioso trabalho elaborado pelo confrade João Batista Laurito, atual presidente da Federação Espírita do Estado de São Paulo, que teve a oportunidade feliz de com ela conviver, locupletando-se com os frutos sazonados que ela tão bem sabia doar aos que usufruíram de sua benfazeja orientação espiritual. 
      "Foi exatamente em 1936 que tive os meus olhos abertos para as claridades fulgurantes da Doutrina Consoladora. Embora nascido em berço espírita, foi somente nesse ano que, indo residir em Pinhal, a fim de estudar na "Escola Agrícola", conheci o "Centro Espírita Estrela da Caridade", brilhante fanel de luzes na Região Mojiana, centro de irradiação de caridade e amor a todos os que tinham a oportunidade de freqüentá-lo. 
      Essa Casa foi fundada em 11 de janeiro de 1911 e, desde o dia de sua fundação até 1950, ininterruptamente, foi essa célula de fraternidade, sábia e amorosamente presidida por sua fundadora ADÉLIA RUEFF (Tia Adélia), assim chamada, porque solteira, abrigou em seu lar enorme contingente de sobrinhos de outras cidades, que na idade própria buscavam
      Pinhal, para aculturamento escolar, fato que durou muitos anos. E esses sobrinhos eram tantos, que generalizaram entre outras pessoas, a alcunha "Tia Adélia". 
      O Dr. Francisco Silviano de Almeida Brandão, por ocasião de sua colação de grau como médico, houvera feito uma promessa no final do século 19 que se tudo transcorresse bem por ocasião de sua formatura, abriria um Centro Espírita, pois já nessa época professava a crença reencarnacionista. Mas como as coisas na ocasião eram, além de difíceis, o espírito popular muito antagônico, foi postergando a idéia até desencarnar. No mundo espiritual, viu a necessidade do cumprimento da promessa, e surgindo a primeira oportunidade, comunicou-se com Tia Adélia, pedindo- lhe que cumprisse por ele a promessa. Assim nasceu o "Centro Espírita Estrela da Caridade". 
      Durante cinco anos, moramos com ela. E às terças e sábados, às 19:30 horas, lá estávamos no "Estrela da Caridade", e a sua voz, firme, inflexível, embora mansa e doce, ainda ecoa em nossos ouvidos, quando iniciava a sessão declamando: "Deus nosso Pai, que sois todo poder e bondade... e ao encerrar: Sublime estrela, farol das imortais falanges...
      Nasceu no dia 5 de junho de 1868, ali mesmo em Pinhal, predestinada a somente servir, não casou. Durante toda a sua fértil existência, amou e deu tanto de si aos outros, que formou em seu derredor uma auréola de inenarrável admiração. Médium de exuberantes proporções bastava a imposição de suas compassivas mãos, para aliviar instantaneamente as pessoas, que a procuravam com tanta avidez, sem lhe permitir sossego ou descanso. 
      Certa feita ela viajou. E nós, que aos domingos aproveitávamos para dormir até bem mais tarde, sem nenhuma alegria ou boa vontade, atendemos 17 pessoas que a procuraram para tomar passes, das 8 às 12 horas. Uma ocasião, um confrade de Jacutinga - Minas Gerais -, viajou, a pé, 26 quilômetros para presenteá-la com um saquinho de feijão verde, numa atitude de comovedora gratidão. 
      A mesa diretora dos trabalhos era formada. Na cabeceira principal sentava Tia Adélia, sob uma iluminada Estrela de lâmpadas coloridas, símbolo do Centro. Na outra cabeceira, o Vice-Presidente, Zé Café. As laterais para os médiuns, Dona Ordalha, Tereza, Idalina, Dona Eugênia, e a extraordinária Dona Adélia Neto, que quando recebia o Guia Espiritual do
      Centro "Irmão Silviano", se colocava de pé, abria os olhos, e de uma criatura tímida e simples, embora bela, se transformava num tribuno imponente e erudito. Pudera, médium inconsciente dando passividade ao Espírito Dr. Francisco Silviano de Almeida Brandão, médico, Presidente do
      Estado de Minas Gerais. Na porta de entrada, controlando com vigilância e severidade a admissão dos freqüentadores, a Mariana e a Rosa Domiciano, zeladoras do grupo. 
      Viajando em charretes, excepcionalmente em automóveis e quase sempre a pé, lá ia Tia Adélia, à periferia Pinhalense e aos sítios vizinhos, cumprindo a predestinação de sua encarnação como lídima missionária do Cristo: atendendo aos aflitos, curando os obsediados, levantando os caídos, vestindo as viúvas, alimentando as crianças e amparando os velhos. 
      Que criatura extraordinária! Doce, mansa, boa. Jamais a vimos encolerizada, jamais a vimos levantar a voz. À medida que envelhecia, fruto de dois acidentes graves, se curvava, se encarquilhava, tornando-se menor. Fatos que nunca a fizeram perder a paciência. Olhos vivos, argutos, mente clara, pensamento limpo, conselheira oficial de quase toda a população pinhalense. Fato que lhe proporcionou tributo de grande admiração, respeito e afeição por seus contemporâneos. 
      Descrever fatos do desenvolvimento espírita de "Tia Adélia" no campo da benemerência, seria tarefa que preencheria um enorme livro. 
      Médium de determinação na crença do trabalho doutrinário, deixava sempre para segundo plano a necessidade de repouso físico, aproveitando todo tempo disponível no atendimento dos mais necessitados do caminho. 
      Por ocasião das festividades comemorativas no "Estrela da Caridade", Tia Adélia, com muito carinho e inteligência, preparava seus discursos e em pé, inflamada, erecta, impressionava os presentes ao transmitir seus inequívocos conhecimentos a respeito da Doutrina. Empolgava tanto as suas palestras, que os menos avisados, desconhecedores das virtudes mediúnicas, não conseguiam reconhecê- la na oradora. 
      Os frequentadores do "Centro Espírita Estrela da Caridade", chegavam a venerar a tal ponto o Guia Espiritual do Grupo, Irmão Silviano, que narraremos um acontecimento inusitado para o conhecimento dos leitores:
      Em determinada ocasião, brincávamos com um grupo de crianças, quando uma garota nos contou algo muito sério. Exigimos dela que jurasse se aquilo era verdade. E ela, jurou por Deus que tudo quanto dissera representava a expressão da verdade. Não aceitamos o juramento e retrucamos: jurar por Deus não interessa; você jura pelo "Irmão Silviano"? - Era exigir demais dela, que não teve coragem de ratificar o juramento, pois para jurar em nome do "Irmão Silviano" só se fosse inabalável verdade. 
      A residência de Tia Adélia era mais freqüentada que o Centro Espírita. Era gente que entrava, era gente que saía, uns tomando passes, outros recebendo conselhos e orientações. Aos domingos verdadeiras filas se formavam, alguém querendo ser grato empunhava uma cesta de laranjas, um feixe de verduras; outro, uma braçada de flores, pacotes de cereais, frangos, ovos, lenha rachada, frutas, etc... Guardávamos tudo. Na segunda-feira, iniciávamos a caminhada inversa dos presentes. Eram necessitados de toda sorte que iam visitá-la, e após o passe reparador, a palavra conselheira e amiga, e um agradozinho representado por ovos, frutas, legumes, flores. Tudo que vinha no domingo saía na segunda-feira, numa vivência "Dai de graça o que de graça receberdes".


2
ADOLFO BEZERRA DE MENEZES

            Nascido na antiga Freguesia do Riacho do Sangue, hoje Solonópole, no Ceará, aos 29 dias do mês de agosto de 1831, e desencarnado no Rio de Janeiro, a 11 de abril de 1900.        

      Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, no ano de 1838, entrou para a escola pública da Vila do Frade, onde em dez meses apenas, preparou-se suficientemente até onde dava o saber do mestre que lhe dirigia a primeira fase de educação. Bem cedo revelou sua fulgurante inteligência, pois, aos onze anos de idade, iniciava o curso de Humanidades e, aos treze anos, conhecia tão bem o latim que ministrava, a seus companheiros, aulas dessa matéria, substituindo o professor da classe em seus impedimentos. 
      Seu pai, o capitão das antigas milícias e tenente-coronel da Guarda Nacional, Antônio Bezerra de Menezes, homem severo, de honestidade a toda prova e de ilibado caráter, tinha bens de fortuna em fazendas de criação.
      Com a política, e por efeito do seu bom coração, que o levou a dar abonos de favor a parentes e amigos, que o procuravam para explorar-lhe os sentimentos de caridade, comprometeu aquela fortuna. Percebendo, porém, que seus débitos igualavam seus haveres, procurou os credores e lhes propôs entregar tudo o que possuía, o que era suficiente para integralizar a dívida. Os credores, todos seus amigos, recusaram a proposta, dizendo-lhe que pagasse como e quando quisesse. 
      O velho honrado insistiu; porém, não conseguiu demover os credores sobre essa resolução, por isso deliberou tornar-se mero administrador do que fora sua fortuna, não retirando dela senão o que fosse estritamente necessário para a manutenção da sua família, que assim passou da abastança às privações. 
      Animado do firme propósito de orientar-se pelo caráter íntegro de seu pai, Bezerra de Menezes, com minguada quantia que seus parentes lhe deram, e animado do propósito de sobrepujar todos os óbices, partiu para o Rio de Janeiro a fim de seguir a carreira que sua vocação lhe inspirava: a Medicina. 
      Em novembro de 1852, ingressou como praticante interno no Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Doutorou-se em 1856 pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendendo a tese "Diagnóstico do Cancro".
      Nessa altura abandonou o último patronímico, passando a assinar apenas Adolfo Bezerra de Menezes. A 27 de abril de 1857, candidatou-se ao quadro de membros titulares da Academia Imperial de Medicina, com a memória "Algumas Considerações sobre o Cancro encarado pelo lado do Tratamento". O parecer foi lido pelo relator designado, Acadêmico José Pereira Rego, a 11 de maio de 1857, tendo a eleição se efetuado a 18 de maio do mesmo ano e a posse a 1º de junho. Em 1858 candidatou-se a uma vaga de lente substituto da Secção de Cirurgia da Faculdade de Medicina. Por intercessão do mestre Manoel Feliciano Pereira de Carvalho, então Cirurgião-Mor do Exército, Bezerra de Menezes foi nomeado seu assistente, no posto de Cirurgião-Tenente. 
      Eleito vereador municipal pelo Partido Liberal, em 1861, teve sua eleição impugnada pelo chefe conservador, Haddock Lobo, sob a alegação de ser médico militar. Objetivando servir o seu Partido, que necessitava dele a fim de obter maioria na Câmara, resolveu Bezerra de Menezes afastar-se do Exército. Em 1867 foi eleito Deputado Geral, tendo ainda figurado em lista tríplice para uma cadeira no Senado. 
      Quando político, levantou-se contra ele, a exemplo do que ocorre com todos os políticos honestos, uma torrente de injúrias que cobriu o seu nome de impropérios. Entretanto, a prova da pureza da sua alma deu-se quando, abandonando a vida pública, foi viver para os pobres, repartindo com os necessitados o pouco que possuía. 
      Corria sempre ao tugúrio do pobre, onde houvesse um mal a combater, levando ao aflito o conforto de sua palavra de bondade, o recurso da ciência de médico e o auxílio da sua bolsa minguada e generosa. 
      Desviado interinamente da atividade política e dedicando-se a empreendimentos empresariais, criou a Companhia de Estrada de Ferro Macaé, a Campos, na então província do Rio de Janeiro. Depois, empenhou-se na construção da via férrea de S. Antônio de Pádua, etapa necessária ao seu desejo, não concretizado, de levá-la até o Rio Doce. Era um dos diretores da Companhia Arquitetônica que, em 1872, abriu o "Boulevard 28 de Setembro", no então bairro de Vila Isabel, cujo topônimo prestava homenagem à Princesa Isabel. Em 1875, era presidente da Companhia Carril de S. Cristóvão. 
      Retornando à política, foi eleito vereador em 1876, exercendo o mandato até 1880. Foi ainda presidente da Câmara e Deputado Geral pela Província do Rio de Janeiro, no ano de 1880. 
      O Dr. Carlos Travassos havia empreendido a primeira tradução das obras de Allan Kardec e levara a bom termo a versão portuguesa de "O Livro dos Espíritos". Logo que esse livro saiu do prelo levou um exemplar ao deputado Bezerra de Menezes, entregando-o com dedicatória. O episódio foi descrito do seguinte modo pelo futuro Médico dos Pobres: "Deu-mo na cidade e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem de bonde. Embarquei com o livro e, como não tinha distração para a longa viagem, disse comigo: ora, adeus! Não hei de ir para o inferno por ler isto... Depois, é ridículo confessar-me ignorante desta filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosóficas. Pensando assim, abri o livro e prendi-me a ele, como acontecera com a Bíblia. Lia. Mas não encontrava nada que fosse novo para meu Espírito. Entretanto, tudo aquilo era novo para mim!... Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se achava no "O Livro dos Espíritos".
      Preocupei-me seriamente com este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou, mesmo como se diz vulgarmente, de nascença". 
      No dia 16 de agosto de 1886, um auditório de cerca de duas mil pessoas da melhor sociedade enchia a sala de honra da Guarda Velha, na rua da Guarda Velha, atual Avenida 13 de Maio, no Rio de Janeiro, para ouvir em silêncio, emocionado, atônito, a palavra sábia do eminente político, do eminente médico, do eminente cidadão, do eminente católico, Dr. Bezerra de Menezes, que proclamava a sua decidida conversão ao Espiritismo. 
      Bezerra era um religioso no mais elevado sentido. Sua pena, por isso, desde o primeiro artigo assinado, em janeiro de 1887, foi posta a serviço do aspecto religioso do Espiritismo.
      Demonstrada a sua capacidade literária no terreno filosófico e religioso, quer pelas réplicas, quer pelos estudos doutrinários, a Comissão de Propaganda da União Espírita do Brasil, incumbiu-o de escrever, aos domingos, no "O País" tradicional órgão da imprensa brasileira, a série de "Estudos Filosóficos", sob o título "O Espiritismo". O Senador Quintino Bocaiúva, diretor daquele jornal de grande penetração e circulação, "o mais lido do Brasil", tornou-se mesmo simpatizante da Doutrina Espírita. 
      Os artigos de Max, pseudônimo de Bezerra de Menezes, marcaram a época de ouro da propaganda espírita no Brasil. De novembro de 1886 a dezembro de 1893, escreveu ininterruptamente, ardentemente. 
      Da bibliografia de Bezerra de Menezes, antes e após a sua conversão do Espiritismo, constam os seguintes trabalhos: "A Escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para extingui-la sem dano para a Nação", "Breves considerações sobre as secas do Norte", "A Casa Assombrada", "A Loucura sob Novo Prisma", "A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica", "Casamento e Mortalha", "Pérola Negra", "Lázaro - o Leproso", "História de um Sonho", "Evangelho do Futuro". Escreveu ainda várias biografias de homens célebres, como o Visconde do Uruguai, o Visconde de Carvalás, etc.
      Foi um dos redatores de "A Reforma", órgão liberal da Corte, e redator do jornal "Sentinela da Liberdade". 
      Bezerra de Menezes tinha a função de médico no mais elevado conceito, por isso, dizia ele: "Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito qualquer lhe bate à porta. O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou por ser alta hora da noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe ou no morro, o que sobretudo pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro - esse não é médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos de formatura. Esse é um desgraçado, que manda para outro o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu Espírito, a única que jamais se perderá nos vaivéns da vida."

* * *

      Em 1883, reinava um ambiente francamente dispersivo no seio do Espiritismo brasileiro e os que dirigiam os núcleos espíritas do Rio de Janeiro sentiam a necessidade de uma união mais bem estruturada e que, por isso mesmo, se tornasse mais indestrutível. 
      Os Centros, onde se ministrava a Doutrina, trabalhavam de forma autônoma.
      Cada um deles exercia a sua atividade em um determinado setor, sem conhecimento das atividades dos demais. Esse sentimento levou-os à fundação da Federação Espírita Brasileira. 
      Nessa época já existiam muitas sociedades espíritas, porém, as únicas que mantinham a hegemonia de mando eram quatro: a "Acadêmica", a "Fraternidade", a "União Espírita do Brasil" e a "Federação Espírita Brasileira", entretanto, logo surgiram entre elas vivas discórdias. 
      Sob os auspícios de Bezerra de Menezes, e acatando prescrições das importantes "Instruções" recebidas do plano espiritual pelo médium Frederico Júnior, foi fundado o famoso "Centro Espírita", o que, entretanto, não impediu que Bezerra desse a sua colaboração a todas as outras instituições. O entusiasmo dos espíritas logo se arrefeceu, e o velho seareiro se viu desamparado dos seus companheiros, chegando a ser o único freqüentador do Centro. A cisão era profunda entre os chamados "místicos" e "científicos", ou seja, espíritas que aceitavam o Espiritismo em seu aspecto religioso, e os que o aceitavam simplesmente pelo lado científico e filosófico. 
      Em 1893, a convulsão provocada no Brasil pela Revolta da Armada, ocasionou o fechamento de todas as sociedades espíritas ou não. No Natal do mesmo ano Bezerra encerrou a série de "Estudos Filosóficos" que vinha publicando no "O País". 
      Em 1894, o ambiente mostrou tendências para melhora e o nome de Bezerra de Menezes foi lembrado como o único capaz de unificar o movimento espírita.
      O infatigável batalhador, com 63 anos de idade, assumiu a presidência da Federação Espírita Brasileira, cargo que ocupou até a sua desencarnação. 
      Iniciava-se o ano de 1900, e Bezerra de Menezes foi acometido de violento ataque de congestão cerebral, que o prostrou no leito, de onde não mais se levantaria. 
      Verdadeira romaria de visitantes acorria à sua casa. Ora o rico, ora o pobre, ora o opulento, ora o que nada possuía. 
      Ninguém desconhecia a luta tremenda em que se debatia a família do grande apóstolo do Espiritismo. Todos conheciam suas dificuldades financeiras, mas ninguém teria a coragem de oferecer fosse o que fosse, de forma direta. Por isso, os visitantes depositavam suas espórtulas, delicadamente, debaixo do seu travesseiro. No dia seguinte, a pessoa que lhe foi mudar as fronhas, surpreendeu-se por ver ali desde o tostão do pobre até a nota de duzentos mil reis do abastado!...

* * *

      Ocorrida a sua desencarnação, verdadeira peregrinação demandou sua residência a fim de prestar-lhe a última visita. 
      No dia 17 de abril, promovido por Leopoldo Cirne, reuniram-se alguns amigos de Bezerra, a fim de chegarem a um acordo sobre a melhor maneira de amparar a sua família, tendo então sido formada uma comissão que funcionou sob a presidência de Quintino Bocaiúva, senador da República, para se promover espetáculos e concertos, em benefício da família daquele que mereceu o cognome de "Kardec Brasileiro". 

* * *

      Digno de registro foi um caso sucedido com o Dr. Bezerra de Menezes, quando ainda era estudante de Medicina. Ele estava em sérias dificuldades financeiras, precisando da quantia de cinqüenta mil réis (antiga moeda brasileira), para pagamento das taxas da Faculdade e para outros gastos indispensáveis em sua habitação, pois o senhorio, sem qualquer contemplação, ameaçava despejá-lo. 
      Desesperado - uma das raras vezes em que Bezerra se desesperou na vida - e como não fosse incrédulo, ergueu os olhos ao Alto e apelou a Deus. 
      Poucos dias após bateram-lhe à porta. Era um moço simpático e de atitudes polidas que pretendia tratar algumas aulas de Matemática. 
      Bezerra recusou, a princípio, alegando ser essa matéria a que mais detestava, entretanto, o visitante insistiu e por fim, lembrando-se de sua situação desesperadora, resolveu aceitar. 
      O moço pretextou então que poderia esbanjar a mesada recebida do pai, pediu licença para efetuar o pagamento de todas as aulas adiantadamente.
      Após alguma relutância, convencido, acedeu. O moço entregou-lhe então a quantia de cinqüenta mil réis. Combinado o dia e a hora para o início das aulas, o visitante despediu-se, deixando Bezerra muito feliz, pois conseguiu assim pagar o aluguel e as taxas da Faculdade. Procurou livros na biblioteca pública para se preparar na matéria, mas o rapaz nunca mais apareceu. 
      No ano de 1894, em face das dissensões reinantes no seio do Espiritismo brasileiro, alguns confrades, tendo à frente o Dr. Bittencourt Sampaio, resolveram convidar Bezerra a fim de assumir a presidência da Federação Espírita Brasileira. 
      Em vista da relutância dele em assumir aquele espinhoso encargo, travou-se a seguinte conversação: 
      Querem que eu volte para a Federação. Como vocês sabem aquela velha sociedade está sem presidente e desorientada. Em vez de trabalhos metódicos sobre Espiritismo ou sobre o Evangelho, vive a discutir teses bizantinas e a alimentar o espírito de hegemonia. 
      O trabalhador da vinha, disse Bittencourt Sampaio, é sempre amparado. A Federação pode estar errada na sua propaganda doutrinária, mas possui a Assistência aos Necessitados, que basta por si só para atrair sobre ela as simpatias dos servos do Senhor. 
      De acordo. Mas a Assistência aos Necessitados está adotando exclusivamente a Homeopatia no tratamento dos enfermos, terapêutica que eu adoto em meu tratamento pessoal, no de minha família e recomendo aos meus amigos, sem ser, entretanto, médico homeopata. Isto aliás me tem criado sérias dificuldades, tornando-me um médico inútil e deslocado que não crê na medicina oficial e aconselha a dos Espíritos, não tendo assim o direito de exercer a profissão. 
      E por que não te tornas médico homeopata? disse Bittencourt. 
      Não entendo patavinas de Homeopatia. Uso a dos Espíritos e não a dos médicos. 
      Nessa altura, o médium Frederico Júnior, incorporando o Espírito de S. Agostinho, deu um aparte: 
      Tanto melhor. Ajudar-te-emos com maior facilidade no tratamento dos nossos irmãos. 
      Como, bondoso Espírito? Tu me sugeres viver do Espiritismo? 
      Não, por certo! Viverás de tua profissão, dando ao teu cliente o fruto do teu saber humano, para isso estudando Homeopatia como te aconselhou nosso companheiro Bittencourt. Nós te ajudaremos de outro modo: Trazendo-te, quando precisares, novos discípulos de Matemática...


3
ALLAN KARDEC

           Nascido em Lyon, França, no dia 3 de outubro de 1804 e desencarnado em Paris, no dia 31 de março de 1869.       

      Muito se tem escrito sobre a personalidade de Allan Kardec, existindo mesmo várias e extensas biografias sobre a sua obra missionária.
      É sobejamente conhecida a sua vida anteriormente ao dia 18 de abril de 1857, quando publicou a magistral obra "O Livro dos Espíritos", que deu início ao processo de codificação do Espiritismo.
      Nesta súmula biográfica, procuraremos esboçar alguns informes sobre a sua inconfundível personalidade, alguns deles já do conhecimento geral.
      O seu verdadeiro nome era Hippolyte-Léon-Denizard Rivail. "Hippolite" em família; "Professor Rivail" na sociedade e "H-L-D. Rivail" na literatura era, desde os 18 anos mestre colegial de Ciências e Letras, e, desde os 20 anos renomado autor de livros didáticos. Suas obras espíritas foram escritas com o pseudônimo de Allan Kardec.
      Destacou-se na profissão para a qual fora aprimoradamente educado na Suíça, na escola do maior pedagogo do primeiro quartel do século 19, de fama mundial e até hoje paradigma dos mestres: João Henrique Pestalozzi.
      E, em Paris, sucedeu ao próprio mestre.
      Allan Kardec contava 51 anos quando se dedicou à observação e estudo dos fenômenos espíritas, sem os entusiasmos naturais das criaturas ainda não amadurecidas e sem experiência. A sua própria reputação de homem probo e culto constituiu o obstáculo em que esbarraram certas afirmações levianas dos detratores do Espiritismo. Dois anos depois, em 1857, divulgava "O Livro dos Espíritos". Em 1858, iniciava a publicação da famosa "Revue Spirite". Em 1861, dava a lume "O Livro dos Médiuns". Em 1864, aparecia "O Evangelho segundo o Espiritismo"; seguido de "O Céu e o Inferno" em 1865. Finalmente, em 1868 "A Gênesis”, completava o pentateuco do Espiritismo.
      Na ingente tarefa de codificação do Espiritismo, Allan Kardec contou com o valioso concurso de três meninas que se tornaram as médiuns principais no trabalho de compilação de "O Livro dos Espíritos": Caroline Baudin, Julie Baudin e Ruth Celine Japhet. As duas primeiras foram utilizadas para a concatenação da essência dos ensinos espíritas e a última para os esclarecimentos complementares. Ultimada a obra e ratificados todos os ensinamentos ali contidos, por sugestão dos Espíritos, Allan Kardec recorreu a outros médiuns, estranhos ao primeiro grupo, dentre eles Japhet e Roustan, médiuns intuitivos; a senhora Canu, sonâmbula inconsciente; Canu, médium de incorporação; a sra. Leclerc, médium psicógrafa; a sra. Clement, médium psicógrafa e de incorporação; a sra. De Pleinemaison, auditiva e inspirada; sra. Roger, clarividente; e srta. Aline Carlotti, médium psicógrafa e de incorporação.
      Escrevendo sobre a personalidade do ínclito mestre, o emérito Dr. Silvino Canuto Abreu afirmou o seguinte: "De cultura acima do normal nos homens ilustres de sua idade e do seu tempo, impôs-se ao geral respeito desde moço. Temperamento infenso à fantasia, sem instinto poético nem romanesco, todo inclinado ao método, à ordem, à disciplina mental, praticava, na palavra escrita ou falada, a precisão, a nitidez, a simplicidade, dentro dum vernáculo perfeito, escoimado de redundâncias.
      De estatura meã, apenas 165 centímetros, e constituição delicada, embora saudável e resistente, o professor Rivail tinha o rosto sempre pálido, chupado, de zigomas salientes e pele sardenta, castigado de rugas e verrugas. Fronte vertical comprida e larga, arredondada ao alto, erguida sobre arcadas orbitárias proeminentes, com sobrancelhas abundantes e castanhas. Cabelos lisos e grisalhos, ralos por toda a parte, falhos atrás (onde alguns fios mal encobriam a larga coroa calva da madureza), repartidos, na frente, da esquerda para a direita, sem topetes, confundidos, nos temporais, com as barbas grisalhas e aparadas que lhe desciam até o lóbulo das orelhas e cobriam, na nuca, o colarinho duro, de pontas coladas ao queixo. Olhos pequenos e afundados, com olheiras e pápulas. Nariz grande, ligeiramente acavaletado perto dos olhos, com largas narinas entre rictos arqueados e auteros. Bigodes rarefeitos, aparados à borda do lábio, quase todo branco. Pera triangular sob o beiço, disfarçando uma pinta cabeluda. Semblante severo quando estudava ou magnetizava, mas cheio de vivacidade amena e sedutora quando ensinava ou palestrava. O que nele mais impressionava era o olhar estranho e misteriosos, cativante pela brandura das pupilas pardas, autoritário pela penetração a fundo na alma do interlocutor. Pousava sobre o ouvinte como suave farol e não se desviava abstrato para o vago senão quando meditava, a sós. E o que mais personalidade lhe dava era a voz, clara e firme, de tonalidade agradável e oracional, que podia mesclar agradavelmente desde o murmúrio acariciante até as explosões de eloqüência parlamentar. Sua gesticulação era sóbria, educada. Quando distraído, a ler ou a pensar, confiava os "favoris". Quando ouvia uma pessoa, enfiava o polegar direito no espaço entre dois botões do colete, a fim de não aparentar impaciência e, ao contrário, convencer de sua tolerância e atenção. Conversando com discípulos ou amigos íntimos, apunha algumas vezes a destra no ombro do ouvinte, num gesto de familiaridade. Mantinha rigorosa etiqueta social diante das damas."
      Pelo seu profundo e inexcedível amor ao bem e à verdade, Allan Kardec edificou para todo o sempre o maior monumento de sabedoria que a Humanidade poderia ambicionar, desvendando os grandes mistérios da vida, do destino e da dor, pela compreensão racional e positiva das múltiplas existências, tudo à luz meridiana dos postulados do ninfo Cristianismo.
      Filho de pais católicos, Allan Kardec foi criado no Protestantismo, mas não abraçou nenhuma dessas religiões, preferindo situar-se na posição de livre pensador e homem de análise. Compungia-lhe a rigidez do dogma que o afastava das concepções religiosas. O excessivo simbolismo das teologias e ortodoxias, tornava-o incompatível com os princípios da fé cega.
      Situado nessa posição, em face de uma vida intelectual absorvente, foi o homem de ponderação, de caráter ilibado e de saber profundo, despertado para o exame das manifestações das chamadas mesas girantes. A esse tempo o mundo estava voltado, em sua curiosidade, para os inúmeros fatos psíquicos que, por toda a parte, se registravam e que, pouco depois, culminaram no advento da altamente consoladora doutrina que recebeu o nome de Espiritismo, tendo como seu codificados, o educador emérito e imortal de Lyon.
      O Espiritismo não era, entretanto, criação do homem e sim uma revelação divina à Humanidade para a defesa dos postulados legados pelo Meigo Rabi da Galiléia, numa quadra em que o materialismo avassalador conquistava as mais pujantes inteligências e os cérebros proeminentes da Europa e das Américas.
      A primeira sociedade espírita regularmente constituída foi fundada por Allan Kardec, em Paris, no dia 1º de abril de 1858. Seu nome era "Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas". A ela o codificador emprestou o seu valioso concurso, propugnando para que atingisse os nobilitantes objetivos para os quais foi criada.
      Allan Kardec é invulnerável à increpação de haver escrito sob a influência de idéias preconcebidas ou de espírito de sistema. Homem de caráter frio e severo, observava os fatos e dessas observações deduzia as leis que os regem.
      A codificação da Doutrina Espírita colocou Kardec na galeria dos grandes missionários e benfeitores da Humanidade. A sua obra é um acontecimento tão extraordinário como a Revolução Francesa. Esta estabeleceu os direitos do homem dentro da sociedade, aquela instituiu os liames do homem com o universo, deu-lhe as chaves dos mistérios que assoberbavam os homens, dentre eles o problema da chamada morte, os quais até então não haviam sido equacionados pelas religiões. A missão do ínclito mestre, como havia sido prognosticada pelo Espírito de Verdade, era de escolhos e perigos, pois ela não seria apenas de codificar, mas principalmente de abalar e transformar a Humanidade. A missão foi-lhe tão árdua que, em nota de 1º de janeiro de 1867, Kardec referia-se as ingratidões de amigos, a ódios de inimigos, a injúrias e a calúnias de elementos fanatizados. Entretanto, ele jamais esmoreceu diante da tarefa.


