segunda-feira, 25 de julho de 2011

NASCER DE NOVO



                                    “Em verdade, em verdade, te digo que se alguém não
nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” – João, cap. 3
 
          “Nascer de novo” é tarefa para todos os dias.
          Renascer dentro da própria existência física é mais importante do que ganhar corpo novo e simplesmente reencarnar.
          A Criação Divina, a cada dia, expande-se e aperfeiçoa-se.
          Renascer do erro é admiti-lo e começar a repará-lo.
          O homem que, por orgulho ou comodismo, se cristaliza em suas opiniões, vai ficando à margem do dinamismo da vida.
          Disponhamo-nos a recomeçar sempre.
          Voltar atrás em decisões equivocadas é prova de grandeza espiritual.
          Sejamos como a gleba fértil e generosa que agasalha em seu seio toda boa semente e permite que ela germine...
          Ninguém desfruta de saúde espiritual, se não tiver a humildade de reconhecer os seus limites e trabalhar para ampliar os horizontes pessoais.
          Crescer não é superar os outros, mas tornar-se maior do que se é, conservando-se pequenino.
          Quantos preferem sofrer no erro a serem felizes ao reconhecê-lo?
          O homem que perde a simplicidade é candidato ao desequilíbrio emocional.
          Sejamos comedidos em tudo quanto fizermos.
          E não ignoremos os companheiros de jornada que gemem, renteando conosco na difícil caminhada,
          Quem ama, por mais complexa a decisão, acerta sempre.

Sócrates e a imortalidade da alma


No ano 399 antes da era cristã, o Tribunal dos Heliastas, composto por representantes das dez tribos que compunham a democrata Atenas, reunia-se com seus 501 membros para cumprir uma obrigação bastante difícil.
Representantes do povo, escolhidos aleatoriamente, estavam ali para julgar o filósofo Sócrates.
O pensador era acusado de recusar os deuses do Estado, e de corromper a juventude.
Figura muito controversa, Sócrates era admirado por uns, criticado por outros.
Tinha costume de andar pelas ruas com grupos de jovens, ensinando-os a pensar, a questionar seus próprios conhecimentos sobre as coisas e sobre si mesmos.
Sócrates desenvolveu a arte do diálogo, a maiêutica, este momento do “parto” intelectual, da procura da verdade no interior do homem.
Seus dizeres “Só sei que nada sei” representam a sapiência maior de um ser, reconhecendo sua ignorância, reconhecendo que precisava aprender, buscar a verdade.
Por isso foi sábio, e além de sábio, deu exemplos de conduta moral inigualáveis.
Viveu na simplicidade e sempre refletiu a respeito do mundo materialista, dos valores ilusórios dos seres, e das crenças vigentes em sua sociedade.
Frente a seus acusadores foi capaz de lhes deixar lições importantíssimas, como quando afirmou:
“Não tenho outra ocupação senão a de vos persuadir a todos, tanto velhos como novos, de que cuideis menos de vossos corpos e de vossos bens do que da perfeição de vossas almas.”
O grande filósofo foi condenado à morte por cerca de 60 votos de diferença.
A grande maioria torcia para que ele tentasse negociar sua pena, assumindo o crime, e tentasse livrar-se da punição capital, com pagamento de algumas moedas.
Com certeza, todos sairiam com as consciências menos culpadas.
Todos menos Sócrates que, de forma alguma, permitiu-se ir contra seus princípios de moralidade íntimos. Assim, aceitou a pena imposta.
Preso por cerca de 40 dias, teve chance de escapar, dado que seus amigos conseguiram uma forma ilícita de dar-lhe a liberdade.
Não a aceitou. Não permitiu ser desonesto com a lei, por mais que esta o houvesse condenado injustamente. Mais uma vez exemplificou a grandeza de sua alma.
E foram extremamente tranqüilos os últimos instantes de Sócrates na Terra.
Uma calma espantosa invadia seu semblante, e causava admiração em todos que iam visitá-lo.
Indagado a respeito de tal sentimento, o pensador revelou o que lhe animava o espírito:
“Todo homem que chega aonde vou agora, que enorme esperança não terá de que possuirá ali o que buscamos nesta vida com tanto trabalho!
Este é o motivo de que esta viagem que ordenam me traz tão doce esperança.”
Sim, Sócrates tinha a certeza íntima da imortalidade da alma, e deixou isso bem claro em vários momentos de seus diálogos.
A perspicácia de seus pensamentos e reflexões já haviam chegado a tal conclusão lógica.
O grande filósofo partia, certo de que continuaria seu trabalho, de que prosseguiria pensando, dialogando, e de que desvendaria um novo mundo, uma nova perspectiva da vida, que é uma só, sem morte, sem destruição.
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-..-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.

O Codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec, indagou aos imortais:
“No momento da morte, qual o sentimento que domina a maioria dos homens? A dúvida, o medo ou a esperança?”
Ao que os Espíritos lhe respondem:
“A dúvida para os descrentes endurecidos; o medo para os culpados; a esperança para os homens de bem.”
Que possamos todos, a exemplo de Sócrates, deixar este mundo com o coração repleto de esperança.
Texto da Redação do Momento Espírita com base no livro O Fédon, de Platão, Coleção Filosofia – Textos nº 4. ed. Porto e no livro Apologia de Sócrates, de Platão, Coleção Aos pensadores, ed. Nova Cultura

domingo, 24 de julho de 2011

Evangelho no Lar


PRINCIPAIS FINALIDADES DO EVANGELHO NO LAR

1º - Estudar o Evangelho à Luz da Doutrina Espírita, a qual possibilita compreendê-lo em "espírito e verdade", facilitando, assim, pautar nossas vidas segunda a vontade do Mestre.
2º - Criar em todos os lares o hábito salutar de reuniões evangélicas, para que despertem e acentuem o sentimento que deve existir em cada criatura.
3º - Pelo momento de paz e de compreensão que o Evangelho no Lar oferece, unir mais as criaturas, proporcionando-lhes uma vivência mais tranqüila.
4º - Tornar o Evangelho melhor compreendido, sentido e exemplificado, no lar e em todos os ambientes.
5º - Higienizar o lar pelos nossos pensamentos e sentimentos elevados permitindo assim, mais fácil influência dos Mensageiros do Bem.
6º - Ampliar o conhecimento literal e espiritual do Evangelho para oferecê-lo com maior segurança a outras criaturas.
7º - Facilitar no lar e fora dele o amparo necessário para enfrentar as dificuldades materiais e espirituais, mantendo, operantes, os princípios da oração e da vigilância...
8º - Elevar o padrão vibratório dos componentes do lar, a fim de que ajudem, com mais eficiência, o Plano Espiritual na obtenção de um mundo melhor.

ROTEIRO PARA A REALIZAÇÃO DE " O EVANGELHO NO LAR "

Escolher um dia e uma hora por semana e convidar todos da família, senão puderem ou não quiserem participar, faremos sozinhos, só fisicamente, na certeza de que Jesus se fará presente através de seus mensageiros.
1º - Início da reunião: Prece simples e espontânea
2º - Leitura de O Evangelho Segundo o Espiritismo: Começar desde o Prefácio, lendo um item ou dois sempre em seqüência. Se houver crianças ou adolescentes, ver (Sugestões) no final do roteiro.
3º - Comentários sobre o texto lido: Devem ser breves, com participação de todos os presentes.
4º - Vibrações:
Vibrar pela fraternidade, paz e equilíbrio a toda a humanidade;
Vibrar pelos governantes e os que trabalham na elaboração das leis;
Vibrar pela implantação e vivência do Evangelho em todos os lares;
Vibrar para o nosso lar, mentalizando paz, harmonia e saúde e muita luz. Disse Jesus: "Vós sois Luzes"
Pedidos: Mestre Jesus, abençoe nossa família e dá-nos o entendimento e o espírito de compreensão e cooperação; aumente o amor em nossos corações (Até aqui em voz audível)
Segundos de silêncio: Em pensamento e coração vamos conversar com Jesus, cada um de nós tem pedido a Te fazer, a fim de receber a orientação necessária e amorosa que é a iluminação do Cristo em nós (Depois em voz normal)
5º - Prece de encerramento: prece simples e espontânea. Para maiores detalhes, consultar os livros "Evangelho no Lar à Luz do Espiritismo" e "Experiências à Luz do Evangelho no Lar".