4
AMÉRICO MONTAGNINI

           PROF. AMÉRICO MONTAGNINI Nascido na cidade de São João da Boa Vista, Estado de S. Paulo, no dia 1º de maio de 1897, e desencarnado em S. Paulo, no dia 29 de novembro de 1966.

      Na história do Espiritismo paulista um lugar de destaque é reservado ao Prof. Américo Montagnini, quer seja pela sua atuação incessante, quer pelo seu grande esforço em favor do engrandecimento da causa comum que esposamos.
      Montagnini foi presidente da tradicional Associação Espírita São Pedro e São Paulo, uma instituição que prestou inestimáveis serviços ao Espiritismo, numa época quando ele era mal compreendido e olhado por muitos com reservas. Essa associação teve a sua sede na rua Barão de Paranapiacaba nº 7, na capital do Estado de S. Paulo, tendo passado por ela grandes vultos espíritas, dentre eles os Drs. Augusto Militão Pacheco e Pedro Lameira de Andrade.
      Pertencendo ao quadro diretivo dessa famosa entidade espírita, o Prof. Montagnini foi um dos elementos que mais propugnaram para que tanto a Associação Espírita S. Pedro e S. Paulo como a Sociedade Metapsíquica de S. Paulo se extinguissem, fundindo-se numa nova instituição: a Federação Espírita do Estado de S. Paulo, com um programa muito mais vasto e arrojado.
      Desta forma, no dia 12 de julho de 1936, com a fundação da Federação, Montagnini passou a lhe dar todo o concurso possível. Com a renúncia, em 10 de dezembro de 1939, do então presidente da instituição, Dr. João Batista Pereira, Américo Montagnini assumiu a sua presidência, cargo que exerceu com raro descortino até a data da sua desencarnação.
      O trabalho do Prof. Montagnini no campo da divulgação do Espiritismo foi dos mais salientes, entretanto, ele trabalhava em silêncio, sem alardes.
      Médium de apreciáveis recursos foi companheiro do Dr. Augusto Militão Pacheco nas tarefas de esclarecimento daqueles que necessitavam tomar conhecimento dos consoladores ensinamentos dessa Doutrina. Desta forma, além de propiciar novas luzes àqueles que dela necessitavam ele procurava minorar os sofrimentos daqueles que buscavam lenitivo para o corpo alquebrantado.
      Homem dotado de notável senso de responsabilidade, comedido em suas atitudes, leal, de invejável integridade moral, o Prof. Montagnini tornou-se de direito e de fato um dos baluartes no campo da divulgação do Espiritismo no Estado de São Paulo.


5
ANÁLIA FRANCO

           Nascida na cidade de Resende, Estado do Rio de Janeiro, no dia 1º de fevereiro de 1856, e desencarnada em S. Paulo, no dia 13 de janeiro de 1919.

      Seu nome de solteira era Anália Emília Franco. Após consorciar-se em matrimônio com Francisco Antônio Bastos, seu nome passou a ser Anália Franco Bastos, entretanto, é mais conhecida por Anália Franco.
      Com 16 anos de idade entrou num Concurso de Câmara dessa cidade e logrou aprovação para exercer o cargo de professora primária. Trabalhou como assistente de sua própria mãe durante algum tempo. Anteriormente a 1875 diplomou-se Normalista, em S. Paulo.
      Foi após a Lei do Ventre Livre que sua verdadeira vocação se exteriorizou: a vocação literária. Já era por esse tempo notável como literata, jornalista e poetisa, entretanto, chegou ao seu conhecimento que os nascituros de escravas estavam previamente destinados à "Roda" da Santa Casa de Misericórdia. Já perambulavam, mendicantes, pelas estradas e pelas ruas, os negrinhos expulsos das fazendas por impróprios para o trabalho.
      Não eram, como até então "negociáveis", com seus pais e os adquirentes de cativos davam preferência às escravas que não tinham filhos no ventre.
      Anália escreveu, apelando para as mulheres fazendeiras. Trocou seu cargo na Capital de São Paulo por outro no Interior, a fim de socorrer as criancinhas necessitadas. Num bairro duma cidade do norte do Estado de S. Paulo conseguiu uma casa para instalar uma escola primária. Uma fazendeira rica lhe cedeu a casa escolar com uma condição, que foi frontalmente repelida por Anália: não deveria haver promiscuidade de crianças brancas e negras. Diante dessa condição humilhante foi recusada a gratuidade do uso da casa, passando a pagar um aluguel. A fazendeira guardou ressentimento à altivez da professora, porém, naquele local Anália inaugurou a sua primeira e original "Casa Maternal". Começou a receber todas as crianças que lhe batiam à porta, levadas por parentes ou apanhadas nas moitas e desvios dos caminhos. A fazendeira, abusando do prestígio político do marido, vendo que a sua casa, embora alugada, se transformara num albergue de negrinhos, resolveu acabar com aquele "escândalo" em sua fazenda.
      Promoveu diligências junto ao coronel e este conseguiu facilmente a remoção da professora. Anália foi para a cidade e alugou uma casa velha, pagando de seu bolso o aluguel correspondente à metade do seu ordenado.
      Como o restante era insuficiente para a alimentação das crianças, não trepidou em ir, pessoalmente, pedir esmolas para a meninada. Partiu de manhã, à pé, levando consigo o grupinho escuro que ela chamava, em seus escritos, de "meus alunos sem mães". Numa folha local anunciou que, ao lado da escola pública, havia um pequeno "abrigo" para as crianças desamparadas. A fama, nem sempre favorável da novel professora, encheu a cidade. A curiosidade popular tomou-se de espanto, num domingo de festa religiosa. Ela apareceu nas ruas com seus "alunos sem mães", em bando precatório. Moça e magra, modesta e altiva, aquela impressionante figura de mulher, que mendigava para filhos de escravas, tornou-se o escândalo do dia. Era uma mulher perigosa, na opinião de muitos. Seu afastamento da cidade principiou a ser objeto de consideração em rodas políticas, nas farmácias. Mas rugiu a seu favor um grupo de abolicionistas e republicanos, contra o grande grupo de católicos, escravocratas e monarquistas.
      Com o decorrer do tempo, deixando algumas escolas maternais no Interior, veio para S. Paulo. Aqui entrou brilhantemente para o grupo abolicionista e republicano. Sua missão, porém, não era política. Sua preocupação maior era com as crianças desamparadas, o que a levou a fundar uma revista própria, intitulada "Álbum das Meninas", cujo primeiro número veio a lume a 30 de abril de 1898. O artigo de fundo tinha o título "Às mães e educadoras". Seu prestígio no seio do professorado já era grande quando surgiram a abolição da escravatura e a República. O advento dessa nova era encontrou Anália com dois grandes colégios gratuitos para meninas e meninos. E logo que as leis o permitiram, ela, secundada por vinte senhoras amigas, fundou o instituto educacional que se denominou "Associação Feminina Beneficente e Instrutiva", no dia 17 de novembro de 1901, com sede no Largo do Arouche, em S. Paulo.
      Em seguida criou várias "Escolas Maternais" e "Escolas Elementares", instalando, com inauguração solene a 25 de janeiro de 1902, o "Liceu Feminino", que tinha por finalidade instruir e preparar professoras para a direção daquelas escolas, com o curso de dois anos para as professoras de "Escolas Maternais" e de três anos para as "Escolas Elementares".
      Anália Franco publicou numerosos folhetos e opúsculos referentes aos cursos ministrados em suas escolas, tratados especiais sobre a infância, nos quais as professoras encontraram meios de desenvolver as faculdades afetivas e morais das crianças, instruindo-as ao mesmo tempo. O seu opúsculo "O Novo Manual Educativo", era dividido em três partes: Infância, Adolescência e Juventude.
      Em 1º de dezembro de 1903, passou a publicar "A Voz Maternal", revista mensal com a apreciável tiragem de 6.000 exemplares, impressos em oficinas próprias.
      A Associação Feminina mantinha um Bazar na rua do Rosário nº 18, em S. Paulo, para a venda dos artefatos das suas oficinas, e uma sucursal desse estabelecimento na Ladeira do Piques nº 23.
      Anália Franco mantinha Escolas Reunidas na Capital e Escolas Isoladas no Interior, Escolas Maternais, Creches na Capital e no Interior do Estado, Bibliotecas anexas às escolas, Escolas Profissionais, Arte Tipográfica, Curso de Escrituração Mercantil, Prática de Enfermagem e Arte Dentária, Línguas (francês, italiano, inglês e alemão); Música, Desenho, Pintura, Pedagogia, Costura, Bordados, Flores artificiais e Chapéus, num total de 37 instituições.
      Era romancista, escritora, teatróloga e poetisa. Escreveu uma infinidade de livretos para a educação das crianças e para as Escolas, os quais são dignos de serem adotados nas Escolas públicas.
      Era espírita fervorosa, revelando sempre inusitado interesse pelas coisas atinentes à Doutrina Espírita.
      Produziu a sua vasta cultura três ótimos romances: "A Égide Materna", "A Filha do Artista", e "A Filha Adotiva". Foi autora de numerosas peças teatrais, de diálogos e de várias estrofes, destacando-se "Hino a Deus", "Hino a Ana Nery", "Minha Terra", "Hino a Jesus" e outros.
      Em 1911 conseguiu, sem qualquer recurso financeiro, adquirir a "Chácara Paraíso". Eram 75 alqueires de terra, parte em matas e capoeiras e o restante ocupado com benfeitorias diversas, entre as quais um velho solar, ocupado durante longos anos por uma das mais notáveis figuras da História do Brasil: Diogo Antônio Feijó.
      Nessa chácara fundou Anália Franco a "Colônia Regeneradora D. Romualdo", aproveitando o casarão, a estrebaria e a antiga senzala, internando ali sob direção feminina, os garotos mais aptos para a Lavoura, a horticultura e outras atividades agropastoris, recolhendo ainda moças desviadas, conseguindo assim regenerar centenas de mulheres.
      A vasta sementeira de Anália Franco consistiu em setenta e uma Escolas, 2 albergues, 1 colônia regeneradora para mulheres, 23 asilos para crianças órfãs, uma Banda Musical Feminina, 1 orquestra, 1 Grupo Dramático, além de oficinas para manufatura de chapéus, flores artificiais, etc., em 24 cidades do Interior e da Capital.
      Sua desencarnação ocorreu precisamente quando havia tomado a deliberação de ir ao Rio de Janeiro fundar mais uma instituição, idéia essa concretizada posteriormente pelo seu esposo, que ali fundou o "Asilo Anália Franco".
      A obra de Anália Franco foi, incontestavelmente, uma das mais salientes e meritórias da História do Espiritismo.


6
ANTÔNIO GONÇALVES DA SILVA BATUÍRA

            Nascido a 19 de março de 1839, em Portugal, na Freguesia de Águas Santas, hoje integrada no Conselho da Maia, e desencarnado em São Paulo, no dia 22 de janeiro de 1909.

      Completada a sua instrução primária, veio para o Brasil, com apenas onze anos de idade, aportando no Rio de Janeiro, a 3 de janeiro de 1850.
      Seu nome de origem era Antônio Gonçalves da Silva, entretanto, devido a ser um moço muito ativo, correndo daqui para acolá, a gente da rua o apelidara "o batuíra", o nome que se dava à narceja, ave pernalta, muito ligeira, de vôo rápido, que frequentava os charcos na várzea formada, no atual Parque D. Pedro 2º, em S. Paulo, pelos transbordamentos do rio
      Tamanduateí. Desde então o cognome "Batuíra" foi incorporado ao seu nome.
      Batuíra desempenhou uma série de atividades que não cabe registrar nesta concisa biografia, entretanto, podemos afirmar que defendeu calorosamente a idéia da abolição da escravatura no Brasil, quer seja abrigando escravos em sua casa e conseguindo-lhes a carta de alforria, ou fundando um jornalzinho a fim de colaborar na campanha encetada pelos grandes abolicionistas Luiz Gama, José do Patrocínio, Raul Pompéia, Paulo Ney, Antônio Bento, Rui Barbosa e tantos outros grandes paladinos das idéias liberais.
      Homem de costumes simples, alimentando-se apenas de hortaliças, legumes e frutas, plantava no quintal de sua casa tudo aquilo de que necessitava para o seu sustento. Com as economias, adquiriu os então desvalorizados terrenos do Lavapés, em S. Paulo, edificando ali boa casa de residência e, ao lado dela, uma rua particular com pequenas casas que alugava a pessoas necessitadas. O tempo contribuiu para que tudo ali se valorizasse, propiciando a Batuíra apreciáveis recursos financeiros. A rua particular deveria ser mais tarde a Rua Espírita, que ainda lá está.
      Tomando conhecimento das altamente consoladoras verdades do Espiritismo, integrou-se resolutamente nessa causa, procurando pautar seus atos nos moldes dos preceitos evangélicos. Identificou-se de tal maneira com os postulados espíritas e evangélicos que, ao contrário do "moço rico" da narrativa evangélica, como que procurando dar uma demonstração eloqüente da sua comunhão com os preceitos legados por Jesus Cristo, desprendeu-se de tudo quanto tinha e pôs-se a seguir as suas pegadas. Distribuiu o seu tesouro na Terra, para entrar de posse daquele outro tesouro do Céu.
      Tornou-se um dos pioneiros do Espiritismo no Brasil. Fundou o "Grupo Espírita Verdade e Luz", onde, no dia 6 de abril de 1890, diante de enorme assembléia, dava início a uma série de explanações sobre "O Evangelho Segundo o Espiritismo".
      Nessa oportunidade deixara de circular a única publicação espírita da época, intitulada "Espiritualismo Experimental" redigida desde setembro de 1886, por Santos Cruz Junior. Sentindo a lacuna deixada por essa interrupção, Batuíra adquiriu uma pequena tipografia, a que denominou
      "Tipografia Espírita", iniciando a 20 de maio de 1890, a publicação de um quinzenário de quatro páginas com o nome "Verdade e Luz", posteriormente transformado em revista e do qual foi o diretor- responsável até a data de sua desencarnação. A tiragem desse periódico era das mais elevadas, pois de 2 ou 3 mil exemplares, conseguiu chegar até 15 mil, quantidade fabulosa naquela época, quando nem os jornais diários ultrapassavam a casa dos 3 mil exemplares. Nessa tarefa gloriosa e ingente Batuíra despendeu sua velhice. Era de vê-lo, trôpego, de grandes óculos, debruçado nos cavaletes da pequena tipografia, catando, com os dedos trêmulos, letras no fundo dos caixotins.
      Para a manutenção dessa publicação, Batuíra despendeu somas respeitáveis, já que as assinaturas somavam quantia irrisória. Por volta de 1902 foi levado a vender uma série de casas situadas na Rua Espírita e na Rua dos Lavapés, a fim de equilibrar suas finanças.
      Não era apenas esse periódico que pesava nas finanças de Batuíra. Espírito animado de grande bondade, coração aberto a todas as desventuras, dividia também com os necessitados o fruto de suas economias. Na sua casa a caridade se manifestava em tudo: jamais o socorro foi negado a alguém, jamais uma pessoa saiu dali sem ser devidamente amparada, havendo mesmo muitas afirmativas de que "um bando de aleijados vivia com ele". Quem ali chegasse, tinha cama, mesa e um cobertor.
      Certa vez um desses homens que viviam sob o seu amparo, furtou-lhe um relógio de ouro e corrente do mesmo metal. Houve uma denúncia e ameaças de prisão. A esposa de Batuíra lamentou-se, dizendo: "é o único objeto bom que lhe resta". Batuíra, porém, impediu que se tomasse qualquer medida, afirmando: "Deixai-o, quem sabe precisa mais do que eu".
      Batuíra casou-se em primeiras núpcias com D. Brandina Maria de Jesus, de quem teve um filho, Joaquim Gonçalves Batuíra, que veio a desencarnar depois de homem feito e casado. Em segundas núpcias, casou-se com D. Maria das Dores Coutinho e Silva; desse casamento teve um filho, que desencarnou repentinamente com doze anos de idade. Posteriormente adotou uma criança retardada mental e paralítica, a qual conviveu em sua companhia desde 1888.
      Figura bastante popular em S. Paulo, Batuíra tornou-se querido de todos, tendo vários órgãos da imprensa leiga registrado a sua desencarnação e apologiado a sua figura exponencial de homem caridoso e dedicado aos sofredores.


7
ARTUR LINS DE VASCONCELOS LOPES

            Nascido a 27 de março de 1891 na cidade de Teixeira, Estado da Paraíba, e desencarnado em São Paulo, no dia 21 de março de 1952.
            Seu sepultamento ocorreu na cidade de Curitiba, capital do Estado do Paraná.

      O Dr. Artur Lins de Vasconcelos Lopes foi expressiva figura do Espiritismo brasileiro.
      Franco e combativo, jovial e sereno, sincero e leal, bom e caridoso, fazia dessas virtudes uma coisa rotineira em sua vida de relação, sem jamais ostentá-la no convívio com seus companheiros de ideal.
      Foi presidente da "Coligação Nacional Pró-Estado Leigo", instituição republicana fundada em 17 de maio de 1931, a qual desenvolveu ingente trabalho em favor da separação entre a Igreja e o Estado, principalmente por ocasião dos trabalhos constituintes que culminaram com a promulgação da nova Constituição Brasileira, no ano de 1946, tendo enviado numerosas ações cívicas de grande profundidade nos anos subseqüentes.
      O esforço de Lins de Vasconcelos em favor do congraçamento dos espíritas do Brasil foi dos mais salientes, contribuindo de forma decisiva para o advento do Pacto Áureo de unificação dos espíritas do Brasil, no dia 5 de outubro de 1949. A ele se deve apreciável parcela dos trabalhos encetados nos anos de 1947 a 1952, em favor de um maior entrelaçamento entre os espíritas em nosso país.
      Do jornal "Mundo Espírita", que se edita em Curitiba, extraímos os seguintes dados biográficos desse grande vulto do Espiritismo brasileiro:
      "A batalha travada por Lins de Vasconcelos foi ingente, árdua e heróica.
      Nascido numa região áspera, princípio geográfico da caatinga, entre Paraíba e Pernambuco, era natural que Artur Lins trouxesse no Espírito a agressividade do berço agreste. Lutando, todavia, contra o meio, aprimorando qualidades, resistindo aos meios desonestos de ganho, foi abrindo um caminho limpo para a vida. Ainda na adolescência, Lins deixou a Paraíba para residir no Rio de Janeiro. Na antiga Capital Federal a demora foi curta.
      Imaturo, com aquela ânsia de aventuras próprias da idade, e também ávido de conhecimento, Lins partiu para o sul do país, fixando-se em Curitiba.
      Constituiu família; formou-se em agronomia; fez concurso para cartorário.
      Sua vida seguiu firme. Tornou-se espírita, integrando-se totalmente na doutrina. Em 1926 houve grave incidente entre o governo do Estado e elementos liberais, por questões religiosas. É que o governo estadual, sem autorização da Assembléia, presenteara terrenos e dinheiro do patrimônio público ao clero. Pequeno número de cidadãos protestou contra o ato indébito do governo. Entre eles estava Lins de Vasconcelos. Este defendeu, de forma corajosa, perante o governo, que os princípios tutelares da democracia são inderrogáveis ainda ao arbítrio dos governadores. Aquela posição destemida de Lins na questão dos bispados acarretou-lhe demissão do cargo. Vencera o fanatismo religioso; sobrepunha-se a intolerância ao direito intangível de um democrata. E sobrava razão a Lins: o governo não    podia dar ao clero, de mão beijada, terrenos e dinheiro do Estado.
      Uma vez demitido, Lins não se deixou abater pela sanha intolerante.
      Colocou suas energias na indústria. Venceu. Tornou-se milionário. Mas o dinheiro que amealhava facilmente como ele próprio dizia - era um depósito que lhe fazia Deus para o distribuir aos pobres, através do Espiritismo. Fez-se banqueiro dos desafortunados!
      Era simples e sem vaidades. O que mais se admirava em Artur era o triunfo do seu Espírito sobre uma das mais terríveis provas a que uma criatura pode submeter-se: a riqueza! Rico, mais do que rico, opulento, Lins de Vasconcelos venceu galhardamente o fascínio do ouro, esmagou o poderio que a fortuna traz, afogou no nascedouro os gozos efêmeros que o dinheiro carreia. A moeda que lhe vinha dos negócios era destinada às creches, a orfanatos, a albergues, a sanatórios, a escolas, a revistas e a jornais doutrinários.
      Há lindos lances, de puro Cristianismo, na vida de Artur Lins de Vasconcelos, mas relatá-los seria, por certo ferir a humildade do nosso querido irmão desencarnado. Basta chamar-lhe: Banqueiro dos Pobres! É um título magnificente que milhões e milhões de desencarnados gostariam de possuir. Arthur Lins de Vasconcelos obteve esse título em vida, abençoado por milhares de bocas!
      Lins de Vasconcelos não se empolgou com seus sucessos mundanos. Fez, isso sim, da riqueza material, instrumento para a realização do Bem. Foi bom, vestindo os desnudos, dando de comer aos esfomeados, instrução e educação aos que dessa assistência precisavam.
      Tendo desencarnado em S. Paulo, seu corpo foi para Curitiba “cidade que tanto amou” e em cujo solo desejava que sua matéria repousasse no dia que o Pai o chamasse. Seu pedido foi satisfeito. Assim, no Jardim em frente ao Pavilhão Administrativo do Sanatório Bom Retiro, no bairro do Pilarzinho, em Curitiba, encimado por uma pedra simples, mas que revela bom gosto, na qual há uma placa de bronze com expressiva inscrição, foi inumado o corpo do querido companheiro de ideal espírita, aquele que tantas lutas sustentou ante a incompreensão dos homens, para que a Doutrina dos Espíritos demonstrasse ser capaz de transformar as criaturas desajustadas em seres com capacidade para amar o próximo, assim como Jesus nos amou.
      A Federação Espírita do Paraná, que tantos benefícios recebeu de Lins de Vasconcelos, prestou-lhe ultimamente significativa homenagem, dando seu respeitável e inesquecível nome ao educandário que naquele bairro mantém, no momento, funcionando com o curso ginasial, o Instituto "Lins de Vasconcelos".


8
AUGUSTO MILITÃO PACHECO

           Nascido no dia 13 de junho de 1866 e desencarnado em São Paulo, a 7 de julho de 1954.

      Muito deve o Espiritismo ao Dr. Augusto Militão Pacheco, pelo testemunho que deu da Doutrina dos Espíritos. Animado de uma fé imorredoura na vida espiritual conseguiu prelibar, através da existência transitória do corpo, a vida imortal do Espírito imperecível.
      Formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, no ano de 1904, Militão Pacheco foi nesse mesmo ano convidado a ir ao Estado do Maranhão a fim de ajudar a debelar um surto de peste bubônica que grassava naquela região do norte do Brasil. Apesar de não contar com qualquer espécie de hospital de isolamento nem com condições adequadas para o combate àquela enfermidade contagiosa, dirigiu-se para lá em companhia do diretor do Hospital de Isolamento de S. Paulo, dois médicos mineiros e mais um outro, conseguindo marcante sucesso na tarefa. Nessa altura foi convidado para ser diretor do Serviço Sanitário do Estado do Maranhão pelo período de dois anos. Para lá transferiu-se com sua esposa e três filhos, porém, renunciou após oito meses de atividades intensas, por não ver atendidas as suas reivindicações, imprescindíveis para o bom andamento dos serviços.
      Nos primeiros anos do presente século (não nos foi possível comprovar se em 1901 ou 1902), comparecendo a uma sessão espírita, ali lembrou-se de sua filhinha desencarnada com apenas cinqüenta e dois dias de vida e formulou ardente solicitação mental para que ela viesse beijá-lo. Sem que tivesse qualquer conhecimento do desejo que alimentava, os médiuns videntes que ali estavam presentes, decorridos alguns minutos descreveram que o Espírito da menina havia se dirigido ao pai e ali estava cobrindo-o de beijos. Esse testemunho foi o suficiente para que Militão Pacheco se convertesse ao Espiritismo.
      Um outro fato veio mudar o rumo de sua vida, Sua esposa sofria, há alguns anos, de pertinaz enfermidade e, para curá-la havia ele esgotado todos os recursos que a medicina alopática lhe havia proporcionado. Visitando a família do Juiz de Direito, de Campinas, ela teve ali uma das suas crises.
      A esposa do juiz pediu permissão para recomendar-lhe um remédio homeopático. O remédio foi comprado e o tratamento iniciado. Após essa ocorrência ela teve apenas duas ameaças de crise e o mal desapareceu por completo. O Dr. Pacheco, que vinha exercendo a medicina alopática há cinco anos, procurou o único médico homeopata existente em Campinas, iniciando assim um estudo profundo sobre a homeopatia, para o que conseguiu alguns livros a título de empréstimo. Dali por diante deixou por completo de praticar a medicina alopática.
      No dia 23 de julho de 1896, através de decreto assinado pelo então presidente do Estado de S. Paulo, Jorge Tibiriçá e por Gustavo de Oliveira Godoy, Militão Pacheco foi nomeado, em comissão, para exercer o cargo de inspetor sanitário do Estado, cargo no qual foi efetivado a 26 de setembro do mesmo ano, exercendo-o até 1920, quando se aposentou.
      Durante mais de meio século, o Dr. Pacheco exerceu na capital paulista o apostolado da Medicina. E dizemos apostolado porque foi notável médico no sentido cordial, humanitário, prestativo, dedicando-se inteiramente à tarefa de auxiliar o seu próximo, conseguindo desta forma realizar gigantesco trabalho de assistência individual e coletiva como poucos conseguiram realizar na Terra. O prestigioso jornal "Diário de S. Paulo", em sua edição de 27 de junho de 1944, publicou extensa reportagem sobre as festividades comemorativas do cinqüentenário de formatura e de exercício de profissão do Dr. Augusto Militão Pacheco. Através de numerosos discursos proferidos na oportunidade, pudemos conhecer verdadeiros rasgos de generosidade e de amor, partidos da figura inconfundível daquele que tinha em alta conta a dignidade humana e o sacerdócio da Medicina.
      Foi sempre de incomparável bondade no tratamento de todos os seus incontáveis clientes, retornando ao mundo espiritual abençoado por milhares de corações, legando aos homens uma vida que se constituiu em verdadeiro modelo de virtude, um exemplo incomparável de beleza moral, emanada de um caráter reto e de uma decisão inquebrantável. Muitas pessoas que não podiam pagar consultas, eram atendidas com igual dedicação e não raras voltavam com o auxílio financeiro para a aquisição dos remédios prescritos por aquelas mãos abençoadas. No terreno filosófico, conquanto fosse grande admirador de geniais pensadores de várias escolas, pois era um cidadão independente e portador de invejável cultura intelectual e científica, nunca negou a sua incondicional dedicação à Doutrina Espírita, tornando-se um dos espíritas mais respeitáveis e dignos em nosso Estado e mesmo no Brasil. Médico essencialmente homeopata, honrou e dignificou a medicina hahnemaniana, tendo consagrado ao Espiritismo o melhor de sua nobilitante e proveitosa existência. Era na realidade autêntica fonte inexgotável destinada a suavizar as dores do corpo e minorar os sofrimentos da alma.
      Em julho de 1936, quando se cogitou da fundação da Federação Espírita do Estado de S. Paulo, foi um dos elementos que mais propugnaram para essa realização. A reunião convocada para apreciar a redação final dos estatutos sociais e proceder à eleição da primeira diretoria, foi por ele presidida, passando a figurar como um dos seus sócios fundadores e sido eleito vice-presidente da primeira diretoria constituída. Durante muitos anos foi presidente da Associação Espírita São Pedro e São Paulo, uma das mais prestigiosas instituições espíritas de seu tempo, a qual posteriormente veio a se integrar na Federação.


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AURORA A. DE LOS SANTOS DE SILVEIRA

            Aurora A. de los Santos de Silveira, pioneira espírita uruguaia, nasceu no dia 28 de agosto de 1890 e desencarnou no dia 10 de agosto de 1969, em Montevidéu.

      O Espiritismo uruguaio muito deve a essa mulher idealista, que através do seu exemplo e dedicação contribuiu para fazer germinar, naquela nação, a semente generosa da Doutrina dos Espíritos.
      Sofrendo as agruras de prisões e da separação dos filhos revelou a sua fibra de missionária, não deixando jamais o desempenho de uma tarefa apostólica que a impulsionava, e que culminou com a fundação de uma instituição espírita que também se tornou a pioneira naquela pátria irmã.
      Filha de José Fabrício dos Santos, brasileiro, e Petrona Tejera, espanhola, Aurora morava no Departamento da Rivera, na República Oriental do Uruguai, motivo que a levou a cursar apenas um ano da escola primária.
      Sua vida foi repleta de dificuldades e sacrifícios junto a seus familiares, nos afazeres da agricultura. Desde pequena se revelaram nela fenômenos mediúnicos de vidência, que seus pais procuravam reprimir, por desconhecer sua verdadeira causa e por temerem que ela enveredasse pelo caminho da loucura.
      Foi mãe extremosa de 7 filhos, em dois matrimônios. Em 1933 desencarnou o seu segundo esposo, Gervásio Silveira, deixando-a na maior penúria com absoluta falta de recursos, o que a levou, juntamente com seus filhos, a passar por angustiosa fase.
      Nesses momentos de grandes aflições, conheceu uma senhora de nome Valentina, que lhe deu alguns folhetos e revistas espíritas. A leitura dessas publicações atuou como verdadeiro bálsamo, preenchendo uma grande lacuna naquele Espírito bondoso e abnegado.
      Cheia de fé e esperança, Aurora começou a levar os seus filhos a pequenos Centros Espíritas que existiam nas cidades de Rivera e Livramento, na fronteira entre o Brasil e Uruguai, sentindo-se daí por diante bastante aliviada em suas angústias, dedicando-se à leitura de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Allan Kardec.
      No dia 5 de julho de 1935, transferiu seu domicílio para a capital uruguaia, em busca de melhores condições econômicas, passando a trabalhar como costureira.
      Em Montevidéu, certo dia, estando muito cansada e aflita, pediu a seu filho Baltazar que lesse o único livro espírita que possuía, "O Evangelho Segundo o Espiritismo", ocasião em que se manifestou um espírito que, diante do assombro do moço, apenas disse: "Não temais, venho para ajudar-vos", solicitando que procurassem reunir três ou quatro pessoas, quando então voltaria.
      Ao despertar, Aurora inteirou-se daquela solicitação e, no dia seguinte promoveu a reunião, segundo a vontade expressa pelo espírito comunicante, que deu o nome de "Bon Ajou".
      Após a realização dessa sessão, Aurora teve desabrochada a sua mediunidade, passando a fazer curas assombrosas de cegos, paralíticos, cancerosos e de uma série de pessoas desenganadas pela medicina oficial.
      Sua fama se expargiu e doentes vinham de todos os lugares em busca da
cura.
      Nessa época o Espiritismo no Uruguai era praticamente desconhecido e Aurora foi acusada de exercício ilegal da Medicina, sendo presa e recolhida a uma prisão de mulheres, onde permaneceu durante 6 meses. Seus filhos foram parar nos mais diversos lugares, inclusive em orfanatos.
      Terminada a sentença, abandonou a prisão, debilitada e abatida, porém isso não impediu que dentro de poucos dias voltasse ao mesmo lugar, reiniciando o seu trabalho apostólico, ajudando os seus irmãos mais necessitados e lutando pela divulgação dos ideais espíritas.
      Após grandes lutas conseguiu ver realizado o seu sonho, obtendo personalidade jurídica para uma instituição que fundou, o "Centro Evangélico Espiritual Hacia la Verdad", sociedade beneficente cuja inauguração ocorreu em 31 de maio de 1944, e cuja sede própria foi levantada em 1950, na Avenida General Flores, 4.689, em Montevidéu. Tudo isso através do seu esforço, coadjuvado por um livro e um Espírito amigo.
      Os dados acima foram obtidos por intermédio de Baltazar Silveira, filho da grande pioneira, entretanto, a título de subsídios biográficos, transcreveremos abaixo o que o erudito escritor e orador brasileiro, Newton Boechat, escreveu sobre essa notável batalhadora, em outubro de
      1966, quando ela ainda estava entre nós:
      "D. Aurora de los Santos de Silveira, pioneira no Movimento Espírita Uruguaio, médium notável e destemida, hoje repousando das lutas de antanho, quando era vigoroso seu organismo físico. Enfrentou, vezes inúmeras, o cárcere, a perseguição, os ataques de adversários terríveis, para evidenciar a Mensagem Espírita: o "Hacia la Verdad", é o fruto de seus labores em função do Bem, obtendo, finalmente, personalidade jurídica desde 1944.
      A venerada sra., junto à lareira da residência de Canellones, muito nos contou das lutas de outrora, com seus ardís e embargos, mas que não lhe puderam frustrar a perseverança.
      Hoje, o "Hacia la Verdad" é organização respeitável, com centenas de sócios, em sede confortável de 200 butacas (poltronas) e preciosa biblioteca. Seu auditorium lembra o da "Confederação Espírita João Evangelista" da Penha, no Rio de Janeiro.
      D. Aurora, quando mais tarde for escrita a Historia do Espiritismo Uruguaio, em seus pródromos, aparecerá como inesquecível criatura que, quase só, não poupou esforços na hora do testemunho.
      Ela é lá o que o Dr. Bezerra, Sayão, Bittencourt, Caírbar, Eurípedes, Lins, Olímpio Teles, Petitinga, Batuíra e tantos outros que já desencarnaram, foram aqui.
      Nós, espiritistas brasileiros, devemos envolver o nome de d. Aurora de los Santos Silveira, em nosso carinhoso respeito. Que no silêncio de sua residência em Canellones, meditando nas lutas sublimes de outros tempos, junto à lareira amiga e ao chimarrão de que tanto gosta, receba o rocio de nossas irradiações".


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BENEDITO GODOY PAIVA

            Nascido em S. Paulo no dia 19 de abril de 1885, e desencarnado na mesma cidade, aos 17 de maio de 1962.

      Durante mais de vinte e cinco anos, um orador era invariavelmente requisitado para a maior parte das festividades de cunho espírita realizadas em São Paulo.
      Sua palavra tinha o mérito de atrair numerosa assistência, pois, além de abalizado conferencista, possuía um estilo todo peculiar de proferir suas locuções, iniciando-as com um conto, um apólogo ou uma anedota de cunho singelo, que preparava os espíritos dos presentes, predispondo-os à assimilação dos ensinamentos contidos no tema que iria ser abordado.
      Por isso dizia ele: "Em nossa longa peregrinação pelas tribunas espíritas, pelas estações de rádio e pela imprensa espírita, a falar sobre o Evangelho de Jesus, sempre fizemos o possível para não enfastiar os ouvintes ou os leitores com longas e pesadas dissertações sobre a Doutrina espírita, achando preferível prender-lhes a atenção por meio de outro processo, qual o de buscar na vida prática fatos ou exemplos elucidativos dos temas abordados, ainda que por vezes pecando contra a sisudez de alguns confrades pouco amantes de literatura desse gênero. Para se trazer uma assistência atenta, nada melhor do que entremear a palestra com a narração de fatos interessantes e por vezes cônscio da vida de sociedade, elucidativos do tema a ser abordado.
      Nenhum mal há nisso, para a propaganda e compreensão da Doutrina Espírita.
      O espírita deve ser alegre e nunca um indivíduo avesso ao riso, às alegrias sãs, aos divertimentos inofensivos, nunca devendo imitar aqueles frades da Ordem do Silêncio que, proibidos de falar, só podiam dizer ao se encontrarem: "Irmão! Lembra-te da morte!"

* * *

      Esse emérito espírita chamava-se Benedito Godoy Paiva. Foi um homem de ilibado caráter, franco e leal, dotado de invejável operosidade.
      Anteriormente ao ano de 1941, pertenceu ao quadro diretivo da União Federativa Espírita Paulista, ali desenvolvendo intenso trabalho de divulgação da Doutrina Espírita, fazendo-o através da imprensa e do rádio.
      Nesse mesmo ano passou a prestar serviços no corpo de colaboradores da Federação Espírita do Estado de São Paulo, onde teve grande destaque e exerceu numerosas atividades, pois, além de orador oficial, foi diretor do Departamento Cultural e Social e membro do Conselho Deliberativo, ajudando Pedro de Camargo Vinícius, a instituir as Tertúlias Evangélicas substituindo-o em seus impedimentos todos os domingos de manhã. Colaborou decididamente na fundação da Escola de Aprendizes do Evangelho e de outros cursos ministrados por aquela instituição, assessorando os trabalhos de preparação de apostilas e livros para os aludidos cursos.
      Em 1947 tomou parte saliente na fundação da União das Sociedades Espíritas do Estado de S. Paulo, formando a Comissão da Redação Final das deliberações do 1º Congresso Espírita do Estado de São Paulo e integrando o primeiro Conselho Deliberativo daquela entidade.
      Os dados biográficos que se seguem foram obtidos da Professora Zilda de Paiva Barbosa, uma das filhas daquele grande seareiro.
      Benedito Godoy Paiva enviuvou duas vezes, deixando sete filhos, netos e bisnetos. Aos 16 anos de idade, após ter feito o Curso Ginasial no Externato Molina, estudou e completou os cursos de geometria, matemática e de língua inglesa, ingressando então como funcionário da Estrada de Ferro Sorocabana, em 1901. Entretanto, fez ainda o curso de Contador na Academia de Comércio do Brasil, a qual freqüentou à noite, passando depois a trabalhar em horas extras como guarda-livros, a fim de equilibrar a economia do lar.
      Aposentou-se após 46 anos de serviço naquela ferrovia, deixando uma grande folha de inestimáveis serviços a ela prestados, com toda dedicação e eficiência.
      Fez carreira brilhante de praticante a assessor administrativo, chegando a Chefe do Escritório do Tráfego e Chefe Geral do Expediente do Departamento dos Transportes, onde recebeu elogios em sua folha corrida.
      Tomou parte em inquéritos administrativos e em outras comissões que lhe foram confiadas, por conhecer profundamente todos os regulamentos e ordens expedidas pelas administrações anteriores.
      Foi jornalista, colaborando na imprensa religiosa e profana, sendo redator de uma das colunas do "Diário de São Paulo".
      Como poeta e charadista colaborou em "Nossa Estrada", revista cujo nome foi sugerido por ele e aceito por votação por todo o pessoal da Sorocabana.
      Era músico. Executava cerca de seis instrumentos, porém, a sua predileção era pela flauta. Compôs diversas músicas e foi seresteiro. Fazia serenatas sob as janelas, nos tempos da velha São Paulo.
      Freqüentou a Igreja Evangélica, onde era organista e regente do coro.
      Na ata de fundação da 3ª Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo o seu nome consta, em primeiro lugar, como fundador.
      Conhecia profundamente as Escrituras e dos Evangelhos tirou ensinamentos sublimes que o nortearam em toda a sua vida, tão útil à família e à Humanidade.
      Convertendo-se ao Espiritismo, tomou parte inicialmente na União Federativa e posteriormente na Federação Espírita do Estado de São Paulo, deixando a Igreja Presbiteriana de onde solicitou afastamento, escrevendo uma carta ao seu grande amigo, Rev. Dr. Seth Ferraz, pastor da 3a. Igreja, expondo os motivos que o levavam a se afastar do seio daquela comunidade, uma vez que os ensinamentos da Igreja condenam o Espiritismo, doutrina baseada na reencarnação e na evolução dos Espíritos.
      Foi uma nova fase em sua vida. Dedicou-se inteiramente à Doutrina Espírita.
      Fez inúmeras conferências, cujos auditórios eram repletos quando ele ocupava a tribuna.
      Baseado nessas conferências editou o livro "Quando o Evangelho diz Não!"
      Publicou diversos folhetos, entre eles "Quais os que entrarão no céu" e "A Verdade vos Libertará".
      Escreveu poesias diversas: "A Reencarnação", "Saudades do Marido", "As Três Cruzes", "A Mulher Pecadora", "O Juízo Final", "O Bom Samaritano", "Salvação pela Fé", "O Sonho da Princesa" e, com Cid Franco, escreveu o poema "Avatar".
      Revisou "A Grande Síntese", livro mediúnico de Pietro Ubaldi e, em parceria com Emílio Manso Vieira, escreveu o "Manual do Dirigente de Sessões Espíritas".
      No dia de sua desencarnação, à sua cabeceira estiveram presentes três representantes de correntes religiosas: um pastor evangélico, um bispo da Igreja Católica Brasileira e um membro da Federação Espírita do Estado de São Paulo. Todos lhe tributaram adeus com o mesmo carinho.


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CAÍRBAR SCHUTEL

            Nascido na cidade do Rio de Janeiro, a 22 de setembro de 1868 e desencarnado em Matão, Estado de S. Paulo, no dia 30 de janeiro de 1938.

      No dealbar do século 20, quando eram ensaiados os primeiros passos no grandioso programa de divulgação do Espiritismo, e quando a Doutrina dos Espíritos era vista como uma novidade que vinha abalar os conceitos até então prevalecentes sobre a imortalidade da alma e a comunicabilidade dos Espíritos, dentre os pioneiros da época, surgiu um vulto que se destacou de forma inusitada, fazendo com que a difusão da nova Doutrina tivesse uma penetração até então desconhecida.
      O nome desse seareiro era Caírbar de Souza Schutel, nome esse que se impôs, em pouco tempo, ao respeito e consideração de todos. Ele jamais esmoreceu no propósito de fazer com que a nova revelação, que vinha fazer o mundo descortinar novos horizontes e prometia restaurar, na Terra, as primícias dos ensinamentos legados por Jesus Cristo quase vinte séculos antes, pudesse conquistar os corações dos homens, implantando-se na face do nosso planeta como uma nova força cujo objetivo básico era de extirpar o fantasma do materialismo avassalador.
      Biografar um vulto dessa estirpe não é fácil tarefa, uma vez que as suas atividades não conheciam limitações nem eram bitoladas por conveniências de grupos ou de pessoas. Conseqüentemente, tudo aquilo que se disser sobre Caírbar Schutel não passa de uma súmula muito apagada de uma vida cheia de lutas, de percalços e sobretudo de ardente idealismo.
      Registraremos, entretanto, alguns dados biográficos desse insigne batalhador espírita:
      Caírbar de Souza Schutel, aos nove anos de idade, ficava órfão de pai e, seis meses após, de mãe. Seu avô, Dr. Henrique Schutel, interessou-se pela sua educação, matriculando-o no Colégio Nacional, depois Colégio D. Pedro 2º, onde estudou durante dois anos.
      Animado de novos propósitos, abandonou os estudos e a casa do avô, passando a trabalhar como prático em farmácia, o que fez com que, aos 17 anos de idade já se tornasse respeitável profissional desse ramo. Nessa época abandonou a antiga Capital Federal e rumou para o Estado de S. Paulo, onde se localizou primeiramente em Piracicaba e logo após em Araraqüara e Matão. Esta última cidade era então um lugarejo muito singelo, com poucas casas e dependendo quase que exclusivamente do comércio de Araraqüara, a cujo município pertencia.
      Nessa humilde cidade, Caírbar Schutel acalentou o propósito de servir à coletividade, o que fez com que batalhasse arduamente para que Matão subisse à categoria de Município. Conseguindo colimar esse desiderato, foi eleito seu primeiro Prefeito.
      Homem dotado de ilibado caráter, de ampla visão e de grande humildade, conseguiu conquistar os corações de todos. Na política não enfrentava obstáculos. Deve-se a ele a edificação do prédio da Câmara Municipal, o que fez com seus próprios recursos financeiros.
      A política, no entanto, não era o seu objetivo, por isso, tão logo ele teve a sua Estrada de Damasco, representada pela sua conversão ao Espiritismo, abandonou esse campo, passando a dedicar-se inteiramente à nova Doutrina.
      Conheceu o Espiritismo através de Manoel Pereira do Prado, mais conhecido por Manoel Calixto, que na época era um dos poucos e o mais destacado espírita do lugar. Embora não sendo profundo conhecedor dos princípios básicos da Codificação Kardequiana, Manoel Calixto conseguiu impressionar o futuro apóstolo, com uma mensagem mediúnica de elevado cunho espiritual, recebida por seu intermédio.
      Em seguida a esse episódio, Caírbar integrou-se no conhecimento das obras fundamentais da Doutrina Espírita e, tão logo se sentiu compenetrado daquilo que ela ensina, fundou, no dia 15 de julho de 1904, o primeiro núcleo espírita da cidade e da zona, denominando-o "Centro Espírita Amantes da Pobreza".
      Não satisfeito com essa arrojada realização, no mês de agosto de 1905, lançou a primeira edição do jornal "O Clarim", órgão esse que vem circulando desde então e que se constituiu, de direito e de fato, num dos mais tradicionais e respeitáveis veículos da imprensa espírita.
      Numa época quando pontificava verdadeira intolerância religiosa e quando o Espiritismo e outras religiões sofriam o impacto da ação exercida pela religião majoritária, Caírbar Schutel também teve o seu Calvário: um sacerdote reacionário e profundamente intolerante, resolveu promover gestões no sentido de fechar as portas do Centro Espírita, usando como arma ardilosa uma campanha persistente no sentido de fazer com que a farmácia de Caírbar fosse boicotada pelo povo.
      Com o apoio do delegado de polícia, conseguiu deste a ordem para o fechamento do Centro onde se difundia o Espiritismo. Caírbar Schutel, no entanto, não era dos que se intimidam e, contra o padre e o delegado,
      levantou a barreira da sua autoridade moral e da sua coragem. A ordem do delegado não foi respeitada por atentar contra a letra da Constituição Federal de 1891, e o valoroso espírita foi à praça pública protestar contra tamanho desrespeito. O padre, não tolerando aquela manifestação promovida por Caírbar, também promoveu uma passeata de desagravo. Outros sacerdotes, nessa época, já estavam em Matão, apregoando a necessidade de se manter o "herético" circunscrito, de nada se adquirirem sua farmácia, e, sobretudo proibindo a todos a freqüência ao Centro Espírita.
      Em face da tremenda pressão exercida, Caírbar anunciou que falaria ao povo em praça pública, refutando ponto por ponto todas as acusações gratuitas que lhe eram atribuídas pelos sacerdotes. O delegado proibiu-o de falar.
      Caírbar não acatou a proibição do delegado e, estribando-se na Constituição, dirigiu-se para a praça pública, falando aos poucos que, não temendo as represálias do padre, tiveram a coragem de lá comparecer.
      Este, por sua vez, expressou a idéia de que, se a liberalíssima Constituição brasileira permitia esse direito a Caírbar, a Igreja de forma alguma consentiria e, aliciando um grupo de homens fanatizados, marchou para a praça pública, cantando hinos e cantorias fúnebres, portando, além disso, vários tipos de armas. O objetivo da procissão noturna era de abafar a voz do orador e atemorizar o povo.
      Essa barulhenta manifestação provocou a repulsa de algumas pessoas cultas da cidade, as quais, dirigindo-se à praça, pediram a aquiescência do orador para, de público, manifestarem a desaprovação àquelas manifestações e responsabilizando o padre pelas conseqüências danosas daquele desrespeito à Carta Magna, afirmando que o orador tinha todo o direito de falar e de se defender. Diante dessa reação, o padre ficou assombrado e decidiu dispersar os acompanhantes, o que possibilitou a Caírbar prosseguir na defesa dos seus direitos e dos seus ideais.
      Caírbar sabia ser amigo até dos seus próprios inimigos. Sempre inspirava simpatia e respeito. Sempre feliz no seu receituário, tornou-se, dentro em pouco, o Médico dos Pobres e o Pai da Pobreza, de Matão. Além de prescrever o medicamento, ele o dava gratuitamente aos necessitados. Sua residência tornou-se um refúgio para os pobres da cidade. Muitas pessoas eram socorridas pela sua generosidade. Muitos recebiam socorros da mais variada espécie, em víveres, em roupas e sobretudo assistência espiritual.
      O sentimento de amor ao próximo teve nele incomparável paradigma. Estava sempre solícito e pronto para socorrer um enfermo ou um obsediado. Atos de renúncia e de desapego eram comuns em sua vida. Sua residência chegou a ser transformada em hospital de emergência para doentes mentais e obsediados. Em vista do crescente número de enfermos, em 1912 alugou uma casa mais ampla, na qual tratava com maiores recursos e com mais liberdade todos aqueles que apelavam para a sua ajuda fraternal.
      No dia 15 de fevereiro de 1925, lançou o primeiro número da "Revista Internacional de Espiritismo", órgão que desde então vem circulando sem solução de continuidade.
      Quando foi rasgada a Constituição ultra- liberal de 1891, Caírbar Schutel foi à praça pública apoiando a Coligação Nacional Pró- Estado Leigo, entidade fundada no Rio de Janeiro pelo Dr. Artur Lins de Vasconcelos Lopes. Nesse propósito combateu sistematicamente a pretensão, esposada por alguns grupos, de se introduzir o ensino religioso obrigatório nas escolas. Certa vez programou uma reunião num cinema de cidade vizinha para abordar esse tema. Na hora aprazada ali estavam apenas alguns dos seus amigos, dentre eles José da Costa Filho e João Leão Pitta. Caírbar não se perturbou. Mandou comprar meia dúzia de foguetes e soltou-os à porta do cinema. Daí a 20 minutos o recinto estava repleto.
      Foi pioneiro no lançamento de programa espírita pelo rádio, pois em 1936 inaugurou, pela PRD- 4 - Rádio Cultura de Araraqüara, uma série de palestras que mais tarde publicou num volume de 206 páginas.
      Como jornalista escreveu muito. Durante muito tempo manteve uma secção de crônicas e reportagens no "Correio Paulistano" e na "Platéia", antigos órgãos da imprensa leiga.
      Sua bibliografia é bastante vasta, dela destacamos as seguintes obras:
      "Espiritismo e Protestantismo", "Histeria e Fenômenos Psíquicos", "O Diabo e a Igreja", "Médiuns e Mediunidade", "Gênese da Alma", "Materialismo e Espiritismo", "Fatos Espíritas e as Forças X", "Parábolas e Ensinos de Jesus", "O Espírito do Cristianismo", "A Vida no Outro Mundo", "Vida e Atos dos Apóstolos", "Conferências Radiofônicas", "Cartas a Esmo" e "Interpretação Sintética do Apocalipse".
      Fundou também a Empresa Editora "O Clarim", que passou a editar livros de outros autores.
      Caírbar Schutel foi um homem de fé, orador convincente, trabalhador infatigável, dinâmico, realizador e portador dos mais vivificantes exemplos de virtude cristã.