SUGESTÕES
1º - Recomenda-se, depois do estudo de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", a leitura de livros de autores idôneos que forneçam subsídios para os comentários evangélicos.
2º - Fazer vibrações especiais para casos concretos que preocupem os presentes e a sociedade.
3º - Embora a assistência do Plano Espiritual seja indispensável para o andamento normal do Evangelho no Lar, acautelar-se para não transformar a reunião em trabalho mediúnico. Mediunidade e a Assistência Espiritual devem, sempre que possível, ser praticadas em Centros Espíritas.
4º - Evitar comentários de desdouro às religiões e às pessoas, inclusive, as conversações menos edificantes.
5º - Não suspender a prática do "Evangelho no Lar" em virtude de visitas, passeios adiáveis ou acontecimentos fúteis.
6º - A duração da reunião deverá ser de trinta minutos, aproximadamente.
7º ) Quanto às crianças, os pais Cristãos devem permitir e incentivar os seus filhos a participarem da reunião para que eles possam iniciar com segurança a nova experiência física. Permitir que eles façam comentários, perguntas e colaborem nas preces. Deve ser acrescentado livros de história infantil, despertando neles o interesse e o gosto pelo ensino de Jesus. Lembremo-nos: "Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais..." (Jesus – Marcos, 10:14)