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CAMILLE FLAMMARION

            Nascido em Montigny-Le-Roy, França, no dia 26 de fevereiro de 1842, e desencarnado em Juvissy no mesmo país, a 4 de junho de 1925.

      Flammarion foi um homem cujas obras encheram de luzes o século 19. Ele era o mais velho de uma família de quatro filhos, entretanto, desde muito jovem se revelaram nele qualidades excepcionais. Queixava-se constantemente que o tempo não lhe deixava fazer um décimo daquilo que planejava. Aos quatro anos de idade já sabia ler, aos quatro e meio sabia escrever e aos cinco já dominava rudimentos de gramática e aritmética.
      Tornou-se o primeiro aluno da escola onde freqüentava.
      Para que ele seguisse a carreira eclesiástica, puseram-no a aprender latim com o vigário Lassalle. Aí Flammarion conheceu o Novo Testamento e a Oratória. Em pouco tempo estava lendo os discursos de Massilon e Bonsuet.
      O padre Mirbel falou da beleza da ciência e da grandeza da Astronomia e mal sabia que um de seus auxiliares lhe bebia as palavras. Esse auxiliar era Camille Flammarion, aquele que iria ilustrar a letra e a significação ítalo-romana do seu nome - Flammarion: "Aquele que leva a luz".
      Nas aulas de religião era ensinado que uma só coisa é necessária: "a salvação da alma", e os mestres falavam: "De que serve ao homem conquistar o Universo se acaba perdendo a alma?".
      Foi dura a vida dos Flammarions, e Camille compreendeu o mérito de seu pai entregando tudo aos credores. Reconhecia nele o mais belo exemplo de energia e trabalho, entretanto, essa situação levou-o a viver com poucos recursos.
      Camille, depois de muito procurar, encontrou serviço de aprendiz de gravador, recebendo como parte do pagamento casa e comida. Comia pouco e mal, dormia numa cama dura, sem o menor conforto; era áspero o trabalho e o patrão exigia que tudo fosse feito com rapidez. Pretendia completar seus estudos, principalmente a matemática, a língua inglesa e o latim. Queria obter o bacharelado e por isso estudava sozinho à noite. Deitava-se tarde e nem sempre tinha vela. Escrevia ao clarão da lua e considerava-se feliz. Apesar de estudar à noite, trabalhava de 15 a 16 horas por dia.
      Ingressou na Escola de desenho dos frades da Igreja de São Roque, a qual freqüentava todas as quintas-feiras. Naturalmente tinha os domingos livres e tratou de ocupá-los. Nesse dia assistia as conferências feitas pelo abade sobre Astronomia. Em seguida tratou de difundir as associações dos alunos de desenho dos frades de São Roque, todos eles aprendizes residentes nas vizinhanças. Seu objetivo era tratar de ciências, literatura e desenho, o que era um programa um tanto ambicioso.
      Aos 16 anos de idade, Camille Flammarion foi presidente da Academia, a qual, ao ser inaugurada, teve como discurso de abertura o tema "As Maravilhas da Natureza". Nessa mesma época escreveu "Cosmogonia Universal", um livro de quinhentas páginas; o irmão, também muito seu amigo, tornou-se livreiro e publicava-lhe os livros. A primeira obra que escreveu foi "O Mundo antes da Aparição dos Homens", o que fez quando tinha apenas 16 anos de idade. Gostava mais da Astronomia do que da Geologia. Assim era sua vida: passar mal, estudar demais, trabalhar em exagero.
      Um domingo desmaiou no decorrer da missa, por sinal, um desmaio muito providencial. O doutor Edouvard Fornié foi ver o doente. Em cima da sua cabeceira estava um manuscrito do livro "Cosmologia Universal". Após ver a obra, achou que Camille merecia posição melhor. Prometeu-lhe, então, colocá-lo no Observatório, como aluno de Astronomia. Entrando para o Observatório de Paris, do qual era diretor Levèrrier, muito sofreu com as impertinências e perseguições desse diretor, que não podia conceber a idéia de um rapazola acompanhá-lo em estudos de ordem tão transcendental.
      Retirando-se em 1862 do Observatório de Paris, continuou com mais liberdade os seus estudos, no sentido de legar à Humanidade os mais belos ensinamentos sobre as regiões silenciosas do Infinito. Livre da atmosfera sufocante do Observatório, publicou no mesmo ano a sua obra "Pluralidade dos Mundos Habitados", atraindo a atenção de todo o mundo estudioso. Para conhecer a direção das correntes aéreas, realizou, no ano de 1868, algumas ascensões aerostáticas.
      Pela publicação de sua "Astronomia Popular", recebeu da Academia Francesa, no ano de 1880, o prêmio Montyon. Em 1870 escreveu e publicou um tratado sobre a rotação dos corpos celestes, através do qual demonstrou que o movimento de rotação dos planetas é uma aplicação da gravidade às suas densidades respectivas. Tornando-se espírita convicto, foi amigo pessoal e dedicado de Allan Kardec, tendo sido o orador designado para proferir as últimas palavras à beira do túmulo do Codificador do Espiritismo, a quem denominou "o bom senso encarnado".
      Suas obras, de uma forma geral, giram em torno do postulado espírita da pluralidade dos mundos habitados e são as seguintes: "Os Mundos Imaginários e os Mundos Reais", "As Maravilhas Celestes", "Deus na Natureza", "Contemplações Científicas", "Estudos e Leitura sobre
      Astronomia", "Atmosfera", "Astronomia Popular", "Descrição Geral do Céu", "O Mundo antes da Criação do Homem", "Os Cometas", "As Casas Mal-Assombradas", "Narrações do Infinito", "Sonhos Estelares", "Urânia", "Estela", "O Desconhecido", "A Morte e seus Mistérios", "Problemas Psíquicos", "O Fim do Mundo" e outras.
      Camille Flammarion, segundo Gabriel Delanne, foi um filósofo enxertado em sábio, possuindo a arte da ciência e a ciência da arte. Flammarion -"poeta dos Céus", como o denominava Michelet - tornou-se baluarte do Espiritismo, pois, sempre coerente com suas convicções inabaláveis, foi um verdadeiro idealista e inovador.


13
CARLOS GOMES DE SOUZA SHALDERS

            Nascido no dia 3 de outubro de 1863, e desencarnado em S. Paulo, no dia 10 de dezembro de 1963, com 100 anos de idade.

      O professor Shalders fez seus estudos preliminares na Inglaterra, estudando mais tarde na Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Formado, veio para S. Paulo, ingressando na Companhia Mojiana de Estradas de Ferro, da qual foi um dos pioneiros, dirigindo a construção do ramal de Moji-Mirim a Sapucaia.
      Contribuiu para a fundação da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, da qual foi catedrático de Complementos de Matemática e Álgebra Superior, lecionando nessa cadeira desde a fundação da Escola, a 15 de fevereiro de 1894, até a sua aposentadoria, em 1934. Foi também diretor dessa mesma Escola, nos anos de 1931 e 1932, num período bastante difícil.
      Pelos seus eminentes serviços, o prof. Shalders foi distinguido com o título de doutor "Honoris Causa" e de "Professor Emérito", no dia 13 de maio de 1949, pela Universidade de S. Paulo.
      Durante muitos anos foi vice-presidente e membro do Conselho Deliberativo da Federação Espírita do Estado de S. Paulo, dirigindo concomitantemente o seu departamento de pesquisas psíquicas. Foi o primeiro presidente da Associação Cristã de Moços, de S. Paulo.
      Foi um dos mais autênticos espíritas dos nossos dias. Em matéria de fé racional e tranqüilidade de espírito, assemelhava-se a Caírbar Schutel e Militão Pacheco. Encarava o Espiritismo como doutrina para ser vivida e não apenas difundida. Foi um verdadeiro exemplificador dos deveres de cristão, encarando-os com absoluta seriedade. No tocante ao cumprimento das obrigações do homem, afirmava sempre: "Não há deveres pequenos, todos são iguais". Apesar de plenamente convicto, não se apaixonava pelos fenômenos e nem pelos Espíritos a ponto de lhes devotar fé cega; colocava-os na ordem das coisas naturais e sérias.
      Grande conhecedor dos assuntos bíblicos, porém desde a sua militância no Protestantismo divergia de muitos deles. Procurando estudar esses problemas à luz do Espiritismo, nele encontrou soluções para velhas indagações.
      Até aos 95 anos de idade, era sistemática a presença do prof. Shalders, aos domingos, na Federação Espírita do Estado de S. Paulo, onde ia ouvir as palestras evangélicas, tendo ele próprio proferido diversas. Como era de uma pontualidade impecável, preocupava-se muito com as pessoas que entravam após o início da conferência. Algumas vezes, no instante de ser iniciada a palestra, subia à tribuna e fazia observações severas ao público com referência à observância do horário. Dedicava a máxima atenção às palestras e, quando o tema era controvertido, não muito do seu agrado, por encontrar nelas divergências doutrinárias, no dia seguinte estava ele na casa do conferencista com uma série de argumentos, mostrando incoerências e protestando evangelicamente contra aquilo que não aceitava.
      Por mais respeitável que fosse o expositor, por mais autoridade que desfrutasse na matéria, não escapava ao interrogatório, às deduções e ao crivo da razão, sempre clara, apresentadas de maneira evangélica e da mais apurada ética de educação.
      Já ultrapassava a casa dos 90 anos de idade, quando ainda trabalhava na São Paulo Light. Nessa época publicou um livro intitulado "Uma Análise Crítica da Bíblia", no qual expôs com uma lucidez extraordinária, as suas idéias e o seu raciocínio tratando de um assunto tão árido. Com 96 anos de idade, para não ficar sem fazer nada, realizando o seu desejo de fazer o bem, empreendia, uma vez por semana, uma peregrinação juntamente com um grupo de confrades, visitando doentes, ministrando-lhes passes e proferindo palavras de conforto espiritual.
      Era profundo respeitador de Jesus Cristo e não permitia que sua personalidade fosse mal entendida ou que alguém achasse nele motivos de piedade. Certa vez a Federação Espírita do Estado de S. Paulo recebeu, de presente, um enorme e artístico quadro do Mestre, com as chagas abertas nas mãos e nos pés. O quadro foi colocado no salão de conferências daquela instituição. Porém, dentro de poucos dias foi dali retirado devido aos insistentes protestos do Prof. Shalders, nessa época vice- presidente da Casa. O fato causou estranheza a muitos freqüentadores, os quais não concordaram com a retirada do quadro. Mas prevaleceu o bom-senso.
      O transcurso do seu centenário de existência (estando ele ainda entre nós), foi comemorado pela Escola Politécnica de S. Paulo, pela Associação dos Antigos Alunos da Escola Politécnica e pelo Instituto de Engenharia de S. Paulo, tendo havido uma sessão solene da congregação, com a instalação do retrato do prof. Shalders, procedendo também a uma cerimônia de inauguração do medalhão de bronze, com placa alusiva à data, no Departamento de Matemática da Escola Politécnica, na cidade Universitária, em S. Paulo, placa essa ofertada pelos ex-alunos da primeira escola superior criada pelo governo do Estado de S. Paulo, logo após a proclamação da Republica.
      A passagem do prof. Shalders, pela Terra, foi um centenário de exemplos vivos num preparo eficiente para o reencontro com os amigos do Plano Maior. A demonstração da sua humildade e submissão aos desígnios de Deus, eram fatores predominantes em sua inconfundível personalidade.
      No Departamento de Metapsíquica da Federação Espírita do Estado de S. Paulo, exerceu atividades incomparáveis, interessando-se profundamente pelos fenômenos, sem contudo ficar a eles escravizado, porque sabia dar-lhes o valor e o apreço que mereciam, compreendendo que o aspecto mais importante da Doutrina Espírita é o de evangelizar o homem, conduzindo-o no roteiro da reforma interior.


14
CLÉLIA SOARES DA ROCHA

            Mais conhecida por Clélia Rocha, nasceu na cidade de Barra Mansa, Estado do Rio de Janeiro, no dia 18 de outubro de 1886 e desencarnou, com 50 anos de idade, no dia 16 de fevereiro de 1936.

      Foi educada como interna do Colégio Bom Conselho, na cidade de Taubaté, completando sua educação na cidade de Piracicaba, onde recebeu o diploma de professora primária. Lecionou durante vários anos no Colégio das Freiras, da cidade de São Carlos. De família tradicionalmente católica, Clélia Rocha logo demonstrou repugnância pelos dogmas da religião de seus pais, o que aconteceu logo em sua primeira infância, originando-lhe sérios castigos no Colégio interno, onde passou a ser considerada criança rebelde.
      Em Piracicaba ainda quando estudante, conheceu um jovem médico, com quem acertou casamento. Entretanto, o rapaz desencarnou repentinamente, frustrando todo o seu sonho de menina moça, que nunca mais pensou no casamento, dedicando toda sua vida ao magistério e ao amparo da criança órfã e desvalida. Um dia deliberou abrir um estabelecimento de ensino na cidade de Dourados, para a alfabetização de adultos que não tivessem condições de freqüentar aulas no período diurno, mantendo-o por algum tempo e fornecendo gratuitamente o material de ensino para todos aqueles que não o pudessem adquirir.
      Nessa época a grande missionária Anália Franco fez uma visita à cidade e, vendo o sacrifício inenarrável pelo qual passava a jovem professora, convidou-a a fazer parte da sua equipe de trabalho, prontificando-se a ajudá-la no que lhe fosse possível. Dessa época em diante, tornaram-se grandes amigas e mútuas colaboradoras. Fundaram uma Creche para as mães pobres daquela redondeza e um abrigo para órfãos.
      Anália Franco depositava irrestrita confiança no trabalho de Clélia Rocha.
      Numa das suas cartas chegou mesmo a afirmar: "Você é a diretora que mais assimilou os nossos ideais e muito tem produzido. Se todas as demais cooperadoras fizessem como você, muito realizaríamos".
      Em fins de 1918, Anália Franco fundou um Asilo na cidade de Uberaba, em Minas Gerais, e convidou Clélia Rocha para ser sua diretora. Logo após, no dia 13 de janeiro de 1919, Anália desencarnou em S. Paulo, não podendo concretizar a obra. Clélia, fiel à sua memória, respeitando a sua última vontade, deliberou transferir-se para Uberaba, com todas as suas pupilas, fundando mais tarde naquela cidade um Colégio com 18 pensionistas, para manter as suas 72 alunas internas. Diante de sua obra assistencial pleiteou por várias vezes subvenções municipais, estaduais e federais, nunca conseguindo ressonância para as suas petições, pois, pelo fato de ser espírita, intensa perseguição lhe foi movida pelos sacerdotes locais.
      Como Anália Franco, organizou um Conjunto Lítero-Artístico e Musical, com as próprias pupilas e demandou as cidades do interior dos Estados de São Paulo e Minas Gerais, conseguindo meios de subsistência para manter o seu estabelecimento, tendo para tanto alcançado algum êxito.
      Fiel à memória de Anália Franco, tudo fez para que os ideais por ela esposados fossem mantidos em toda a sua plenitude, conduzindo-se sempre com verdadeiro espírito de abnegação e sacrifício, atestando sempre a sua grandeza espiritual.
      Fundou com suas pupilas maiores de 16 anos a Liga Feminina Operárias do Bem, objetivando a formação de novas equipes de cooperadoras que pudessem mais tarde dar continuidade ao seu grandioso trabalho assistencial. Em 1924 transferiu-se para a cidade de São Manoel, no Estado de S. Paulo, onde conheceu Amando Simões, rico fazendeiro da região, espírito bem formado e coração generoso que, conhecendo as suas grandes dificuldades e estóica coragem, resolveu ajudá-la, fazendo a doação de um prédio e parte de seu terreno para que ali Clélia pudesse instalar o seu estabelecimento educacional. Graças ao prestígio desse abnegado confrade, contou logo com o concurso de parte da população e a simpatia da Câmara Municipal, podendo desta forma ampliar a sua obra beneficente. Acolheu no "Lar de Anália Franco" dezenas de crianças órfãs e ali realizou numerosos casamentos de suas ex-educandas, entregando-as ao mister de donas de casas, reintegradas na sociedade, para servirem como esposas e como mães.
      Em 1930, na época do Natal, fundou a "Creche Berço de Ouro", destinada a receber as criancinhas, mantendo-a com todo o carinho de sua alma.
      Era espírita fervorosa e muito se interessava pelos assuntos doutrinários.
      Como Anália foi literata, jornalista, poetisa, escritora, teatróloga, musicista e professora de línguas. Escreveu várias peças para teatro; dramas, comédias e enquetes de sua autoria foram encenadas com muito êxito no Grupo Teatral. Apresentou ainda muitas poesias e composições musicais.
      Exímia professora de trabalhos manuais, ministrava aulas de flores artificiais, pinturas, bordados, arte culinária e música, preparando suas filhas adotivas para tornar-se prendadas donas de casa do futuro.
      Na intimidade era chamada "Mãe Lili", por todas as suas filhas adotivas.
      Deu o seu próprio nome a muitas delas, quando enjeitadas na "Creche Berço de Ouro" e não apareciam os parentes. Tendo que regularizar os seus registros civis, não hesitava jamais, registrava-as com o seu próprio nome.
      Fundou o jornal literário "Lírio Branco" e o "Mensageiro do Órfão" hoje "Mensageiro do Lar", órgão de divulgação do Espiritismo, que continua a ser editado nas oficinas gráficas do Lar Anália Franco, na cidade de S. Manoel.
      Clélia Rocha foi, portanto, uma missionária na verdadeira acepção da palavra, pertencendo à plêiade de valorosas mulheres espíritas do mesmo nível de Anália Franco, Olímpia Belém, Aura Celeste, Eurídice Panar, Abigair Lima e tantas outras.
      (Subsídios fornecidos por Antônio de Souza Lucena)


15
CORINA NOVELINO

            Nascida na cidade de Delfinópolis Estado de Minas Gerais, no dia 12 de agosto de 1912, e desencarnada em Sacramento, naquele mesmo Estado, no dia 10 de fevereiro de 1980.

      Filha do casal José Gonçalves Novelino e Josefina de Melo Novelino, nasceu na pequena cidade de Delfinópolis, onde passou muito pouco de sua infância, pois ainda jovem ficou órfã de pai e mãe, passando a residir com um casal que lhe dispensou todo o amor e carinho.
      A tarefa desenvolvida por Corina Novelino, na cidade de Sacramento, foi das mais relevantes, o que fez com que se tornasse uma das figuras mais estimadas na cidade.
      Desde muito jovem revelou-se um Espírito caritativo, com profundos rasgos de desprendimento, disposto a dar tudo de si em favor dos seus emelhantes.
      Com apenas vinte anos de idade, foi convidada por uma denodata seareira chamada Maria Modesto Cravo, para ajudá-la a administrar um Lar de Crianças, na cidade mineira de Uberaba. Indecisa sobre o convite procurou orientação do médium Francisco Cândido Xavier, então residente em Pedro Leopoldo. Devido ao elevado número de pessoas que procurava o médium, não conseguiu entrevistar-se com ele. Porém, grande foi a sua surpresa quando foi por ele chamada, recebendo de suas mãos bela mensagem assinada pelo Espírito de Eurípedes Barsanulfo, na qual, entre outras coisas, ele dizia:
      "Corina, você é minha última esperança em Sacramento".
      Diante do imperativo da mensagem, declinou do convite de Maria Modesta e decidiu-se pela permanência em Sacramento, onde fundou o Clube das Maezinhas, composto de mães caridosas que se dispunham a fazer roupinhas para crianças necessitadas, as quais eram distribuídas semanalmente.
      No limiar do ano de 1950, deliberou fundar um Lar para crianças abandonadas. Porém, além de faltar-lhe os meios necessários, não sabia onde nem como implantar essa instituição. A maior rifa realizada em Sacramento propiciou-lhe os meios necessários para adquirir uma casa e ali inaugurar o "Lar de Eurípedesb".
      Aplicava o seu ordenado na manutenção do Lar. Entretanto, o número de crianças aumentava e os recursos tornavam-se assim cada vez mais escassos.
      A casa havia também se tornado pequena.
      Animada de decisão inquebrantável, e contando com a ajuda do Alto, decidiu-se a edificar um novo "Lar de Eurípedes". O povo de Sacramento e de regiões vizinhas cooperou no empreendimento e, dentro em pouco, surgia o novo prédio, onde foram amparadas mais de 100 crianças e onde a seareira abnegada passou a ser a "mãe Corina". Devido à insuficiência de recursos para a sua manutenção, pois o estabelecimento era mantido quase completamente com o salário de Corina Novelino, houve apelos e o Lar foi reconhecido como órgão de utilidade pública, passando então de internato para semi-internato. Ali as crianças passam o dia, recebendo alimentação, vestuário e educação intelectual e religiosa.
      Escritora de grandes recursos que era, Corina escreveu os livros "Escuta, meu filho", cuja renda foi revertida inteiramente à manutenção do Lar.
      Mais recentemente, em 1979, escreveu a obra "Eurípedes, o homem e a missão", dando início aos atos comemorativos do centenário de nascimento daquele grande vulto do Espiritismo.
      Criatura infatigável, sempre disposta a cooperar, tomou parte saliente na vida sócio-econômica, religiosa e cultural de Sacramento. Colaborou em todos os jornais da cidade, desde a "Tribuna", editada por Hamilton Wilson, até os jornais atuais: "Estado do Triângulo" e "Jornal de Sacramento".
      Prestou colaboração em outros órgãos de divulgação do Espiritismo, notadamente no "Anuário Espírita", editado em Araras, e uma revista editada em Portugald.
      Foi na realidade uma vida bem vivida, repleta de rasgos de generosidade, de amor e de dedicação aos seus semelhantes. A sua desencarnação representou irreparável perda para a comunidade sacramentana, um grande vazio se fez na cidade, tão grande quanto a tristeza dos que perderam o calor, a ternura e a dedicação de uma amiga.
      Foram as seguintes as palavras do Presidente da Câmara Municipal de Sacramento, por ocasião do sepultamento do seu corpo físico: "Que o pavilhão de Sacramento cubra o seu ataúde numa demonstração de homenagem maior que o Poder Público presta aos seus grandes filhos. Aqui a gratidão de todo um povo que reconheceu no seu labor humilde e silencioso a "Mãe
      Corina" de todos. Com o auxílio de suas mãos não foram poucas as vezes que testemunhamos o seu amor, no próprio esquecimento de si mesma, chamando para si a responsabilidade dessa enorme tarefa de promoção do próximo. Foi a Mãe Corina dos pobres, dos sofredores, dos órfãos, dos loucos, dos necessitados, dos abandonados, dos miseráveis... Mãe Corina de todos nós, nosso eterno e imorredouro Muito Obrigado".

* * *

      Nota do GEAE: a querida irmã Alba das Graças Pereira enviou-nos mais informações sobre a vida de Corina. Alba conviveu com D. Corina por ocasião da feitura de seu livro sobre Eurípedes Barsanulpho. Para não alterar o formato original do livro, as novas informações serão colocadas como notas de rodapé.
      a) - O casal com quem ela passa a residir chamava-se José e Edalides Rezende (era, irmã consanguínea de Eurípedes Barsanulpho).
      b) - O Lar de Eurípedes, fundado por D. Corina passou de internato para semi-internato apenas depois de seu desencarne em 10/02/1980.
      c) - Dentre as obras de sua lavra, acrescenta-se: "A Grande Espera", romance mediúnico datado sobre a era de Jesus e ditado à ela por Eurípedes Barsanulpho, ed. I.D.E, Araras, S.P.;
      d) - Sobre as revistas onde escreveu: "Fon Fon" do Rio de Janeiro (1939),"Jornal das Moças", Rio de Janeiro e "Revista de Estudos Psíquicos", editada em Portugal.


16
COSME MARIÑO

            Nascido em Buenos Aires, República Argentina, no dia 27 de setembro de 1847, e desencarnado no dia 18 de agosto de 1927, tendo sido um dos mais destacados propagadores espíritas naquela nação.

      Seus pais foram comerciantes modestos e honrados, foi educado dentro dos princípios da igreja católica e se sentiu atraído para o sacerdócio, no qual vislumbrou a possibilidade de exercer a sua propensão inata de servidor da Humanidade.
      Fez o curso superior de teologia, convencendo-se logo após de que a sua vocação não estava circunscrita aos estreitos dogmas da religião dominante. Abandonou, portanto, a carreira iniciada e ingressou na Faculdade de Direito, tendo em seguida interrompido também esse curso para entrar na carreira jornalística, onde junto com José C. Paz fundou o grande diário portenho: "La Prensa", do qual foi diretor em 1896. Em 1871, tomou parte ativa na heróica "Comissão Popular", constituída com o objetivo nobilitante de combater a epidemia de febre amarela que flagelava os seus concidadãos, e embora tivesse sido contaminado pelo mal, conseguiu restabelecer-se, tendo posteriormente merecido do povo de Buenos Aires a condecoração da Cruz de Ferro e a impressão de 5.000 retratos com a inscrição: "O povo a Cosme Mariño - Epidemia de 1871". No evento a Municipalidade de Buenos Aires também lhe outorgou oficialmente a medalha de ouro, como prêmio aos seus nobres serviços.
      Em 1872, Mariño dedicou-se de corpo e alma no afã de promover o Comitê de Ajuda ao Chile, durante a epidemia de varíola. Na qualidade de secretário desse comitê teve o ensejo de, juntamente com outros abnegados, enviar meio milhão de pesos, arrecadados em subscrição pública. A Municipalidade de Santiago do Chile também lhe conferiu uma medalha de ouro como gratidão pela sua generosidade.
      Foi Cosme Mariño fundador da Sociedade Protetora de Inválidos, conseguindo, graças à sua incessante atividade, construir o Edifício dos Inválidos. Transferindo sua residência para a cidade de Dolores, na província de Buenos Aires, no ano de 1874 foi designado membro honorário da Comissão de Justiça, membro titular do Conselho Escolar e Presidente da Comissão do Hospital de Dolores.
      Nessa cidade teve o apóstolo a oportunidade de assistir a algumas sessões espíritas, convertendo-se a essa Doutrina. Daí por diante, revelou-se um verdadeiro paladino da Terceira Revelação. Em 1879 ingressou nos quadros da "Sociedad Constância", tendo em 1881 tomado parte em sua direção. Em 1882 tornou-se diretor da revista "Constância", pioneira dos periódicos espíritas na Argentina. Em 1883 foi eleito presidente dessa instituição, desenvolvendo ali vasto programa de atividade.
      No desempenho de sua tarefa jornalística viu-se obrigado a sustentar acirradas polêmicas com alguns clérigos que viam no Espiritismo um constante obstáculo à manutenção do domínio da fé cega, e também com alguns cientistas que viam no Espiritismo tão-somente loucura, fraude e sugestão.
      Alguns jesuítas que publicaram artigos e opúsculos contrários ao Espiritismo, mereceram de Mariño a mais ampla refutação, que pulverizou todas as argumentações.
      No dia 3 de abril de 1892, foi vítima de um atentado por parte de uma fanática de nome Dolores González, que lhe disparou um tiro. Felizmente o fato não teve maiores consequências.
      A vida desse singular personagem foi toda ela entrecortada de gestos nobres e altruísticos, e não cabe nesta ligeira súmula biográfica enumerar todos os fatos ocorridos em sua existência, contudo, devemos acrescentar que Cosme Mariño foi autor brilhante, tendo escrito vários livros; foi inspirador de várias campanhas, destacando-se uma em favor da aquisição de livros espíritas para serem revendidos a menor custo; outra em favor do reconhecimento da Sociedade "Constância" como personalidade jurídica; e mais as seguintes: formação de uma comissão permanente para auxílios funerários a indigentes, preparação de enfermeiros através de cursos adequados, fundação da Confederação Espiritista Argentina, para cuja concretização colaborou intensamente Antônio Ugarte e outros, organização da Sociedade Protetora da Criança Desvalida; ação em favor da abolição da pena de morte na Argentina, campanha contra os falsos médiuns e exploradores do Espiritismo, e finalmente, em 1925, a inauguração do "Asilo 1º Centenário".
      Foi justamente cognominado "Kardec Argentino", pois ele representa para os espíritas platinos o mesmo que Bezerra de Menezes representa para o Brasil, e o mesmo que a tríade "Kardec-Denis-Delanne" representa para a França.
      Em outubro de 1947, escrevia Ismael Gomes Braga sobre Cosme Mariño: "A luta contra os preconceitos materialistas e o fanatismo religioso somente pode ser levada a bom término por Espíritos muito superiores à massa humana que habita nosso planeta. O missionário que se encarna para defender uma idéia nova contra erros arraigados durante milênios, para forçar a Humanidade a dar um passo mais no caminho do progresso, não pode ser um espírito comum, porque falharia antes do fim da jornada, espantado pelos ataques de toda classe de adversários que surgem das trevas, furiosos, defendendo suas tradições, que julgam sagradas e seus interesses, que consideram divinos.
      A luta do missionário argentino foi mais prolongada e mais violenta que a de Kardec, que trabalhou pelo Espiritismo durante 14 anos, mas Cosme Mariño teve que lutar meio século para conquistar e consolidar as posições que nos legou. Foi agredido não somente por palavra e por escrito, senão também por arma de fogo: uma fanática religiosa tentou assassiná-lo a tiros; sem embargo, nada o fez desanimar, nada o intimidou, porque foi um grande Missionário consciente do seu poder, certo do valor imenso da idéia que defendia com risco da própria vida. A superioridade de Cosme Mariño se revelava em toda sua vida e lhe conferia um prestígio social que lhe dava autoridade para predicar essa grande revolução espiritual que é o Espiritismo."


17
EMMA HARDINGE BRITTEN

            Desencarnada em 1889.

      Nenhuma história do Espiritismo seria completa sem referências a essa notável escritora, que foi denominada Apóstolo Paulo feminino do movimento espírita. Ela era uma mocinha inglesa que havia ido para Nova Iorque com uma empresa de teatro e tinha permanecido nos Estados Unidos, onde viveu em companhia de sua mãe. De educação protestante, repelia com energia qualquer aproximação com os espíritas, entretanto, no ano de 1856, foi novamente posta em contato com o Espiritismo, quando teve provas irrefutáveis das verdades por ele apregoadas. Logo descobriu que era, também ela, poderosa médium, podendo-se afirmar que um dos casos mais bem documentados, e que alcançou notável sensacionalismo, foi a sua informação de que o navio "Pacific" tinha naufragado no Atlântico médio, perecendo todos os passageiros. Após essa revelação ela foi perseguida pela companhia proprietária do navio, por haver repetido o que lhe havia dito o Espírito de uma das vítimas da catástrofe. Verificou-se posteriormente que a sua informação mediúnica era verdadeira, pois o navio havia realmente naufragado e nunca mais apareceu.
      Em 1866 voltou ela para a Inglaterra, onde desenvolveu intensas atividades, produzindo duas grandes obras: "Moderno Espiritualismo Americano" e "Milagres do Século Dezenove", livros esses que representaram interessantes pesquisas, unidas a um raciocínio claro e lógico. No ano de 1870 casou-se com o Dr. Britten, espírita tão devotado quanto ela. Tudo indica que foi uma união realmente feliz.
      Em 1878 foram à Austrália e Nova Zelândia, na qualidade de missionários do Espiritismo, ali demorando muitos anos e fundando numerosas sociedades.
      Quando na Austrália, ela escreveu: "Fé, Fatos e Fraudes da História Religiosa", livro que ainda hoje exerce relativa influência.
      Entre outros monumentos de sua autoria, Emma Hardinge Britten fundou "Os Dois Mundos", de Manchester, órgão que ainda atualmente desfruta de grande circulação, representando um veículo publicitário de grande penetração em todo o mundo.
      Ernesto Bozzano, um dos maiores escritores espíritas, profundo investigador, homem de ciência, polemista emérito, cuja obra honra e engrandece a Doutrina Espírita, em notável depoimento escrito para a revista "La Luz Del Porvenir", relatou que o livro "Moderno Espiritualismo Americano", lhe foi muito proveitoso no período de sua conversão ao
      Espiritismo.
      A obra de Emma Harding Britten, nos primórdios do Espiritismo, foi das mais relevantes, devendo-se a ela grande número de conversões, inclusive de pessoas de grande projeção na época.
      A sua desencarnação aconteceu no ano de 1889.


18
EURÍPEDES BARSANULFO

            Nascido em 1º de maio de 1880, na pequena cidade de Sacramento, Estado de Minas Gerais, e desencarnado na mesma cidade, aos 38 anos de idade, em 1º de novembro de 1918.

      Logo cedo manifestou-se nele profunda inteligência e senso de responsabilidade, acervo conquistado naturalmente nas experiências de vidas pretéritas.
      Era ainda bem moço, porém muito estudioso e com tendências para o ensino, por isso foi incumbido pelo seu mestre-escola de ensinar aos próprios companheiros de aula. Respeitável representante político de sua comunidade, tornou-se secretário da Irmandade de São Vicente de Paula, tendo participado ativamente da fundação do jornal "Gazeta de Sacramento" e do "Liceu Sacramentano". Logo viu-se guindado à posição natural de líder, por sua segura orientação quanto aos verdadeiros valores da vida.
      Através de informações prestadas por um dos seus tios, tomou conhecimento da existência dos fenômenos espíritas e das obras da Codificação Kardequiana. Diante dos fatos voltou totalmente suas atividades para a nova Doutrina, pesquisando por todos os meios e maneiras, até desfazer totalmente suas dúvidas.
      Despertado e convicto, converteu-se sem delongas e sem esmorecimentos, identificando-se plenamente com os novos ideais, numa atitude sincera e própria de sua personalidade, procurou o vigário da Igreja matriz onde prestava sua colaboração, colocando à disposição do mesmo o cargo de secretário da Irmandade.
      Repercutiu estrondosamente tal acontecimento entre os habitantes da cidade e entre membros de sua própria família. Em poucos dias começou a sofrer as conseqüências de sua atitude incompreendida.
      Persistiu lecionando e entre as matérias incluiu o ensino do Espiritismo, provocando reação em muitas pessoas da cidade, sendo procurado pelos pais dos alunos, que chegaram a oferecer-lhe dinheiro para que voltasse atrás quanto à nova matéria e, ante sua recusa, os alunos foram retirados um a um.
      Sob pressões de toda ordem e impiedosas perseguições, Eurípedes sofreu forte traumatismo, retirando-se para tratamento e recuperação em uma cidade vizinha, época em que nele desabrocharam várias faculdades mediúnicas, em especial a de cura, despertando-o para a vida missionária.
      Um dos primeiros casos de cura ocorreu justamente com sua própria mãe que, restabelecida, se tornou valiosa assessora em seus trabalhos.
      A produção de vários fenômenos fez com que fossem atraídas para Sacramento centenas de pessoas de outras paragens, abrigando-se nos hotéis e pensões, e até mesmo em casas de famílias, pois a todos Barsanulfo atendia e ninguém saía sem algum proveito, no mínimo o lenitivo da fé e a esperança renovada e, quando merecido, o benefício da cura, através de bondosos Benfeitores Espirituais.
      Auxiliava a todos, sem distinção de classe, credo ou cor e, onde se fizesse necessária a sua presença, lá estava ele, houvesse ou não condições materiais.
      Jamais esmorecia e, humildemente, seguia seu caminho cheio de percalços, porém animado do mais vivo idealismo. Logo sentiu a necessidade de divulgar o Espiritismo, aumentando o número dos seus seguidores. Para isso fundou o "Grupo Espírita Esperança e Caridade", no ano de 1905, tarefa na qual foi apoiado pelos seus irmãos e alguns amigos, passando a desenvolver trabalhos interessantes, tanto no campo doutrinário, como nas atividades de assistência social.
      Certa ocasião caiu em transe em meio dos alunos, no decorrer de uma aula.
      Voltando a si, descreveu a reunião havida em Versailles, França, logo após a 1ª Guerra Mundial, dando os nomes dos participantes e a hora exata da reunião quando foi assinado o célebre tratado.
      Em 1º de abril de 1907, fundou o Colégio Allan Kardec, que se tornou verdadeiro marco no campo do ensino. Esse instituto de ensino passou a ser conhecido em todo o Brasil, tendo funcionado ininterruptamente desde a sua inauguração, com a média de 100 a 200 alunos, até o dia 18 de outubro, quando foi obrigado a cerrar suas portas por algum tempo, devido à grande epidemia de gripe espanhola que assolou nosso país.
      Seu trabalho ficou tão conhecido que, ao abrirem-se as inscrições para matrículas, as mesmas se encerravam no mesmo dia, tal a procura de alunos, obrigando um colégio da mesma região, dirigido por freiras da Ordem de S. Francisco, a encerrar suas atividades por falta de freqüentadores.
      Liderado a pulso forte, com diretriz segura, robustecia-se o movimento espírita na região e esse fato incomodava sobremaneira o clero católico, passando este, inicialmente de forma velada e logo após, declaradamente, a desenvolver uma campanha difamatória envolvendo o digno missionário e a doutrina de libertação, que foi galhardamente defendida por Eurípedes, através das colunas do jornal "Alavanca", discorrendo principalmente sobre o tema: "Deus não é Jesus e Jesus não é Deus", com argumentação abalizada e incontestável, determinando fragorosa derrota dos seus opositores que, diante de um gigante que não conhecia esmorecimento na luta, mandaram vir de Campinas, Estado de S. Paulo, o reverendo Feliciano Yague, famoso por suas pregações e conhecimentos, convencidos de que com suas argumentações e convicções infringiriam o golpe derradeiro no Espiritismo.
      Foi assim que o referido padre desafiou Eurípedes para uma polêmica em praça pública, aceita e combinada em termos que foi respeitada pelo conhecido apóstolo do bem.
      No dia marcado o padre iniciou suas observações, insultando o Espiritismo e os espíritas, "doutrina do demônio e seus adeptos, loucos passíveis das penas eternas", numa demonstração de falso zelo religioso, dando assim testemunho público do ódio, mostrando sua alma repleta de intolerância e de sectarismo.
      A multidão que se mantinha respeitosa e confiante na réplica do defensor do Espiritismo, antevia a derrota dos ofensores, pela própria fragilidade dos seus argumentos vazios e inconsistentes.
      O missionário sublime, aguardou serenamente sua oportunidade, iniciando sua parte com uma prece sincera, humilde e bela, implorando paz e tranqüilidade para uns e luz para outros, tornando o ambiente propício para inspiração e assistência do plano maior e em seguida iniciou a defesa dos princípios nos quais se alicerçavam seus ensinamentos.
      Com delicadeza, com lógica, dando vazão à sua inteligência, descortinou os desvirtuamentos doutrinários apregoados pelo Reverendo, reduzindo-o à insignificância dos seus parcos conhecimentos, corroborado pela manifestação alegre e ruidosa da multidão que desde o princípio confiou naquele que facilmente demonstrava a lógica dos ensinos apregoados pelo Espiritismo.
      Ao terminar a famosa polêmica e reconhecendo o estado de alma do Reverendo, Eurípedes aproximou-se dele e abraçou-o fraterna e sinceramente, como sinceros eram seus pensamentos e suas atitudes Barsanulfo seguiu com dedicação as máximas de Jesus Cristo até o último instante de sua vida terrena, por ocasião da pavorosa epidemia de gripe que assolou o mundo em 1918, ceifando vidas, espalhando lágrimas e aflição, redobrando o trabalho do grande missionário, que a previra muito antes de invadir o continente americano, sempre falando na gravidade da situação que ela acarretaria.
      Manifestada em nosso continente, veio encontrá-lo à cabeceira de seus enfermos, auxiliando centenas de famílias pobres. Havia chegado ao término de sua missão terrena. Esgotado pelo esforço despendido, desencarnou no dia 1º de novembro de 1918, às 18 horas, rodeado de parentes, amigos e discípulos.
      Sacramento em peso, em verdadeira romaria, acompanhou-lhe o corpo material até a sepultura, sentindo que ele ressurgia para uma vida mais elevada e mais sublime.


19
FRANCISCO ANTÔNIO BASTOS

            Nascido em São Paulo, no dia 6 de janeiro de 1850 e desencarnado no dia 19 de agosto de 1929, com a idade de 79 anos.

      Muito jovem dedicou-se aos trabalhos altruísticos ao lado da grande missionária Anália Franco, fazendo as escritas fiscais de mais de 70 obras assistenciais por ela fundadas no Estado de São Paulo, abrangendo Escolas Maternais, Escolas Elementares, Albergues Noturnos, Colônia Regeneradora, vinte e três lares para crianças abandonadas e um Patronato Agrícola.
      A convivência de Anália Franco e Francisco Antônio Bastos no trabalho cristão e espírita da assistência social era tão antigo que, no ano de 1906, apesar de ambos terem mais de 50 anos de idade, resolveram casar-se, unindo assim os seus esforços para que a obra não viesse a sofrer  solução de continuidade.
      No decurso da 1ª Guerra Mundial profunda crise avassalou as instituições mantidas pelo casal, devido aos cortes nas subvenções oficiais e outros auxílios recebidos da população. Essa situação de emergência fez com que o casal promovesse extensa excursão artística pelas cidades do interior do Estado, levando a "Banda Musical Feminina Regente Feijó", composta por suas educandas e por um Grupo Dramático formado pelas participantes da "Colônia Regeneradora D. Romualdo". Deste modo foram conseguidos os recursos necessários para a manutenção daquelas instituições: duzentos e trinta contos de réis, pequena fortuna naquela época.
      Anália Franco, que após o seu consórcio acrescentou ao seu nome o sobrenome Bastos, imortalizou-se como figura máxima de mulher dedicada e bondosa, conseguindo projetar seu nome em todo o Brasil, dado o seu trabalho infatigável e entrecortado de idealismo. Francisco Antônio Bastos foi o seu assessor mais dedicado, desde os primórdios do seu trabalho, apagando-se na humildade e dando os mais vivos testemunhos na singular prova de amor espiritual, que o ligava àquela renomada seareira.
      Após a desencarnação de Anália, ocorrida no dia 13 de janeiro de 1919, como prova de sua dedicação e afeto, fundou o "Asilo de Órfãos Anália Franco", na cidade mineira de Juiz de Fora, fato ocorrido em junho desse mesmo ano, tudo com o objetivo de perseverar na difusão dos benefícios que sua esposa se acostumara a realizar e dos quais o seu magnânimo coração era vasto celeiro.
      Na cidade de Juiz de Fora sofreu a incompreensão da população. Encontrou na cidade a mais tenaz resistência, pois dada a sua condição de espírita, esbarrou com a intolerancia religiosa ali prevalecente. O povo somente acatava solicitações feitas pela religião majoritária. Batalhador infatigável, sofreu toda a sorte de perseguições, inspiradas pelo pároco da igreja local, vendo-se finalmente na dura contingência de transferir a sede da instituição para o Rio de Janeiro, onde se instalou em maio de 1922, no bairro do Méier. Com a ajuda de um grupo dedicado de auxiliares, conseguiu receber o apoio irrestrito de muitos, e sem qualquer espírito de hegemonia, elevou a simpática instituição a uma situação bastante privilegiada.
      Com o decorrer do tempo conseguiu adquirir bela e acolhedora casa na Rua da Figueira, hoje Avenida Marechal Rondon, no bairro do Rocha, onde a instituição se consolidou de forma definitiva.
      É digno de registro que a fundação do Lar dos Órfãos em Juiz de Fora, como salutar exemplo de desprendimento desse grande apóstolo da caridade, deve-se inteiramente ao montepio legado por sua esposa, na importância de dezesseis contos de réis que, num gesto liberal muito do seu feitio, doou à instituição, fazendo questão que essa doação constasse de uma das atas de sua diretoria, lavrada em fins de 1922.
      Francisco Antônio Bastos era intimorato empreendedor de obras sociais, deixando entrever o seu espírito sonhador, arguto e realizador, assessorando Anália Franco na disseminação de numerosas obras assistenciais que passaram a constituir uma das mais monumentais realizações da época.
      Contagiado pelo espírito de luta de sua companheira desencarnada, ele adquiriu a virtude de tudo vencer sem esmorecimento. Organizou numerosas instituições espíritas onde atuou como dirigente; editou duas revistas:
      "Nova Revelação" e "Natalício de Jesus", tornando-se o seu redator-chefe, órgãos esses que pertenciam à Colônia Regeneradora D. Romualdo. Sua incrível operosidade, espírito de sacrifício, energia e perseverança no bem, traduziram-se em autênticas conquistas espirituais. Foi também dedicado trabalhador no campo da difusão doutrinária do Espiritismo, proferindo conferências e encetando tarefas de diversos matizes. Foi verdadeiro "pai" para as crianças abrigadas no "Anália Franco", as quais o estimavam e respeitavam sobremaneira, dispensando-lhe carinho e gratidão.
      Seu regresso ao plano espiritual foi precedido de insidiosa enfermidade que o prendeu ao leito por vários dias. O venerando velhinho de longas barbas e grande coração foi autêntico seguidor de Jesus Cristo, pois tudo o que fez ele, aprendeu a fazê-lo nas páginas dos Evangelhos, assim como os consoladores ensinamentos que sabia espargir, ele os assimilou nas obras básicas da Doutrina Espírita.
      (Subsídios fornecidos por Antônio de Souza Lucena)


20
FREDRICH MYERS

            Nascido em Keswick (Cumberland), Inglaterra, a 6 de fevereiro de 1843, e desencarnado em Roma, Itália, a 17 de janeiro de 1901.

      Fredrich William Henry Myers, mais conhecido por Fredrich Myers, foi erudito literato inglês, famoso pelos seus escritos notáveis e estudos sobre os fenômenos espíritas.
      Educou-se no Colégio da Trindade, de Cambridge, e, após ter colimado uma série apreciável de triunfos, foi nomeado professor do mesmo instituto de ensino e, em 1872, inspetor de todas as escolas do Distrito. Nessa época já havia publicado um poema intitulado "São Paulo". Nos anos de 1870 e 1872 lançou mais dois volumes de poesias. Em 1883 publicou seus "Ensaios Clássicos e Modernos" (Essays Classical and Modern), obra que alcançou notável valor literário.
      No ano de 1882, após vários ensaios, estudos e discussões, figurou, em primeiro lugar, na lista dos fundadores da "Sociedade de Investigações Psíquicas de Londres", tornando-se o porta-voz da mesma sociedade, dando sua contribuição valiosa na revisão da magistral obra "Fantasma dos Vivos" (1886), cuja introdução escreveu. De sua autoria é ainda a obra "A Ciência e a Vida Futura".
      Posteriormente à sua desencarnação foi publicado seu livro "Human Personality and its Survival of Bodily Death", vertido para o português com o título "A Personalidade Humana" obra que constituiu, de direito e de fato, preciosa contribuição no campo das investigações psíquicas e que foi qualificada pelo saábio William James como a primeira tentativa de se considerar os fenômenos de alucinação, hipnotismo, automatismo e dupla personalidade como partes de um só todo.
      A sua obra "A Personalidade Humana" foi dedicada a Henry Sidgwick e a Edmond Gurney, constituindo um repositório de fulgurantes ensinamentos.
      Nessas Myers proclama que "assim como Sócrates fez descer a Filosofia do Céu para a Terra, o médium Emmanuel Swedenborg foi quem levantou a Filosofia da Terra para o Céu".
      O Espiritismo muito deve a Fredrich Myers pelo interesse que sempre demonstrou pelas pesquisas dos fenômenos psíquicos e pelo idealismo que o norteou, procurando convencer muita gente mediante um trabalho metódico e de divulgação das verdades espíritas, através de obras que tiveram o mérito de sensibilizar muitas pessoas de notória influência, dentre elas Sir" Arthur Conan Doyle, o genial criador de "Sherlock Holmes", que chegou a afirmar num dos seus relatos que a obra de Fredrich Myers "A Personalidade Humana" foi aquela que mais o impressionou, contribuindo decisivamente para a sua conversão ao Espiritismo. Em sua obra "História do Espiritismo", Conan Doylc presta testemunho sobre Myers, asseverando:
      "A Fé que F. W. H. Myers havia perdido no Cristianismo foi restaurada pelo Espiritismo". Em seu livro "A Fé Final", diz ele: "Não posso, num sentido profundo, contrastar a minha crença atual com o Cristianismo. Considero-a antes um desenvolvimento científico da atitude e do ensino do Cristo".
      Fredrich Myers foi, como decorrência, um dos mais eruditos pesquisadores do século passado e sua contribuição em favor da divulgação dos postulados espíritas foi das mais apreciáveis.


21
REV. GEORGE VALE OWEN

            Célebre médium inglês desencarnado a 9 de março de 1931.

      Um periodista inglês que, na década de 1920, se atrevesse a tratar temas espíritas devia possuir muita perspicácia e muita coragem, sustentados por uma autoridade indiscutível.
      Esse periodista foi Lord Northcliffe, que o fez publicando nada menos que os escritos recebidos mediunicamente pelo famoso médium britânico Rev. George Vale Owen. As publicações do "Correio Semanal", contendo tais escritos despertaram inusitado interesse, tanto na Inglaterra como em outros países, o que aliás redundou num ataque sistemático por parte das Igrejas, que movimentaram todos os seus recursos materiais com o objetivo de minorar os "catastróficos efeitos" que estavam produzindo em todas as camadas da sociedade os escritos de Vale Owen.
      Quem era George Vale Owen, que deste modo alterava a calma natural de todos e produzia semelhante impacto nas arraigadas convicções religiosas do conservador povo britânico?
      Vale Owen era um sacerdote, membro de poderosa ramificação religiosa que havia monopolizado o sentimento de religiosidade dos povos da Inglaterra e de outras nações. Nessa altura dos acontecimentos ele já estava trabalhando nas lides espíritas e havia-se integrado entre os homens de renome que deram grandes passos no sentido de implantar as idéias espíritas naquele país.
      Os problemas relacionados com o Espírito, despertaram em Owen a intenção de fazer com que um novo conceito de Deus se tornasse acessível às criaturas humanas, conceito esse despojado de dogmas, de ritos, de fanatismo e de obscurantismo. Animado desse propósito foi buscar na carreira eclesiástica um meio mais rápido e eficiente de colocar-se em contacto com as almas daqueles que desejavam encaminhar-se para uma vida melhor e mais segura, no além-túmulo.
      Aconteceu a Vale Owen o que sucede geralmente com muitas pessoas dotadas de poderosa vocação: distanciou-se do roteiro palmilhado por sacerdotes sectaristas. O seu objetivo foi então o de procurar desesperadamente a verdade, o único caminho que conduz a Deus.
      Owen conseguiu chegar ao sacerdócio solidamente alicerçado nos princípios filosóficos e científicos, os quais lhe propiciaram profunda perspicácia no sentido de adentrar o âmago de todas as questões que reclamam a atenção da mente humana.
      Realizou seus primciros estudos no famoso "Colégio da Rainha", passando em seguida ao Instituto Midland, onde atingiram os mais elevados graus os seus conhecimentos científicos e religiosos.
      Ordenou-se sacerdote em Liverpool, quando tinha apenas 24 anos de idade, tendo sido designado para desempenhar o seu ministério no humilde curato de Seaford. Ele era um homem humilde, embora atrás dessa humildade cristã ocultasse uma fortaleza de ânimo e um Espírito sempre predisposto para a luta. Devido a essa humildade e apesar de sua sólida formação espiritual, jamais logrou alcançar um lugar proeminente no seio do clero ou qualquer projeção dentro de sua Igreja.
      Os desígnios de Deus, no entanto, eram outros, e nos humildes curatos de Seaford, de Pairfields e de S. Mateus, bem como nos subúrbios de Liverpool e mais tarde nas cercanias de Oxford, dedicou-se com verdadeiro devotamento ao seu ministério, e quanto mais se sentia perto de Deus, mais ficava abalado em sua situação de sacerdote.
      No propósito de buscar um contacto mais íntimo com o mundo espiritual lembrou-se do "Batei e abrir-se-vos-á" dos ensinamentos evangélicos e, com isso viu desabrochar a sua mediunidade, graças à interferência de sua mãe, desencarnada em 1909, e que começou a dar suas primeiras manifestações em 1913.
      A princípio ele relutou em aceitar a realidade dos fatos, dado o seu excessivo apego à verdade. Não tardou muito em ter as provas mais convincentes, o que fez com que se convertesse inteiramente ao espiritismo.
      As mensagens recebidas foram condensadas em quatro livros. Nessa época começou a receber mensagens de um Espírito que se intitulava "Astriel" mensagens essas eivadas da mais profunda filosofia. Sua primeira obra, "Os baixos Campos do Céu" e, logo a seguir, "Os Altos Campos do Céu", tiveram notável repercussão. A fase seguinte foi a publicação do livro "Os Mistérios do Céu", inspirada por um Espírito que se subscrevia "Leader".
      Espírito esse que assumiu um controle único sobre todas as comunicações dadas posteriormente e cujo nome ele próprio mudou para "Ariel", formando o quarto e último livro "Os Batalhões do Céu".
      Os prólogos das obras de Vale Owen foram elaborados por "Sir" Arthur Conan Doyle, o genial criador de Sherlock Holmes, o que demonstra o elevado sentido das comunicações recebidas do plano espiritual. Num desses prólogos dizia o famoso escritor inglês: "Com que segurança se afirma que Deus fechou as fontes da inspiração há 2000 anos. Não é infinitamente mais razoável dizer-se que um Deus vivente continua demonstrando sua força vivente e que novas ajudas e novos conhecimentos continuam a ser por ele derramados para impulsionar a evolução dos homens?"
      Lord Northcliffe tinha sérias e profundas inquietudes espiritualistas que em nenhum momento foram sufocadas por sua imensa fortuna material. Ele descobriu Vale Owen e por isso pôs sua fortuna e influência no afã de divulgar as obras do famoso médium, não receando jamais colocar em jogo o seu prestígio e a sua fortuna, na realização de uma obra que ele considerava extraordinária e mesmo absurda e atrevida para a época. Ele era um periodista de nervos fortes, de coração e de vocação, que jamais titubeou em publicar o que era atualidade e realidade, mesmo que isso viesse a redundar num abalo do seu prestígio de diretor de uma cadeia enorme de jornais diários.
      Lord Northcliffe afirmou ainda, referindo-se a Owen: "Encontrei-me frente a um homem dotado de grande sinceridade e de uma convicção inabalável; era possuidor de grandes dotes espirituais e quando lhe ofereci grossa quantia em dinheiro para a publicação de suas obras, ele a recusou, solicitando apenas o suficiente para uma modesta publicação de seus livros.
      Essas obras poderiam dar a Vale Owen imensa fortuna, dado o interesse que elas despertaram; poderiam ter dado ao médium facilidades para deixar o pobre quarto onde habitava em Oxford, podendo ainda, com esse dinheiro, aspirar a uma paróquia mais respeitável, entretanto, tudo foi recusado por ele e esse dinheiro foi investido por Lord Northcliffe em obras filantrópicas.
      Os trabalhos do médium, publicados no "Correio Semanal", fizeram com que esse periódico atingisse tiragens surpreendentes. Suas obras são conhecidas na Inglaterra por "Escrituras de Owen". Sabe-se que a versão de seus livros para o vernáculo seria sob o título "A Vida Além do Véu".
      O êxito colimado por ele no campo espírita acarretou-lhe a perda da sua paróquia, pois a ela teve que renunciar, perdendo a fonte de onde tirava o necessário para o seu sustento. Nesse evento ele proclamou: "Muitos são os que podem ser vigários de Oxford, porém não são muitos os que podem fazer o meu trabalho de propaganda".
      Aos 53 anos de idade George Vale Owen iniciou sua tarefa de divulgação do Espiritismo. Dirigiu-se aos Estados Unidos da América onde ele já estava bem difundido, fazendo ali muitas prédicas, grangeando grande número de amigos e discípulos, tendo posteriormente regressado à Inglaterra, onde proferiu mais de 150 conferências, esgotando todos os seus recursos materiais e ficando quase na indigência.
      "Sir" Arthur Conan Doyle, seu grande amigo, saiu em seu auxílio e encabeçou uma coleta com o nome de "Caixa de Vale Owen", que se encheu prontamente, porém o médium não fez dela qualquer uso.
      Em 1931 foi acometido de grave enfermidade, porém, prosseguiu na tarefa de propaganda sem dar demonstrações das horríveis dores que o acometiam. No dia 9 de março desse mesmo ano veio a desencarnar.


22
GUILHERME TAYLOR MARCH

            Nascido no planalto da Serra dos Órgãos, atualmente cidade de Teresópolis, no Estado do Rio de Janeiro, no dia 21 de agosto de 1838, e desencarnado na cidade de Niterói no mesmo Estado, no dia 21 de junho de 1922.

      Era filho de George March, cidadão nascido e criado em Portugal, mas inglês por direito diplomático, e de D. Ignácia March, de nacionalidade brasileira.
      George March havia adquirido, antes de 1821, uma gleba de mais de 170 milhões de metros quadrados de terra, que destinou à agricultura e à criação de cavalos de raça. Essa enorme Fazenda que primitivamente se chamava Fazenda dos Órgãos, passou a ser denominada Fazenda do March. A atual cidade de Teresópolis, no Estado do Rio de Janeiro, foi construída dentro de seus limites.
      Com a desencarnação de seu pai, Guilherme Taylor March, que nessa época tinha apenas 12 anos de idade, foi confiado a um tutor nomeado pela Justiça, o qual despendeu enormes quantias para que o jovem alcançasse aprimorada cultura, matriculando-o em vários colégios e posteriormente na Faculdade de Medicina da Corte, onde recebeu seu diploma de médico no dia 30 de novembro de 1859.
      O seu tutor foi demasiadamente pródigo no trato de seus bens, não administrou suas propriedades e depósitos bancários com a devida precaução, fazendo com que Guilherme March ficasse arruinado de bens materiais.
      Tendo sido acometido de varíola e, vivendo numa habitação coletiva, teria que ser removido para um hospital, entretanto, uma senhora espírita tratou-o com remédios homeopáticos, fazendo com que ele se restabelecesse, sem sequer ficar marcado pelas cicatrizes deformantes que as pústulas produzem. Esse fato fez com que Guilherme March se tornasse apologista da ciência de Hahnemann, passando a praticar essa terapêutica até a data da sua desencarnação.
      Observando os exemplos vivos propiciados pela sua hospedeira e por um velho espírita chamado Nascimento, que curava muita gente através da homeopatia e da sua mediunidade, mudou de modo de pensar. Viu que o verdadeiro Deus era diferente daquele que lhe mostraram no Colégio. Os exemplos vividos por ambos fizeram com que se interessasse pelo estudo das obras básicas de Allan Kardec, pois era muito culto, estudioso e poliglota.
      Sua conversão foi comprovada pelo seu filho Edmundo March, em carta datada de 22 de setembro de 1940, onde dizia: "Não fazendo alarde de sua crença, não a negava em absoluto. Educado como geralmente todos os do seu tempo, na religião católica, procurou, depois de emancipado, conhecer a Doutrina de Kardec e, tendo encontrado nela a melhor forma de Cristianismo, adotou-a".
      O Dr. March manteve relações cordiais com muitos vultos conhecidos do Espiritismo daquela época, dentre eles os Drs. Faria Júnior, Figueiras Lima, o médium Nascimento e muitos outros.
      Desprendendo-se de todo interesse material, passou a integrar-se inteiramente, de dia e de noite, sem fadigas nem revoltas, à tarefa sublime de suavizar os sofrimentos do próximo, tendo por isso merecido o cognome de "Pai dos Pobres". Fez isso por mais de cinquenta anos, descuidando-se de si e da própria saúde, numa afirmação patente de renúncia e de dedicação, tornando-se, por isso mesmo, um homem que realmente viveu os ensinamentos evangélicos, levando a paz e a saúde a milhares e milhares de sofredores de todos os matizes. Chegava mesmo a rasgar as próprias vestes a fim de enxugar lágrimas alheias.
      Alcançando grande projeção na cidade, muitos sacerdotes católicos tentaram atraí-lo, mesmo nos últimos momentos de sua vida, procurando fazê-lo em confissão, sendo preciso que seu filho lhes dissesse, sem rebuços, que não mais permitiria aquele assédio impertinente, porque seu pai desde muito adotara o Espiritismo e não aceitava dogmas e sacramentos religiosos.
      O Dr. March casou-se no Rio de Janeiro, em 1860, com D. Francisca de Paula Correia March. Pouco depois transferiu sua residência para Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, onde começou a clinicar intensamente. Possuía enorme clientela. A todos os pacientes que o procuravam ele passava a considerar um membro da sua família e, portanto, com direito à sua assistência material. Os pobres da cidade faziam verdadeiras romarias à sua casa, modesta residência onde morava e onde vivia do modo mais humilde possível.
      O nosso biografado ocupou um único emprego, o de clínico do consultório homeopático criado na Santa Casa de Misericórdia de Niterói, inicialmente sem remuneração e posteriormente recebendo o salário de cinquenta mil-réis mensais.
      Dada a sua dedicação extrema à pobreza, apesar de possuir uma das clínicas mais vastas da capital fluminense a sua renda era por demais reduzida. Sua situação econômica tornou-se muito crítica devido à enfermidade que o atacara na mocidade e que começava a tolher-lhe os movimentos locomotores.
      Nessa altura dos acontecimentos, a massa anônima, percebendo a situação precária em que vivia o grande missionário do bem, adquiriu e lhe fez doação de uma casa para que ele pudesse nela residir. Uma comissão de senhoras da melhor sociedade fluminense fez nova subscrição para adquirir os móveis.
      Tomando posse daquele imóvel, o Dr. March abriu-lhe as portas de par em par, e nunca mais as fechou, para que por ela entrassem livremente todos os infortunados e por isso exclamava: "Esta casa não é minha, mas de todos os que não tem teto".
      Durante cerca de 33 anos residiu o Dr. March na casa que lhe havia sido doada pelo povo e para onde entrou já enfermo. Posteriormente esse imóvel foi reformado a expensas do governo municipal.
      No dia 21 de junho de 1922, com a avançada idade de 84 anos, dos quais 63 dedicados ao exercício de atividades profissionais, desencarnou o velho apóstolo do bem. O sepultamento dos seus restos mortais foi uma apoteose.
      O povo em massa acorreu e carregou-lhe o féretro nos braços, até o cemitério, onde foi sepultado com flores e lágrimas. A Prefeitura Municipal de Niterói custeou-lhe os funerais e mandou que fosse hasteado, por 48 horas, o pavilhão municipal.
      O seu nome foi dado a um logradouro público da cidade. A Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro, denominou "Instituto Dr. March" a um grande e modelar educandário por ela fundado, onde estão abrigadas mais de 100 meninas.
      Esta é, portanto, a súmula muito apagada de sua grande vida. De um homem que, imobilizado em seu leito de dor durante 20 anos, mesmo assim socorria a todos aqueles que o procuravam. Trabalhou para minorar os sofrimentos alheios, sem encontrar quem pudesse suavizar os seus próprios sofrimentos.
      Na sua vida profissional havia assumido consigo mesmo o compromisso solene de cuidar dos aflitos e dos doentes, e assim a todos atendeu, não apenas receitando, mas doando os próprios medicamentos, no que era ajudado pela sua própria família que chegava muitas vezes a se privar de muitas coisas.
      Imobilizado sobre o leito, este virtuoso homem, cuja bondade o santificou em vida, nunca esboçou um murmúrio contra a justiça do Criador, jamais teve uma imprecação contra as provações que o acometiam.
      (Subsídios fornecidos por Alfredo D'Alcântara)
23
INÁCIO BITTENCOURT

            Nascido a 19 de abril de 1862, na Ilha Terceira, Arquipélago dos Açores, Freguesia da Sé de Angra do Heroísmo (Portugal), e desencarnado no Rio de Janeiro a 18 de fevereiro de 1943.

      Em plena juventude, emigrou para o Brasil, sem alimentar idéia de enriquecimento, mas buscando um ideal que sua intuição afirmava poder encontrar em sua segunda pátria.
      Sem qualquer proteção ou amparo, desembarcou no Rio de Janeiro, sozinho e com irrisória quantia no bolso. Entretanto, já era um jovem de caráter sério e de grandes dotes morais.
      Inácio Bittencourt foi um desses abnegados, que só se alegravam com a alegria do seu semelhante. Por isso foi aquinhoado com a mediunidade natural, que geralmente depende da evolução espiritual do indivíduo. Ela surgiu espontaneamente, sem qualquer esforço de planejamento, como um imperativo da essência de sua alma boa e sempre disposta à prática do bem.
      Aos vinte anos de idade inteirou-se da verdade espírita. Bastante enfermo e desesperançado, foi levado à presença de um médium chamado Cordeiro, residente na Rua da Misericórdia, no Rio de Janeiro, e, graças ao auxílio espiritual recebido, teve a sua saúde completamente restabelecida.
      Inconformado com a rapidez da cura, voltou e indagou do médium: "Não sendo o senhor médico, não indagando quais eram os meus padecimentos e não me tendo auscultado ou apalpado qualquer um dos órgãos, como pôde curar-me?"
      E a resposta veio incontinenti: "Leia "O Evangelho Segundo o Espiritismo" e "O Livro dos Espíritos". Medite bastante e neles encontrará a resposta para a sua indagação".
      Bittencourt seguiu o conselho e, desde logo, com grande surpresa e naturalidade, se apresentaram nele algumas faculdades mediúnicas.
      Descortinando novos horizontes, rompido o véu que impedia que conhecesse novas verdades, integrou-se resolutamente na tarefa de divulgação evangélica e de assistência espiritual aos mais necessitados.
      Bem cedo, com trinta anos de idade, sua personalidade alcançou grande destaque nos meios espíritas e mesmo fora deles. Poderia ter alcançado culminância na política, desde que aceitasse a indicação de seu nome para uma chapa de deputado, uma vez que era apoiado por vários senadores da República. Sua vitória na eleição não sofreria dúvida. Porém, sempre humilde, fugindo aos movimentos alheios à caridade, preferiu viver no seu mundo, no qual reinava a figura exponencial e amorosa de Jesus Cristo.
      Fundou a 1º de maio de 1912, e dirigiu-o durante mais de trinta anos, o semanário "Aurora", que se tornou conhecido e apreciado veículo de divulgação doutrinária. Sob sua presidência foi fundado em 1919 o "Abrigo Tereza de Jesus", tradicional obra assistencial até hoje em pleno funcionamento, com larga soma de benefícios a crianças desamparadas, de ambos os sexos.
      Fundou o Centro Cáritas, juntamente com Samuel Caldas e Viana de Carvalho, presidindo-o até a data da sua desencarnação. Tomou parte ativa na fundação da "União Espírita Suburbana" e do "Asilo Legião do Bem", que acolhe vovozinhas desamparadas. Durante alguns anos exerceu também a Vice-Presidência da Federação Espírita Brasileira, presidiu o "Centro Humildade e Fé", onde nasceu a "Tribuna Espírita", por ele dirigida durante alguns anos.
      A mediunidade receitista e curadora de Inácio Bittencourt mereceu diversas opiniões. Algumas vezes chegou a ser processado "por exercício ilegal da medicina", mas sempre foi absolvido. Em 1923 houve um acordão importante do Supremo Tribunal Federal, a respeito.
      Certa vez, no Centro Cáritas, ao ensejo de uma prece, ouviram-se na sala, de forma bastante nítida, acordes de um violino. O artista invisível executava estranha e belíssima melodia, envolvendo a todos em profunda emoção.
      Bittencourt, então, salientou que aquela audição representava magnânima manifestação da graça de Jesus Cristo, permitindo que chegasse ao grupo o de que mais ele necessitava, para compreender a ressonância de uma prece sincera no plano divino.
      Manifestações dessa natureza não eram raras no Centro Cáritas, possibilitando sempre vibrações amorosas dos encarnados, protegidas pelos Mentores Espirituais, de maneira que essas forças ali chegavam para as sensibilizantes demonstrações de afeto e carinho.
      Não foi somente como médium receitista e curador que Inácio Bittencourt grangeou a notoriedade, a estima e a admiração de todos, mas igualmente como médium apto a receber do Alto maravilhosa inspiração que, durante larga fase do seu mediunato, se manifestou notória e admirável, sempre que ele assomava às tribunas doutrinárias, principalmente à da Federação Espírita Brasileira, a cujas sessões de estudos comparecia com bastante assiduidade.
      Embora não fosse dotado de cultura acadêmica, escrevia artigos doutrinários de forma surpreendente, e fazia uso da palavra em auditórios espíritas de forma bastante eloqüente. O simples fato de dirigir um jornal de grande penetração como o foi "Aurora", demonstra a fibra e o valor desse seareiro incomparável e incansável.
      Com 80 anos de idade, retornou à patria espiritual, após lenta agonia.
      Dias antes da sua desencarnação, com a coragem e a serenidade de um justo, ditara para os seus familiares os termos do convite para os seus funerais:
      "A família Inácio Bittencourt comunica o seu falecimento. A pedido do morto, dispensam-se flores". Dona Rosa, sua bondosa companheira, ponderou: "Você amontoou flores na vida terrena, e essas flores virão agora engalanar a sua vida espiritual". O velho seareiro, dando, mais uma vez, prova admirável da capacidade de transigência do seu Espírito altamente evoluído, aquiesceu: "Está bem. Concordo com você e aceito as flores. Elas significarão a simpatia e o afeto de bondosos amigos para com o meu Espírito. Mas desejo que se transformem na derradeira homenagem que presto a você, nesta encarnação, ofertando-lhas logo após recebê-las.
      Nosso filho Israel se encarregará de proceder à oferenda".
      Inácio Bittencourt foi um exemplo vivo de virtudes santificantes. A todos os golpes de malquerença e a todos os gestos de ofensa, sempre replicava com sorriso e perdão. Soube sempre ser tolerante e compreensivo para com aqueles que o criticavam. Levou sempre a assistência material e espiritual a todos aqueles que dela necessitavam, fazendo com que sua ação fecunda e benfazeja se baseasse sempre nos lídimos preceitos evangélicos, pois, como poucos, ele soube viver e praticar os ensinamentos do Meigo Rabi da Galiléia.
      Falando com clareza e simplicidade, esforçou-se sempre em desvendar, para os seus semelhantes, o véu que oculta as verdades eternas que os homens chamam de mistérios divinos. Caminhou sempre sem protestos ou lamentações.
      Que a vida bem vivida desse grande propagador do Espiritismo possa nos servir de bússola a fim de nos orientar nos momentos de vacilações e de tribulações.
      As curas operadas através da mediunidade de Inácio Bittencourt foram das mais marcantes. Inúmeros casos, que eram considerados perdidos pela medicina oficial, foram resolvidos pela sua interferência, tornando-se assim um ponto de convergência para os sofredores de todos os matizes.
      (Subsídios fornecidos por Artur Silva Araújo)


24
JOÃO BATISTA PEREIRA

            O Dr. João Batista Pereira foi notável advogado, nascido na cidade de Cachoeiro do Itapemirim, Estado do Espírito Santo.

      Exercendo a advocacia no foro de S. Paulo, ali desenvolveu intensa tarefa em favor da divulgação do Espiritismo, principalmente nos idos de 1935 a 1940, quando se salientou como figura de projeção em quase todas as realizações do movimento espírita.
      Tribuno eloqüente e dotado de elevado conhecimento dos assuntos doutrinários, conseguiu empolgar grandes auditórios, o que fez com que seu nome se tornasse conhecido de todos os espíritas, principalmente no Estado de São Paulo.
      Foi presidente do Conselho Deliberativo da extinta Sociedade Metapsíquica de S. Paulo (S.M.S.P.) e um dos mais assíduos colaboradores da famosa revista "Metapsíquica", que durante muitos anos circulou no Brasil. Em março de 1936, foi um dos animadores da realização da Semana Metapsíquica, que culminou com a sessão solene de encerramento, no Teatro Municipal de S. Paulo, com o comparecimento de representações dos Estados do Paraná,
      Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e do antigo Distrito Federal. O seu esforço não se limitou à tribuna e imprensa espíritas, fez também publicar longos artigos de propaganda dos ideais espíritas na imprensa leiga. Na edição de 3 de outubro de 1936, do tradicional órgão da
      imprensa paulista "Correio Paulistano", fez publicar substancioso trabalho sobre a personalidade de Allan Kardec, o qual ocupou duas páginas.
      O trabalho de divulgação do Espiritismo, encetado por João Batista Pereira foi dos mais relevantes. Várias cidades do Estado de S. Paulo e de outros Estados do Brasil foram percorridas por ele, em autênticas tarefas doutrinárias. No dia 30 de janeiro de 1937, inaugurou uma série de
      conferências na sede da União Espírita Mineira, sediada em Belo Horizonte.
      Em 11 de dezembro de 1938, teve posição de destaque na realização da Grande Concentração Espírita, levada a efeito no Teatro Municipal de Araraqüara, Estado de S. Paulo, conclave inteiramente transmitido pela PRD-4-Rádio Cultura de Araraqüara, emissora que até poucos meses antes vinha sendo invariavelmente utilizada por Caírbar Schutel, na difusão de suas memoráveis conferências.
      Quando, na presidência do Conselho Deliberativo da Sociedade Metapsíquica de S. Paulo, se concretizou a integração dessa sociedade e da Associação Espírita S. Pedro e S. Paulo na Federação Espírita do Estado de S. Paulo, extinguindo-se as duas primeiras e permanecendo somente a última.
      No dia 20 de novembro de 1938, com a renúncia do então presidente e de outros diretores dessa Federação, numa chapa da qual constava o nome do Prof. Américo Montagnini, para vice-presidente, e Flávio Antônio Paciello, para segundo tesoureiro, o Dr. João Batista Pereira foi eleito
      presidente, cargo que desempenhou com apreciável descortino até o dia 10 de dezembro de 1939, quando resignou, passando a elevada investidura ao seu substituto legal.
      À frente da Federação Espírita do Estado de S. Paulo, desenvolveu ingente tarefa, dinamizando seus trabalhos, devendo-se a ele a ampliação da sede própria dessa instituição, na Rua Maria Paula, 158, cuja inauguração oficial ocorreu no dia 31 de maio de 1939. Sob a sua presidência, a Federação inaugurou nova fase de atividades, projetando-se como um dos mais laboriosos núcleos de ação em favor do movimento espírita.
      Pouco sabemos da vida pública do Dr. João Batista Pereira. Entretanto, teve grande repercussão em S. Paulo, a sua nomeação, pelo governo federal, em outubro de 1939, para o elevado cargo de membro do Conselho Administrativo da Caixa Econômica Federal em S. Paulo, função que exerceu com eficiência e dedicação.


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JOÃO FUSCO (JOFUS)

           João Fusco, mais conhecido por Jofus, nasceu na cidade de Araraqüara, Estado de São Paulo, no dia 1º de junho de 1895, e desencarnou em S. Paulo, com 50 anos de idade a 6 de julho de 1945.

      Filho de pais humildes e católicos, viveu a maior parte de sua infância e mocidade na cidade de Araraqüara, casando-se no ano de 1910, com D. Regina Pavezi Fusco. Fez ainda nessa mesma cidade os cursos primário e de Contabilidade e, mais tarde, em S. Paulo, estudou Ciências Econômicas. Era profundo conhecedor de Direito e História. Possuía marcante inteligência e uma personalidade moral que causava assombro a todos que com ele conviviam.
      João Fusco tornou-se espírita na cidade de Rio Preto, no longínquo ano de 1929, após ler alguns livros sobre Espiritismo. O que contribuiu decididamente para a sua conversão foi a cura, por seu intermédio, de uma senhora doente, após ter ela sido desenganada por médicos, padres, pastores e curandeiros.
      A partir dessa época tornou-se profundo estudioso das obras da Codificação Kardequiana. O Centro Espírita "Allan Kardec", da cidade de S. José do Rio Preto, foi o marco inicial de uma nova era na vida de João Fusco, pois os dirigentes daquela instituição, vendo nele um homem culto, estudioso, enérgico e moralista, resolveram entregar-lhe a direção do Centro.
      Jofus reorganizou vários Centros Espíritas do Estado de S. Paulo e do Triângulo Mineiro, instituindo a escrituração, elaboração de estatutos, quadro associativo, bibliotecas, venda e distribuição de livros, jornais e revistas espíritas. Instalou cursos de Evangelização da Infância, de estudos de "O Livro dos Espíritos", de alfabetização de adultos e crianças, de oratória e de desenvolvimento mediúnico, tornando-se mesmo um pioneiro na implantação das escolas espíritas.
      Encetou numerosas viagens pelos Estados de S. Paulo e Minas Gerais, proferindo palestras, distribuindo livros e folhetos de sua autoria, numa lídima campanha contra os conspurcadores da Doutrina Espírita. Em 1931 travou conhecimento pessoal com Caírbar Schutel, passando a manter estreito contacto com o apóstolo de Matão, em tudo aquilo que dizia respeito à difusão do Espiritismo, formando-se mesmo o eixo Matão-S. José do Rio Preto, na obra de esclarecimento e de combate aos pseudos cristãos.
      Entre os escritos de João Fusco podemos destacar os folhetos "O Anticristo", "Os Violadores da Lei", "Desfazendo Calúnias do Clero Romano", "Advertências", "Falsos Profetas", "Contrastes", "Aviso aos Incautos", "Deus", "Os Centros e suas Denominações", "Escola Nova", "Os
      Mortos Vivos", e outros.
      Em 1933 transferiu sua residência para S. Paulo e, nessa cidade, prosseguiu sua tarefa persistente em favor da disseminação do Espiritismo.
      Recebia diariamente volumosa correspondência vinda de pessoas que demandavam o consolo espiritual, conselhos e orientação para a cura do corpo e da alma.
      Jofus possuía várias faculdades mediúnicas, dentre as quais a vidência, audição, curas e transporte. Há uma enorme bagagem de feitos benéficos efetuados por intermédio desse saudoso companheiro, durante a sua permanência entre nós, notadamente no período de 1929 a 1945.
      Espírito varonil, comunicativo, afável para com todos, a sua palavra consolava sobremaneira. Todos sentiam-se bem em sua presença. Situava a Doutrina dos Espíritos acima de tudo e era intransigente no cumprimento dos seus deveres cristãos.
      Em 30 de janeiro de 1939 fundou no bairro do Itaim, na Capital do Estado de S. Paulo, o primeiro Centro Espírita a prestar homenagem ao apóstolo de Matão, dando-lhe o nome de Centro Espírita Caírbar Schutel. Foi ainda fundador de outras sociedades espíritas, dentre elas o Centro Espírita Ismael, em Vila Guarani, na mesma cidade, fato ocorrido no dia 30 de junho de 1940.
      O efeito de sua obra ainda hoje se faz sentir e sua amplitude não pode ser descrita numa pequena súmula biográfica.


26
JOÃO LEÃO PITTA

            Nascido no dia 11 de abril de 1875, na Ilha da Madeira, Portugal e desencarnado no dia 11 de fevereiro de 1957, no Brasil.

      João Leão Pitta fez os seus primeiros estudos em sua terra natal, cursando um colégio particular e alcançando um grau de instrução equivalente ao nosso curso secundário. Terminados esses estudos deliberou ir para o continente a fim de se aperfeiçoar e escolher uma carreira.
      Nessa altura surgiu um imprevisto: seus pais alimentavam a idéia de fazer com que ele seguisse a carreira eclesiástica e se ordenasse padre católico. Entretanto, a sua propensão era norteada no sentido de ser admitido na marinha portuguesa. Não conseguindo estudar o que aspirava, veio para o Brasil sem o consentimento de seus pais, aportando no Rio de Janeiro com apenas 16 anos de idade e com quatrocentos réis no bolso.
      Não tendo conhecidos nem parentes, empregou-se numa padaria, onde, pelo menos, tinha acomodação e alimentação. Não se sentindo bem na antiga Capital Federal, deliberou transferir-se para a cidade de Piracicaba, no Estado de S. Paulo, onde se casou com D. Maria Joaquina dos Reis, de cujo consórcio teve 12 filhos. Posteriormente voltou para o Rio de Janeiro, onde se ocupou da profissão de tecelão, chegando a ser contramestre da fábrica.
      Um acontecimento, no entanto, mudou o rumo de sua vida. Uma de suas filhas ficou bastante doente, e ele, sem recursos para sustentar sua numerosa prole e atender à enfermidade da filha, resolveu procurar um Centro Espírita. Não estava animado do propósito de haurir os benefícios doutrinários do Espiritismo, mas sim, de obter a cura de sua filha. Foi ali que conheceu um médium receitista.
      Pitta tinha o hábito de discutir. Porém, o médium não admitia discussões com referência à Doutrina Espírita e deu-lhe alguns livros para que os lesse. Fez as primeiras leituras com manifesta má vontade, mas, aos poucos, foi tomando interesse e estudou as obras básicas da codificação kardequiana.
      Com a desencarnação de três de suas filhas, vítimas de uma epidemia, sua esposa, cumulada de profundos desgostos, fez com que a família voltasse de novo para Piracicaba. Conhecedor do Espiritismo, não perdeu tempo e logo descobriu que, na cidade, as reuniões espíritas eram realizadas mais por curiosidade de que por apego aos estudos. Tomou então a deliberação de conclamar alguns amigos, demonstrando-lhes a responsabilidade moral de cada um, após o que conseguiu, em companhia de outros confrades, compenetrados do caráter sério e nobilitante da Doutrina dos Espíritos, fundar, no ano de 1904, a "Igreja Espírita Fora da Caridade não há
      Salvação", a pioneira das instituições espíritas da cidade.
      Logo após a fundação do Centro Espírita, o clero católico moveu-lhe acerba campanha e, como decorrência não conseguiu emprego na cidade e ficou sem crédito por mais de um ano. Todos lhe negavam serviço, apesar de ser homem honesto e trabalhador. Nesse período crítico de sua vida, sua esposa costurava para ganhar algum dinheiro, conseguindo assim amparar a família e superar a crise.
      Logo após, conseguiu arranjar emprego numa loja de ferragens de propriedade de Pedro de Camargo, que mais tarde se tornou o famoso Vinícius. Nessa firma trabalhou durante 20 anos, chegando a ser sócio interessado, tal a sua operosidade e honestidade à toda prova.
      Nos idos de 1926 à 1929, como pretendesse melhorar sua situação econômico-financeira, a fim de propiciar melhor educação para seus filhos, instalou uma fábrica de bebidas. Tudo ia bem. Porém, como estivesse sempre pronto a atender aos amigos e aos necessitados, impulsionado pelo seu bom coração, acabou perdendo tudo, mais de duzentos contos de réis, verdadeira fortuna
      naquele tempo. Viu-se então face à dura contingência de hipotecar sua própria moradia, perdendo-a por excesso de amor ao próximo.
      Em 1930, resolveu trabalhar na divulgação do Espiritismo, fazendo propaganda e angariando assinaturas para a "Revista Internacional de Espiritismo" e para o jornal "O Clarim". Deixou o convívio sossegado de seu lar, de seus filhos, para viajar pelo Brasil, percorrendo centenas de
      cidades, pregando o Evangelho e disseminando aquelas publicações e as obras espíritas do grande missionário que foi Caírbar Schutel.
      Em todas as cidades por onde passava, fazia suas pregações doutrinárias.
      Profundo conhecedor dos textos evangélicos, esmiuçava-os com profundidade e com bastante clareza, tornando-os inteligíveis para todos. Quando falava, suas palavras eram cadenciadas e precisas.
      Nessa obra missionária viveu 21 anos ininterruptos, percorrendo vários Estados do Brasil, notadamente Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
      Os transportes por ele utilizados eram dos mais precários. Muitas vezes fazia longas caminhadas a pé, a cavalo, de trem, de caminhão e de ônibus, alimentando-se e dormindo mal. Tinha imenso prazer em atender aos convites que lhe eram formulados e, sentindo-se sempre inspirado pelo Alto, levava o conhecimento de "O Evangelho Segundo o Espiritismo" a milhares de pessoas e lares. Fez milhares de conferências em Centros Espíritas, praças públicas e cinema.
      Nessas extensas caminhadas, algumas de muitos quilômetros, auxiliava os mais necessitados com os recursos que ia amealhando. Socorria muitas pessoas, sem distinção de crença religiosa, dando-lhes dinheiro para consultar médicos, comprar óculos, adquirir mantimentos e para outros
fins.
      Era modesto no trajar. Possuía longas barbas brancas e a criançada o chamava de Papai Noel, pois também sabia brincar com as crianças e orientá-las. Sofria sempre calado, sem lamúrias, cônscio de que os sofrimentos na Terra são oriundos de transgressões cometidas em vidas anteriores.
      Com a idade de 75 anos, foi acometido de pertinaz enfermidade e submetido a delicada intervenção cirúrgica, vindo a desencarnar 6 anos mais tarde.
      João Leão Pitta deixou várias monografias inéditas.


27
JOSÉ PETITINGA

            Nascido no dia 2 de dezembro de 1866 e desencarnado a 25 de março de 1939.

      Cabe a José Florentino de Sena, mais conhecido por José Petitinga, a glória de fazer Espiritismo organizado no Estado da Bahia, tornando-se um dos espíritas de maior projeção naquele Estado.
      Consta que freqüentara e abandonara, em sua mocidade, por falta de recursos econômicos, um curso acadêmico. Era, no entanto, um homem dotado de sólida cultura geral, sendo notáveis suas lides jornalísticas, literárias e espíritas. Na qualidade de poeta, jornalista, contabilista e lingüista, era sobejamente estimado em sua época; como sertanista sabia recolher da Natureza virgem os grandes ensinamentos da vida. Grande conhecedor da nossa flora medicinal, jamais regateava a sua terapêutica de emergência a quantos dele se socorriam nas muitas viagens que fazia ao longo do Rio São Francisco.
      Era zeloso cultor do vernáculo, ao ponto de merecer de César Zoma - político, latinista e orador baiano, a seguinte afirmação: "Não Bahia, em conhecimentos de latim, eu, e de português, o Petitinga".
      Com 21 anos de idade leu "O Livro dos Espíritos", e ulteriores estudos e perquirições levaram-no a fundar, na cidade de Juazeiro, o "Grupo Espírita Caridade", onde foram recebidas, através do conceituado médium Floris de Campos Neto, belas e incentivadoras mensagens da entidade espiritual que assinava "Ignotus".
      Indo, em 1912, para a adade do Salvador, Petitinga reviveu em sua residência, o "Grupo Espírita Caridade", aí reunindo companheiros realmente dedicados à Doutrina dos Espíritos e isentos do personalismo desagregador. Convidado, logo após, a participar do "Centro Espírita
      Religião e Ciência", que passava por uma fase de declínio, ele tudo fez para restaurá-lo. Mesmo com os poderes extraordinários que a Assembléia Geral lhe outorgou, tudo foi em vão.
      Notando que a decadência daquela sociedade se devia em parte à falta de unidade doutrinária, à ausência de uma direção geral, Petitinga pensou, então, em fundar uma sociedade orientadora do movimento espírita no Estado, o que conseguiu materializar no dia 25 de dezembro de 1915, quando, em histórica reunião realizada na sede do "Grupo Espírita Fé, Esperança e Caridade", instalou a UNIÃO ESPÍRITA BAIANA, hoje transformada em Federação Espírita do Estado da Bahia.
      No início a União Espírita Baiana não tinha sede em lugar definido, transferindo-se várias vezes de local, até que nasceu, cresceu e vingou a idéia da aquisição de sede própria, tão necessária à tranqüilidade dos dirigentes daquele movimento divulgador do Espiritismo. Em 4 de julho de
      1920, a Diretoria recebia plenos poderes para trabalhar naquela direção e, em 3 de outubro do mesmo ano, foi solenemente inaugurada a sede própria situada no histórico Terreiro de S. Francisco (hoje Praça Padre Anchieta nº 8), onde funciona até o presente.
      José Petitinga nasceu na fazenda denominada "Sítio da Pedra", margem direita do Rio Paraguaçu, termo de Monte Cruzeiro, Comarca de Amargosa, no Estado da Bahia, e desencarnou na cidade de Salvador. Era filho de Manoel Antônio de Sena e Maria Florentina de Sena.
      Jornalista com brilhante atuação em diversas publicações da época, poeta elogiado por Sílvio Romero, Múcio Teixeira, Teotônio Freire e outros literatos de renome, orador fluente e ilustrado, José Petitinga se constituiu de direito e de fato, o centro de convergência do movimento espírita naquele Estado, que teve as primícias da propaganda doutrinária em nosso país. Sua figura, misto de humildade e austeridade, tornou-se popular naquela velha capital, infundindo respeito e consideração até aos próprios adversários da Doutrina Espírita.
      São de sua autoria os livros de poesias "Harpejos Vespertinos", "Madressilvas" e "Tonadilhas", obras essas que mereceram grandes elogios de vários jornais importantes da época, inclusive do "Jornal do Comércio", do Rio de Janeiro. O nome Petitinga foi usado como pseudônimo, nos primeiros artigos que escreveu, para fugir à censura paterna e de seus patrões, que não admitiam que um rapazola se metesse em lutas políticas, desafiando com sua preclara inteligência tradicionais políticos da época.
      Colaborou assiduamente em vários jornais e publicações de Nazaré, Amargosa, Juazeiro, Salvador e outras cidades.
      Em face da popularidade do pseudônimo, pelo qual passou a ser conhecido em todo o mundo, resolveu adotá-lo como sobrenome, em substituição ao "Florentino de Sena", fazendo, para tanto, declaração pública através de Cartório.
      José Petitinga, exemplo fiel de perseverança e trabalho, presidiu a União Espírita Baiana até a data da sua desencarnação, dando tudo de si - material e espiritualmente - para o engrandecimento daquela tradicional instituição e para a difusão do Espiritismo naquele grande Estado
      brasileiro.


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JÚLIO ABREU FILHO

            Nascido na cidade de Quixadá, Estado do Ceará, a 10 de dezembro de 1893, e desencarnado em S. Paulo, no dia 28 de setembro de 1971.

      Fez os cursos preparatórios no Estado do Ceará, no Colégio S. José (Serra do Estêvão). Em 1911, ingressou na Escola Politécnica da Bahia, sediada em Salvador, não chegando a completar o curso. Em seguida transferiu-se para a cidade de Ilhéus, também no Estado da Bahia, onde passou a trabalhar na Delegacia de Terras, da Secretaria da Agricultura. Foi funcionário da
      Prefeitura Municipal e da Estrada de Ferro Inglesa, participando ativamente da construção do trecho Ilhéus-Conquista, naquele mesmo
Estado.
      No ano de 1921, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar na companhia Light. Em 1929, ainda trabalhando nessa mesma empresa, foi transferido para São Paulo, participando da construção da usina hidroelétrica de Cubatão.
      Nos idos de 1934 e 1935 dedicou-se ao magistério secundário, lecionando em vários colégios da Capital paulista. Em 1936, como funcionário da Secretaria da Agricultura do Estado de S. Paulo, secção de engenharia rural, tomou parte saliente em vários e importantes projetos no interior do Estado.
      No seio do Espiritismo exerceu numerosas atividades. Foi membro da diretoria da União Federativa Espírita Paulista. Participou ativamente da fundação da União das Sociedades Espíritas do Estado de S. Paulo, da qual foi conselheiro durante muitos anos. Teve marcante atuação no 1º Congresso Brasileiro de Unificação Espírita, realizado em S. Paulo.
      No ano de 1949, deu início a gigantesca tarefa de verter para o vernáculo a "Revue Spirite", revista espírita publicada por Allan Kardec durante doze anos consecutivos. Com esse propósito fundou a "Édipo –Edições Populares", lançando concomitantemente o jornal "Édipo" que teve vida efêmera. A divulgação da tradução da "Revue Spirite" foi mais tarde encetada pela "Edicel", de S. Paulo.
      De sua bibliografia constam os livros "Erros Doutrinários", "Poeira da Estrada". Efetuou também a tradução para o português das obras "O Evangelho Segundo o Espiritismo" e "Profecias de Daniel e o Apocalipse".
      Júlio Abreu Filho colaborou assiduamente em muitos jornais e publicações espíritas. Era orador bastante requisitado, tendo ocupado a tribuna de numerosas instituições espíritas. Foi ainda representante no Brasil, de vários organismos espíritas do exterior.
      Nos últimos anos de sua vida viveu paralítico, passando por sofrimentos que lhe causaram muitos dissabores.


29
JUVÊNCIO DE ARAÚJO FIGUEIREDO

           Nascido a 27 de setembro de 1865, em Coqueiros, Florianópolis, Estado de Santa Catarina, e desencarnado a 6 de abril de 1927, na mesma cidade.

      Juvêncio de Araújo Figueiredo foi um infatigável servidor da Doutrina Espírita, devendo-se a ele grande parte dos trabalhos de divulgação que foram realizados no Estado de S. Catarina.
      Iniciou sua vida como tipógrafo, passando posteriormente a colaborar em vários jornais, tanto de sua terra como de outros pontos do país. Poeta mavioso, teve a honra de fazer parte de um grupo de beletristas, do qual faziam parte Cruz e Souza, Santos Lostada, Oscar Rosas, Virgílio Várzea, Horácio de Carvalho e outros. Em 1904, escreveu "Ascetérios". Logo após produziu alguns trabalhos inéditos, tais como "Praias" e "Novenas de Maio."
      Foi companheiro e amigo predileto do genial Cruz e Souza, fazendo parte da Academia Catarinense de Letras, onde ocupava o número 17. No exercício de funções públicas, foi secretário da Municipalidade, em São José, naquele Estado, galgando posteriormente o elevado cargo de secretário da Assembléia Legislativa, em Florianópolis.
      Araújo Figueiredo foi um dos mais notáveis médiuns espíritas, podendo-se mesmo dizer que foi uma das raras jóias da mediunidade, pois, além das incalculáveis possibilidades que os Espíritos do Senhor nele encontravam para suavizar as dores dos alquebrantados da alma e do corpo, era dotado de notável poder de análise e de discernimento. A sua mediunidade era das mais seguras, pois, como médium meticuloso e amante da verdade, tudo submetia ao crivo da razão e da lógica.
      Correm por centenas os fatos produzidos por seu intermédio, principalmente as extraordinárias curas que conseguia realizar. Era também de se admirar as revelações que fazia a respeito daqueles que chegavam até a sua casa, atraídos meramente por curiosidade sobre os fenômenos que se produziam por seu intermédio.
      Araújo Figueiredo viveu na Terra 62 anos, grande parte dos quais destinados à difusão do Espiritismo. Os que tiveram a oportunidade de conhecer ou conviver com esse grande seareiro, médium e conselheiro, puderam sentir o quanto vale um homem que tem dons de Espírito e que os coloca a serviço do seu próximo.
      (Dados biográficos extraídos do "Boletim Espírita", de Florianópolis)


30
MIGUEL VIVES Y VIVES

          Nascido na Espanha e ali desencarnado, na cidade de Tarrasa, no dia 23 de janeiro de 1906.

      A Espanha foi o berço dos grandes Congressos Espíritas, tendo os espanhóis exercido verdadeiro pioneirismo nesse campo, bastando citar o Congresso Espírita Internacional de 1888, levado a efeito em Barcelona. Em congressos realizados posteriormente, principalmente no de 1934, a delegação espanhola desenvolveu ingente tarefa em favor da tese reencarnacionista.
      Anteriormente à guerra civil de 1936 à 1939, a Espanha se destacava, de forma inusitada, na divulgação do Espiritismo, bastando dizer-se que já em 1873 havia sido proposto no Parlamento Espanhol o ensino da Doutrina Espírita.
      Miguel Vives y Vives foi um dos mais destacados vultos do Espiritismo naquele país. Seu nome teve projeção mundial e sua ação foi das mais notórias. Quando um homem consegue cumprir fecunda tarefa na defesa e difusão do ideal que sustenta, fazendo dele um culto e predispondo-se a
      lutar de forma ininterrupta em seu favor, podemos, na realidade, qualificá-lo de apóstolo.
      Vives y Vives foi o Apóstolo do Espiritismo na Espanha e, pela população de Tarrasa, era denominado Apóstolo do Bem.
      Foi um exemplo vivo de abnegação. Evangelizou pela palavra escrita e falada - através da tribuna, do livro e da imprensa. Toda a sua obra se apoiou sobre a força moral da exemplificação e vivência dos ideais espíritas e cristãos.
      Fundou a "Federação Espírita de Vallés", da qual surgiu a "Federação Espírita da Catalunha", entidade que teve vida efêmera. Em Tarrasa fundou o "Centro Espírita Fraternidade Humana" e lançou a famosa obra "Guia Prático do Espírita", há muitos anos vertida para o português, em edição da Federação Espírita Brasileira. Mais recentemente, a "Edicel", de S. Paulo, lançou, no vernáculo, a sua obra também famosa "O Tesouro dos Espíritas".
      Foi também fundador da revista "União", órgão esse que se incorpou à revista "La Luz del Porvenir", de marcante atividade na difusão dos ideais reencarnacionistas. Foi presidente do "Centro Barcelonês de Estudos Psicológicos".
      Sua esplendorosa mediunidade fez com que se desenvolvesse, em Tarrasa, verdadeira obra em favor dos necessitados do corpo e da alma, socorrendo os desajustados, os enfermos e os humildes, ao ponto de, ao desencarnar, causar profundo golpe à população daquela cidade espanhola. As fábricas paralisaram suas atividades, o comércio cerrou suas portas à hora do sepultamento do seu corpo, a fim de permitir aos seus empregados o acompanhamento do esquife ao cemitério. Durante o trajeto, verdadeira muralha humana se formou ao longo das ruas e na necrópole, no propósito de atender aos pedidos de todos que desejavam vê-lo, o ataúde permaneceu aberto durante uma hora e aproximadamente 5.000 pessoas desfilaram diante dele.
      Ele não era político, não cortejava a popularidade e, no entanto, graças ao seu exemplo de abnegação, recebeu uma das maiores consagrações públicas de sua terra, apesar de viver num país de profundas tradições católicas, onde homens e livros foram queimados no decorrer de muitos séculos.
      Miguel Vives foi notável espírita. Foi um homem que se dignificou pela prática das boas obras e pelo desempenho de verdadeira missão de tolerância e de amor.
      Num dos seus escritos, publicados na revista "A Doutrina" órgão da "Federação Espírita do Paraná", de cuja instituição era sócio honorário, escreveu em 1906: "Os Centros Espíritas devem ser a catedra do Espírito de Verdade, porque a não ter o Espírito de luz a sua cátedra, teria sua influência o Espírito do erro e infelizes deses Espíritos que se acham sob a influência do Espírito das trevas, porque pouco, muito pouco se adiantam na senda do progresso.


31
PEDRO DE CAMARGO VINÍCIUS

           Nascido no dia 7 de maio de 1878, na cidade de Piracicaba, Estado de S. Paulo, e desencarnado no dia 11 de outubro de 1966, na cidade de São Paulo.

      Não se pode fazer o esboço histórico do Espiritismo no Estado de S. Paulo, na primeira metade do presente século, sem levar em consideração a personalidade inconfundível de Pedro de Camargo, mais conhecido pelo pseudônimo de Vinícius.
      Os seus primeiros anos de escolaridade foram feitos no Colégio Piracicabano, educandário de orientação metodista, de fundação norte-americana. A diretora do estabelecimento era então a missionária Martha H. Watts, de quem Pedro de Camargo guardou sempre as mais caras recordações e grande admiração. São dele as seguintes palavras extraídas de um artigo que escreveu por ocasião da desencarnação daquela missionária, ocorrida nos Estados Unidos: "Sempre que se oferecia ensejo de inocular princípios de virtude e regras de moral, era quando se mostrava admirável, comprovando a rara e excepcional competência de que fora dotada para exercer tão sublime missão.
      Eu bem me lembro que perto de Miss Watts ninguém era capaz de mentir ou dissimular; as traquinadas e travessuras, escondidas cautelosamente, eram-lhe fielmente narradas quando nos interpelava, tal o império que sobre nós sabia exercer, sem jamais usar para isso de outro meio que não a força do bem e o devotamento com que praticava seu sagrado sacerdócio.
      Muito lhe deve a sociedade piracicabana; muito lhe devem seus ex-alunos; muito lhe devo eu.
      Os princípios salutares de moral que me ministrou, assim como os conselhos elevados que me dispensou com tanto carinho e solicitude durante minha infância, repercutem-me ainda na alma como uma voz amiga que me dirige os passos, e por isso, ao saber que ela já não mais vive na Terra, rendo-lhe este preito de homenagem, simples e singelo, porém sincero e verdadeiro,
      como que desfolhando sobre a campa da querida mestra umas pétalas humildes que em seguida o vento arrebatará, mas cujo tênue perfume chegará até ela, levando-lhe o penhor de minha gratidão pelo muito que de suas benfazejas mãos recebi."

* * *

      Durante muitos anos, Pedro de Camargo presidiu a Sociedade de Cultura Artística, de Piracicaba, tendo a oportunidade de levar para lá famosos artistas.
      Jamais teve tendência para a política. Chegou a assumir uma cadeira de Vereador, na Câmara Municipal de Piracicaba, eleito por indicação do extinto Partido Republicano. Como não quisesse "seguir outra disciplina que não fosse a do dever, e ouvir outra voz que não a da razão e da consciência", dizia ele mais tarde --esse critério não serviu ao Partido, por isso não o quiseram mais.
      Os estudos bíblicos eram metódicos no Colégio Piracicabano, de maneira que Pedro de Camargo se tornou um dos maiores entusiastas dessa matéria, tornando-se mais tarde uma das maiores autoridades no trato da exegese evangélica.
      No ano de 1904, foi fundada em Piracicaba a primeira instituição espírita da cidade, com o nome de Igreja Espírita Fora da Caridade não há Salvação.
      Dentre os seus fundadores salientava-se a figura veneranda de João Leão Pitta. O funcionamento dessa tradicional instituição acarretou a esse pioneiro uma série de perseguições movidas por inspiração de outras entidades religiosas, chegando ao ponto de não conseguir nem mesmo um emprego, tão necessário para o amparo de sua família, a qual ficou mais de um ano na eminência de completo desamparo.
      Um ano mais tarde, em 1905, Pedro de Camargo interessou-se pelo Espiritismo, uma vez que nele encontrou a solução para tudo aquilo que constituía incógnitas em seu Espírito. Tomando conhecimento do que sucedia com Leão Pitta, prontamente o empregou em sua loja de ferragens e, como segundo passo, desfez a secção de armas de fogo que representava apreciável fonte de renda em seu estabelecimento comercial.
      Durante cerca de trinta anos, Pedro de Camargo desenvolveu, em sua cidade natal, profícuo e intenso trabalho de divulgação das verdades evangélicas à luz da Doutrina Espírita. Nessa época passou a adotar o pseudônimo de Vinícius; suas preleções eram estenografadas e logo em seguida largamente difundidas, fazendo com que sua fama se propagasse por toda a circunvizinhança.
      No ano de 1938, transferiu seu domicílio para a cidade de S. Paulo. Ali substituiu o confrade Moreira Machado na presidência da União Federativa Espírita Paulista e, juntamente com Thietre Diniz Cintra, fundou uma escola para evangelização da infância e juventude, tendo para tanto elaborado normas e diretrizes para esse gênero de educação.
      Em 1939 tornou-se um dos diretores do Programa Radiofônico Espírita Evangélico do Brasil, levado ao ar, diariamente, através da Rádio Educadora de S. Paulo. Em 31 de março de 1940, quando a União Federativa Espírita Paulista fundou a Rádio Piratininga, emissora de cunho nitidamente espírita, Vinícius foi eleito seu diretor-superintendente e, em companhia de outros valores do Espiritismo paulista, orientou aquela emissora e seu programa espírita diário até o ano de 1942.
      Nessa época Vinícius já havia se integrado na Federação Espírita do Estado de S. Paulo, tornando-se um dos seus conselheiros e ali introduzindo as suas "Tertúlias Evangélicas", realizadas todos os domingos de manhã, com apreciável assistência que invariavelmente superlotava o seu salão.
      Durante muitos anos, foi delegado da Federação Espírita Brasileira, em S. Paulo, representando-a em todas as solenidades onde a sua presença se fazia necessária.
      Quando a Federação Espírita do Estado de S. Paulo, em março de 1944, lançou o seu órgão "O Semeador", Vinícius foi designado seu diretor-gerente, cargo que desempenhou durante mais de uma década, emprestando àquele jornal a sua costumada cooperação.
      Em outubro de 1949, em companhia de Carlos Jordão da Silva, integrou a representação do Estado de S. Paulo junto ao 2º Congresso Espírita Pan-americano, conclave de grande repercussão que se realizou no Rio de Janeiro. No ensejo desse acontecimento, reuniram-se na antiga Capital Federal várias representações de entidades espíritas de âmbito estadual, as quais, numa feliz gestão, conseguiram materializar o sonho de muitos seareiros espíritas, criando o Conselho Federativo Nacional e assinando o célebre Pacto Áureo de Unificação. Pedro de Camargo foi um dos signatários desse importante instrumento de pacificação espírita nacional, no dia 5 de outubro de 1949.
      Vinícius foi assíduo colaborador de numerosos órgãos espíritas. De sua bibliografia destacamos os livros: "Em torno do Mestre", "Na Seara do Mestre", "Nas Pegadas do Mestre", "Na Escola do Mestre, "O Mestre na Educação", e "Em Busca do Mestre", obras de marcante relevância no campo da divulgação evangélico-doutrinária.
      A sua ação se fez sentir vigorosamente quando se cogitou da fundação de uma instituição educacional espírita. Lutou durante muitos anos por esse ideal. Exultou-se com a fundação do Educandário Pestalozzi, na cidade de Franca, entretanto, o seu sonho concretizou-se quando da fundação do "Instituto Espírita de Educação", do qual foi presidente. No âmbito desse instituto foi fundado o "Externato Hilário Ribeiro", em cuja direção permaneceu até o ano de 1962.
      A par de todas essas atividades, Pedro de Camargo ocupava assiduamente as tribunas das instituições espíritas, principalmente as da Capital do Estado, tornando-se um dos oradores mais requisitados e o que sempre conseguia atrair maior assistência. Homem dotado de ilibado caráter, comedido em suas atitudes e de moral inatacável, tornou-se, de direito e de fato, verdadeira bandeira do movimento espírita. Quando seu nome figurava à testa de qualquer realização, esta infundia confiança e respeito, dada a indiscutível projeção do seu nome e a sua qualidade de paladino das causas boas e nobres.
      Vinícius também teve notória atuação no campo da assistência social espírita, situando, entretanto, em primeiro plano o trabalho em prol do esclarecimento evangélico-doutrinário, imprescindível à iluminação interior dos homens.


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PEDRO LAMEIRA DE ANDRADE

            Nascido na cidade do Rio de janeiro, em 16 de setembro de 1880, e desencarnado em São Paulo, no dia 1º de março de 1938.

      Numa época quando o Espiritismo era ainda muito mal compreendido, e quando reinava verdadeira desunião entre os seus adeptos e até no seio de suas instituições, um vulto notável e infatigável surgiu no cenário da divulgação doutrinária, constituindo-se num dos mais salientes espíritas da época.
      Nos anais da História do Espiritismo, os registros biográficos do Dr. Pedro Lameira de Andrade são bastante escassos, em flagrante contraste com o vulto da obra que tão bem soube desempenhar, e que projetou o seu nome na posteridade. A exemplo do que sucedeu com outros grandes missionários, cujas obras foram legadas aos homens das futuras gerações, através dos informes de discípulos dedicados, a missão fulgurante de Lameira de Andrade somente é suficientemente conhecida por aqueles que com ele conviveram, os quais a ele se referem como um autêntico benfeitor da Humanidade, um homem que procurou impulsionar seus companheiros de jornada terrena, na senda do aprimoramento espiritual e do aculturamento, poderosas alavancas que atuam no laborioso processo de reforma íntima das criaturas humanas.
      Seus pais foram Boaventura Plácido Lameira de Andrade e Carolina Levereuth de Andrade, tendo o seu nascimento corrido no bairro de Vila Isabel, no antigo Distrito Federal. Aos 17 anos de idade, perdeu seu pai e, atendendo a um convite de seu padrinho foi para São Paulo, ingressando no Colégio Mackenzie, onde se formou em Teologia. Não chegou a ordenar-se pastor protestante, em virtude de haverem surgido algumas divergências entre ele e o reitor do Seminário.
      Lameira era exímio tenor e, em 1904, casou-se com D. Elvira Silveira, pianista e professora de Pedagogia e Psicologia da Escola Normal. Desse consórcio teve seis filhas. Nessa época ele era também professor de português, grego e latim, lecionando na escola da Força Pública, atual Polícia Militar de S. Paulo. Ingressando na Facudade de Direito de S. Paulo, formou-se em 1912. Dessa data em diante deixou de lecionar para consagrar-se à profissão de advogado, tendo montado escritório em S. Paulo.
      A desencarnação de sua filha mais idosa, deixou-o desolado e revoltado, passando a descrer de tudo. Aconselhado por amigos procurou o Espiritismo, doutrina que lhe trouxe o consolo e a certeza da imortalidade da alma.
      Na década de 1920, Lameira de Andrade já antevia a necessidade da instrução como fator decisivo para a libertação do Espírito, através do conhecimento da verdade, por isso sonhava com a fundação de escolas primárias e ginásios, que viessem a funcionar alicerçados nos postulados da Doutrina Espírita. Nos idos de 1928 e 1929, com vistas ao desenvolvimento de um programa nesse sentido, ao lado de outros companheiros que estavam inspirados do mesmo ideal, lutou arduamente para a implantação de um instituto de ensino que servisse de modelo para as futuras organizações do gênero. Seu sonho concretizou-se quando viu funcionar o Liceu Espírita
      Brasileiro, entidade que teve vida efêmera, durando pouco mais de um ano.
      Entretanto, a semente ficou lançada.
      Homem dotado de um dinamismo invulgar, arrojado em seus cometimentos e animado de um idealismo inquebrantável, Lameira tornou-se figura bastante conhecida em todo o Brasil e principalmente no Estado de S. Paulo e no Rio de Janeiro, em cujo cenário, teve a oportunidade de desempenhar a sua gigantesca tarefa.
      A missão de Lameira de Andrade, no seio do Espiritismo, foi desenvolvida, em grande parte, ao lado do Dr. Augusto Militão Pacheco, renomado médico e um dos grandes baluartes espíritas da época. Através dos seus escritos, das suas conferências, esse infatigável seareiro não media esforços em suas peregrinações. Muitas cidades brasileiras foram por ele visitadas e seu nome conseguiu empolgar grandes auditórios, pois sabia abordar, com raro descortino, os ensinamentos evangélicos à luz da Doutrina Espírita.
      Foi procurador do "Abrigo Batuíra", tendo sido um dos seus fundadores.
      Durante 19 anos prestou inestimáveis serviços a "Instituição Verdade e Luz". Embora não conhecesse pessoalmente o grande missionário que foi Antônio Gonçalves da Silva Batuíra sucedeu-o na direção da revista "Verdade e Luz", fundada no ano de 1890. Foi membro da diretoria da Associação Espírita São Pedro e São Paulo, onde trabalhou intensamente e com raro devotamento, ao lado de grandes seareiros. Teve também marcante atuação no campo da assistência social, tendo nesse afã, chegado até o sacrifício.
      Foi ainda sócio benemérito da Cruz Azul de S. Paulo, tendo prestado a esse organismo o fruto de scu esforço, dando viva demonstração do scu Espírito magnânimo, sempre pronto a servir e a cooperar na implantação e desenvolvimento de obras altruísticas.
      Em 12 de julho de 1936, ao ser fundada a Federação Espírita do Estado de S. Paulo, Lameira de Andrade foi eleito seu orador oficial, em sua primeira diretoria, passando a representar aquela egrégia instituição em quase todas as solenidades promovidas pelas associações espíritas do Estado. Na própria Federação, ele era invariavelmente requisitado pelos freqüentadores, para proferir palestras, as quais eram bastante concorridas.
      Certa ocasião, chegada a hora designada para a realização de uma conferência sobre o tema "O Perdão", na Sede da Associação "Verdade e Luz" choveu torrencialmente. Apenas estavam na sede da instituição o orador,  Elói Lacerda e outros dois companheiros. Lameira, vendo o salão vazio, aventou a ideia de fazer uma prece e encerrar a reunião, sugestão prontamente repelida pelos presentes. A palestra foi proferida, portanto, como se o salão estivesse repleto. A determinada hora entrou no recinto uma pobre mulher, toda molhada, esperando resguardar-se da chuva.
      Assentando-se nas últimas cadeiras, passou a prestar inusitada atenção às palavras do conferencista.
      Ao finalizar a palestra, ela aproximou-se do orador e lhe disse: "Graças a Deus entrei nesta casa e ouvi suas palavras. Eu estava decidida a cometer um crime nesta noite. Entretanto, agora compreendo as razões de minha desorientação e vou tomar rumo diferente, vou lutar contra as forças negativas que quase me desviaram do caminho do bem." Lameira abraçou-a comovido, alegrando-se intimamente pelo fato de ter servido de ponte para que aquela criatura se reencontrasse e viesse a descortinar novos horizontes.
      Lameira de Andrade viveu na Terra pouco menos de 58 anos, desencarnando vítima de fulminante derrame cerebral que o prostrou em poucas horas. Ele soube aproveitar bem esses curtos anos de trabalho, desenvolvendo tarefa de gigante, no sentido de distribuir, em profusão, tudo aquilo que era patrimônio de seu Espírito esclarecido e evangelizado. Ele soube assimilar, em sua plenitude, os ensinamentos de Jesus Cristo, no sentido de colocar a luz sobre o velador. Foi o bom obreiro que soube restituir ao Senhor, em dobro, os talentos recebidos.
      Sua desencarnação representou irreparável perda para os espíritas de São Paulo e do Brasil, uma lacuna que dificilmente seria preenchida.


33
UMBERTO BRUSSOLO

            Nascido em Veneza Itália, no dia 30 de junho de 1877, veio para o Brasil em 1889. Sua desencarnação ocorreu em S. Paulo, no dia 8 de setembro de 1938.

      Numerosos seareiros espíritas das primeiras horas, embora tivessem desempenhado tarefas relevantes, tiveram seus nomes esquecidos pelos homens, entretanto, é indubitável que nos planos espirituais, as missões que desenvolveram na Terra ficassem registradas de forma indelével.
      Dentre esses missionários houve um que, durante mais de um quarto de século, desenvolveu em São Paulo, missão de grande envergadura, fazendo com que seu nome se projetasse e se impusesse ao respeito e à admiração de todos. Ele foi amigo e companheiro de luta de velhos propagadores e eminentes vultos do Espiritismo, dentre outros Caírbar Schutel, Militão
      Pacheco, Lameira de Andrade, Jacques Motolá e Pedro de Camargo (Vinícius).
      Referimo-nos a Umberto Brussolo, um italiano que escolheu o Brasil como sua segunda pátria e que aqui se integrou resolutamente, de corpo e alma, dando o testemunho de sua fé inquebrantável na elevada destinação do nosso país, como Coração do Mundo e Pátria do Evangelho.
      Umberto Brussolo casou-se no ano de 1897 com D. Maria Peruchi, tendo dessa união seis filhos. Ele encarava a arte como eficiente meio de divulgação do Espiritismo e, por isso, tornou-se, artista teatral que era, um entusiasta do Teatro Espírita, escrevendo peças, orientando e preparando atores e dirigindo as apresentações. Ele próprio idealizava os cenários, levando avante as várias peças teatrais, projetando seu nome nesse campo de atividade. Muitas sociedades que realizavam festivais de fundo teatral, procuravam Brussolo para que lhes recomendasse o gênero de peça mais adequado para a finalidade.
      Não satisfeito em militar nesse campo, também contribuiu para melhor divulgação da imprensa espírita, principalmente através da difusão de "O Clarim" e da "Revista Internacional de Espiritismo", ambos fundados por Caírbar Schutel. Nesses órgãos, alem de ensaiar a publicação de vários artigos doutrinários, promovia também a divulgação dos mesmos, levando-os a numerosos lares da Capital paulista, os quais, devido à sua insistência e idealismo, passavam a interessar-se pela Doutrina dos Espíritos.
      Através do seu esforço inaudito, grande número de pessoas passou a freqüentar Centros e Sociedades Espíritas.
      Sua iniciação no Espiritismo remonta ao ano de 1910, quando iniciou os estudos de várias obras doutrinárias existentes na época. A fim de poder dedicar-se com mais eficiência à divulgação do Espiritismo e à sua própria família, abandonou a carreira de artista teatral.
      Em 1917 fundou o "Centro Espírita Luz e Caridade", instituição essa que existe até os dias presentes, sendo sucessivamente dirigida pelos seus descendentes. Trabalhou e lutou bastante, foi na realidade um grande e dedicado servidor da Terceira Revelação, numa época quando ela era bastante incompreendida e vista por muitos com grande reserva.
      Como representante dos órgãos espíritas de Matão, enchia sua pasta de jornais, revistas e livros doutrinários e percorria os bairros da Capital paulista e cidades circunvizinhas, fazendo persistente campanha de difusão da doutrina reencarnacionista.
      Como dramaturgo, escreveu diversas peças de fundo nitidamente espírita, muitas delas levadas à cena para fins beneficentes. Ele mesmo preparava os personagens das peças. Destacaram-se, dentre outros, os seguintes dramas:
      "Ressurgir de uma Alma", "Os Mortos Falam", "Maria das Dores" e "Quinze Minutos de Prece". Uma quantidade apreciável de peças de sua autoria foi encenada em S. Paulo e Moji das Cruzes.
      Diligente, honesto e espírito dedicado, Umberto Brussolo conseguiu formar vasto círculo de amizade sincera e de admiradores de sua obra. Possuindo notável capacidade de comunicação, tornou-se amigo de todos e a sua presença era requisitada em muitos Centros Espíritas, onde tinha a oportunidade de difundir o Espiritismo, fazendo conferências e sobretudo incentivando a arte, através de um sadio Teatro Espírita.


34
VIANA DE CARVALHO

            Nascido na cidade de Icó, Estado do Ceará, aos 10 de dezembro de 1874, era filho do professor Tomás Antônio de Carvalho e de D. Josefa Viana de Carvalho. Desencarnou a bordo do navio "Íris", sendo o seu corpo sepultado na Bahia, aparentemente em Salvador. Era o dia 13 de outubro de 1926.

      Numa época quando a divulgação da Doutrina Espírita ensaiava os seus primeiros passos e encontrava pela frente a mais obstinada oposição, o Major Dr. Manuel Viana de Carvalho, com pulso firme e animado do mais vivo idealismo, desbravava o terreno para nele lançar a semente generosa da propaganda.
      Como espírita foi dos mau animosos. O seu nome representou verdadeira bandeira no campo da disseminação do Espiritismo. O que ele fez, em vários anos de luta e de atividades intensíssimas, é algo que ainda não se pode colocar em dados estatísticos, tal o gigantismo da tarefa por ele desenvolvida em todo o país.
      A sua palavra era atraente e arrebatadora, conseguindo, entre os espíritas uma penetração inusitada e inconfundível. Como conferencista era dos mais requisitados; como polemista, um dos mais salientes. Seu verbo inspirado, sua voz harmoniosa, sua animação, assumiam, às vezes, tonalidades e aspectos impressionantes. Foi na realidade um mágico da palavra, esteta do sentimento.
      Viana de Carvalho fez os primeiros estudos de Humanidades no Liceu de Fortaleza. Posteriormente, em 1891, matriculou-se na extinta Escola Militar do Ceará, onde mereceu classificação de destaque pelo seu comportamento e merecimentos intelectuais.
      Embora desde 1891 tivesse dado início à sua gigantesca tarefa de divulgação do Espiritismo, ela somente tomou vulto após ter-se matriculado no curso superior da antiga Escola Militar da Praia Vermelha, em 11 de fevereiro de 1895.
      Nessa época funcionava no Rio de Janeiro o "Centro da União Espírita de Propaganda no Brasil". Integrando-se nesse grupo, Viana de Carvalho passou a proferir conferências que conseguiam atrair compactos auditórios de mais de quinhentas pessoas. No ano de 1896 foi transferido para Porto Alegre, como aluno da Escola Militar que ali funcionava.
      Naquela capital sulina o Espiritismo já era difundido por alguns pioneiros, dentre eles Joaquim Xavier Carneiro, dirigente do Grupo Espírita Allan Kardec, que dada a sua austeridade de costumes e práticas humanitárias exercia enorme influência. De posse de uma lista com nome e endereço de simpatizantes do Espiritismo, Viana de Carvalho conseguiu reunir todos numa casa abandonada, desprovida de mesas e cadeiras. De pé, os freqüentadores das reuniões ouviam, com verdadeiro enlevo, o seu verbo inflamado. Posteriormente conseguiu formar um núcleo de estudos que passou a funcionar no andar térreo de uma casa no centro da cidade.
      Em 1898 publicou a sua primeira produção literária "Facetas", contos e fantasias. Em seguida publicou "Coloridos e Modulações". Nesse mesmo ano foi transferido para o Rio de Janeiro, onde recomeçou as preleções no Centro da União Espírita e em outros grupos, participando de um congresso e encetando numerosas viagens ao interior do Estado do Rio de Janeiro.
      Transferido para Cuiabá, Mato Grosso, ali fundou o Centro Espírita Cuiabano. Em 1907, regressou ao Rio de Janeiro a fim de matricular-se no curso de engenharia da Escola do Realengo, tornando-se o orador oficial da Federação Espírita Brasileira, realizando ainda viagens aos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Foi ainda colaborador assíduo da revista "Reformador".
      Após concluir o curso de engenharia militar, rumou para Fortaleza, Estado do Ceará, em abril de 1910. Ali iniciou uma série de conferências espíritas na Loja Maçônica e, no dia 10 de junho, fundou o Centro Espírita Cearense. Não satisfeito com as atividades desenvolvidas, criou ainda os jornais "Combate" e "Lábaro", o primeiro destinado a contestar os argumentos do clero católico, que nessa época desencadeava uma campanha difamatória contra o Espiritismo, através do órgão "Cruzeiro do Sul"; a segunda publicação destinada a difundir o Espiritismo. Através dos jornais "O Unitário", "A República" e "Jornal do Ceará", manteve vivas polêmicas, refutando argumentos infundados sobre o Espiritismo. Suas atividades em Fortaleza perduraram até novembro de 1911, quando, por imposição do serviço militar foi transferido para Curitiba, no Paraná, onde sustentou o mesmo nível de atividades, publicando artigos diários no "Diário da
Manhã".
      De volta ao Rio de Janeiro, em 1912, deu início a um persistente trabalho de unificação dos grupos espíritas, do qual resultou a fundação posterior da "União Espírita Suburbana", sob a presidência de Manuel Fernandes Figueira. Em princípios de 1913, foi servir em Maceió, onde proferiu numerosas conferências e encetou verdadeira jornada no sentido de reorganizar os grupos espíritas dispersos ou com falta de orientação.
      Pouco depois era transferido para Recife, Pernambuco, onde deu prosseguimento à sua tarefa de divulgação, publicando numerosos trabalhos, fazendo conferências e mantendo polêmicas que abalaram os meios religiosos da cidade. Regressando ao Rio de Janeiro, Viana de Carvalho retomou a pregação da Doutrina Espírita nos subúrbios, o que fez de 1914 a 1916, quando foi transferido para Santa Maria da Boca do Monte, no Estado do Rio Grande do Sul. Ali também teve a oportunidade de reorganizar e fundar vários grupos espíritas e de realizar conferências que foram publicadas no "Diário do Interior", e posteriormente em outros órgãos da imprensa
gaúcha.
      Em 1917, de novo no Rio de Janeiro, ali desenvolveu intensa campanha contra as fraudes e trapaças dos pseudos-espíritas. No ano seguinte voltou para Santa Maria da Boca do Monte, em comissão do Governo Federal, junto à 9ª Brigada de Infantaria, desenvolvendo durante quinze meses intensa difusão do Espiritismo.
      Em 1919, novamente em Maceió, foi surpreendido com as atividades dos detratores do Espiritismo, os quais tentaram proibir-lhe as palestras e até mesmo expulsá-lo. Sem esmorecimentos travou intensos debates pela imprensa e pela tribuna, sustentando acirradas polêmicas, tendo, nessa altura, os seus opositores pleiteado, no Rio de Janeiro, a sua transferência, tendo ele sido removido para o Estado do Paraná, em meados desse mesmo ano.
      Em Curitiba realizou conferências no Teatro Alemão, na sede da Federação Espírita do Paraná e em outras instituições. Através do "Diário da Tarde" publicou uma série de artigos doutrinários que tiveram muita penetração.
      Da capital paranaense veio para S. Paulo, onde proferiu várias palestras, muitas delas com o comparecimento de mais de mil pessoas. Em 1920 voltou novamente ao Rio de Janeiro, de onde partia para proferir conferências em cidades vizinhas.
      Em 1923, seguiu para Recife, reorganizando os Centros Espíritas ali existentes, mantendo novas polêmicas com detratores do Espiritismo.
      Posteriormente rumou para o Ceará e daí para Sergipe, onde fora designado para o comando do 28º B.C., em 1924. Nesse Estado as suas atividades também foram amplas.
      Em 1926, adoeceu gravemente, ficando decidido o seu recolhimento ao Hospital de S. Sebastião, em Salvador. Suas forças estavam periclitantes.
      Conduzido ao navio "Íris", por colegas oficiais e soldados, não conseguiu entretanto chegar ao destino, pois, na altura de Amaralina, desencarnou a bordo, sendo seu corpo dado à sepultura na Bahia.


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WILLIAM STAINTON MOSES

      Nascido a 5 de novembro de 1839, em Domington, Lincolnshire, Inglaterra, e desencarnado a 5 de setembro de 1892.
            William Stainton Moses

      Seu pai, William Moses, era reitor da Escola de Gramática, e sua mãe era filha de Thomas Stainton d'Alford. O jovem William Stainton Moses iniciou os seus estudos sob a direção de seu pai e foi em seguida confiado a um professor particular que, maravilhado pelas suas aptidões, se empenhou fervorosamente com seu genitor para que enviasse o filho a uma escola pública. Em 1855, ingressou na Escola de Gramática de Bedford, onde estudou durante três anos, merecendo dos mestres os mais francos elogios, pois a par da sua dedicação aos estudos revelava acendrado sentimento do dever. Após receber numerosos prêmios deixou essa escola.
      De Bedford, Stainton Moses entrou para o "Exeter College", de Oxford, no ano de 1858. A sua vida de estudante foi digna dos maiores encômios, tendo mesmo adoecido gravemente devido ao demasiado apego às matérias escolares.
      A fim de convalecer da enfermidade, viajou durante um ano pelo continente europeu e, na volta, passou seis meses no velho mosteiro grego do Monte Athos. A curiosidade e sobretudo uma grande necessidade de meditação e de isolamento o obrigaram a permanecer todo esse tempo no convento. Alguns anos após o seu mentor espiritual, conhecido por Imperator, explicou-lhe que desde essa época ele vinha sendo influenciado por entidades espirituais, interessadas em ajudar a sua educação espiritual ...
      Com 23 anos de idade, Stainton Moses voltou para Oxford. Ali, recebendo o diploma, deixou a Universidade em 1863. Embora estivesse desfrutando de melhor saúde, a necessidade de viver uma vida no campo, levou-o a aceitar um curato em Maughold, perto de Ramsay, Ilha de Man, permanecendo ali durante cinco anos, substituindo o reitor que, devido à sua idade avançada, não podia mais exercer essas funções. Isso levou Moses a exercer tarefa dupla.
      Uma epidemia de varíola, que se manifestou nessa região, pôs em relevo a sua dedicação e intrepidez. Como não havia médico no lugar, o jovem, que tinha alguns conhecimentos de medicina, tratou dos corpos e das almas dos habitantes da região. Dia e noite ele se desdobrava, porém a epidemia progredia lentamente, fazendo com que ele além de pastor religioso se transformasse no médico e no coveiro daquele núcleo populacional. A sua extrema dedicação fez com que se tornasse ainda mais querido por parte dos seus paroquianos. Entretanto, a sua saúde, que não podia suportar as obrigações impostas pela administração de duas paróquias, obrigou-o a procurar uma nova residência. Apesar de uma petição que lhe foi dirigida pelos habitantes do local, Stainton Moses retirou-se pesaroso, para ocupar em 1868, o curato de Saint-Georges, Douglas, Ilha de Man, onde caiu gravemente enfermo, sendo tratado pelo Dr. Stanhope Speers, que residia em Douglas com sua esposa, e que já não exercia a sua profissão.
      Em setembro de 1869, abandonou o curato, deixando ali profunda impressão pela prédica e caridade praticadas. Decorridos alguns meses, nos quais exerceu funções eclesiásticas em Langton, e em um curato da diocese de Salisbury, uma moléstia da garganta obrigou-o a renunciar ao ministério.
      Ao findar-se o ano de 1870, Stainton obteve um lugar de professor de inglês na University College School, cargo que ocupou até 1889. Em 1870 sua atenção foi atraída para o Espiritismo durante o Tempo em que residiu na casa do Dr. Speers em Londres. A esposa desse médico permaneceu enferma durante três semanas e, para distrair-se, lia o livro "Debatable Land" (Região em Litígio entre este mundo e o outro), de autoria de Dale Owen.
      Interessando-se intensamente por esse livro, logo que ela conseguiu reassumir o lugar na reunião de família, pediu a Stainton Moses para ler e procurar descobrir o que poderia haver de verdadeiro nos fatos que o autor narrava.
      O Dr. Speers e Stainton Moses discutiam reiteradamente alguns pontos doutrinários da religião que professava, e como não estivessem muito satisfeitos com as doutrinas existentes, o Dr. Speers havia se tornado um materialista intransigente.
      Em 1872, Stainton Moses começou a estudar o Espiritismo, a fim de cumprir a promessa formulada à Sra. Speers, tendo para tanto assistido a algumas sessões espíritas, principalmente uma que tinha como médium Lottie Towler.
      Numa sessão realizada na residência do casal Speers, tendo Stainton Moses como médium, todos se tornaram convictos da realidade da existência de Espíritos comunicantes, consolidando assim a crença na imortalidade da alma.
      Nessa época começou a desabrochar a mediunidade de Moses, que era dotado de um poder extraordinário. Nunca se produziram menos de dez espécies diferentes de manifestações no decurso das sessões realizadas por seu intermédio. Quando as condições eram favoráveis, as manifestações multiplicavam-se, as pancadas tornavam-se mais freqüentes, as luzes mais brilhantes e os sons musicais mais distintos. Fenômenos maravilhosos produziram-se por seu intermédio: sons musicais, pancadas, clarões, balsamização do ambiente com perfumes diversos, passos pesados produzidos por um Espírito que se denominava "Rector", os quais estremeciam o ambiente, tilintar de campainhas, levitação de corpos pesados: mesas, cadeiras; transposição da matéria, fenômenos de voz-direta, além de uma variedade indescritível de fenômenos dos mais variados matizes.
      Durante o periodo ativo da sua mediunidade, Stainton Moses ocupou-se assiduamente da formação de sociedades com o fim de estudar o Espiritismo.
      Contribuiu para a fundação da Associação Nacional Britânica dos Espiritualistas, em 1873, da Sociedade Psicológica da Grã-Bretanha, em abril de 1875, da qual foi um dos primeiros membros do conselho; da Sociedade de Pesquisas Psíquicas, em 1882 e finalmente da Aliança Espiritualista de Londres, da qual foi o primeiro presidente, cargo que exerceu até a sua desencarnação.
      Além dessas atividades, dirigiu a revista Light, periódico de fundo espírita. Embora a sua faculdade mediúnica decrescesse de intensidade, ele conservou sempre a faculdade de psicografia.
      Desde 1889, a sua saúde ficou bastante combalida, ataques sucessivos de influenza, minaram-lhe a constituição, que nunca fora robusta, causando a sua desencarnação.
      A sua obra "Ensinos Espiritualistas" foi vertida para o português por Oscar D'Argonnel. Trata-se de uma obra que encerra uma série de ensinamentos ministrados pelo Espírito Imperator, e que Stainton Moses, que também usava o pseudônimo de A. Oxon, publicou, e que a Aliança Espiritualista de Londres, através do seu Conselho, fez publicar em edição comemorativa, prestando efusiva homenagem ao seu inolvidável fundador.
      Em sua vida de relação, Stainton Moses era um homem cordato, justo, que sempre exercia julgamentos retos, modesto, sem vaidade, que jamais dirigia palavras ásperas aos seus detratores e que, em resumo, possuía um conjunto de qualidades raras entre os homens.


Fim

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