Lembranças do Passado


Nossas lembranças do passado nos são obscurecidas para que não atrapalhem nosso livre-arbítrio, note que dissemos obscurecidas e não “esquecidas totalmente”.
Nossas intuições são a prova desta afirmação, pois temo-las como ferramentas para auxiliar-nos a todo o momento em que tomamos uma decisão. Sempre nos interrogamos de como deveremos agir em uma determinada circunstância e nossa consciência nos faz recordar uma experiência ou situação já vivida, ou seja, do nosso discernimento do que é certo ou errado.
Imaginemos que no passado tivemos um grande rival, no qual muitos embates travamos juntos, muita crueldade de ambas as partes marcaram nossa pretérita existência e hoje, para que possamos pôr um fim a essas diferenças, viemos a encarnar numa mesma família. Seremos hoje, pai e filho, irmãos, cônjuges ou qualquer outro parentesco. Ou ainda talvez sejamos sócios, amigos ou participemos de um mesmo círculo qualquer. Como seria nossa relação em comum, como lidaríamos com as reminiscências do passado, como agiríamos?
Isso certamente seria para nós um grande tormento, atrapalharia sobremaneira o triunfo de nosso progresso, o comprometimento com a reparação de nossas faltas.
Além do mais, temos de analisar que nossa posição pode também se tornar motivo para exaltar nosso orgulho, fazendo-nos sentir superiores a quem deveríamos tratar com igualdade, como irmãos e que, no entanto nossos sentimentos não nos permitem descer do pedestal em que nos colocamos.
Assim achamo-nos a humilhar, desprezar, rechaçar aqueles que estariam aqui e agora para nos auxiliar e serem auxiliados na atual existência.
Há também um outro lado a se verificar, se nós é que nos encontrássemos no lado mais inferior em relação a esses irmãos, se hoje viéssemos numa situação de penúria, de lástima, necessitados de muito auxílio, precisando de caridade, mas, no entanto não encontrássemos nem mesmo no lar, o amor que tanto necessitamos. Somos rejeitados em todos os grupos sociais que freqüentamos, temos sempre respostas negativas a qualquer pedido, passando a nos sentir abandonados, desgraçados.
De que adiantariam as lembranças de nossa existência anterior nestas situações, seria um alívio ou um tormento ainda maior. Mudariam nossas relações, melhoraria nosso comportamento? São perguntas que nos surgem e que pegam a nos surpreender em alguns casos. Para alguns indivíduos isso parece ser um alívio ou uma cura, para outros seria mesmo um entrave maior, métodos há para que com o auxílio de espíritos iluminados e superiores poderemos obter alguma informação que nos será de algum modo útil em determinado tratamento, em um tipo de alívio que estamos necessitados e que nosso merecimento está devidamente em acordo para com a graça a ser atingida.
Deus, soberanamente bom e justo, nos coloca na posição correta em precisamos para enfrentar todas as provas que necessitamos para melhorarmos. Nosso livre-arbítrio é que ditará se teremos coragem e fé suficientes para enfrenta-las.Nossa fuga a esses compromissos atrasa nosso progresso, fazem-nos estagnar no ponto em que nos encontramos.
Portanto sempre ao depararmos com um obstáculo, reflitamos, o que o Pai quer de nós? O que significa esse Seu aviso em nosso caminho? Resignemos-nos diante das dificuldades, por maior que nos pareçam, agradeçamos a Deus pela força que nos dá para suportarmos a dor. E saibamos administrar nossos problemas, sigamos em frente de cabeça erguida, certos de que o Pai coloca seus Ministros ao nosso lado para nos acompanhar, conduzir e proteger.
O que tivermos que nos lembrar de nosso pretérito, certamente virá na intuição destes espíritos iluminados, que com a permissão de Deus nos mostrarão de alguma forma o que nos é cabido saber, na hora em que se achar necessária e conforme nosso merecimento.
Lembremos sempre é dos ensinamentos do Mestre Jesus que nos diz:
“- Amai a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo”.
 Eis aí toda Lei e os profetas.
Sigamos assim e que Deus Pai, nos ilumine e abençoe.
  
Miguel_@ngelo

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Como surgiram as igrejas protestantes?


Elas surgiram a partir do inconformismo do padre alemão Martinho Lutero (1483-1546) em aceitar algumas práticas da Igreja Católica. Lutero atacava duramente a venda de indulgências, ou seja, a obtenção de perdão para um determinado pecado em troca de dinheiro. No dia 31 de outubro de 1517, Lutero pregou na porta de uma igreja de Wittenberg, na Alemanha, um manifesto com 95 teses em que atacava não só a venda de indulgências, como também outros procedimentos da Igreja Católica, como a negociação de cargos eclesiásticos. O papa Leão X exigiu uma retratação do padre, ameaçando condená-lo por heresia. Mas Lutero não voltou atrás e rompeu com a Igreja Católica, dando início à chamada Reforma Protestante, movimento que se espalhou pela Europa, impulsionado pela maior flexibilidade religiosa que oferecia.
Os inimigos dos reformistas passaram a se referir a seus seguidores como "luteranos". Estes, por sua vez, preferiam ser chamados de "evangélicos", termo hoje muito usado para se referir aos fiéis das igrejas protestantes. A liberdade pregada por Lutero acabaria abrindo espaço para o surgimento de várias correntes religiosas. "O protestantismo tem uma pedra fundamental: a autonomia. A idéia de que só Deus salva, a subjetividade do indivíduo e a possibilidade de assumir e viver as diferenças vai gerar uma variedade enorme de igrejas", diz o cientista da religião João Décio Passos, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Isso ajuda a entender por que hoje existem tantas ramificações entre os protestantes.

Crença na autonomia
Liberdade pregada por Lutero deu origem a várias correntes religiosas

Igreja Católica - Reforma Protestante

Luteranos
A ruptura de Luterano com os católicos, em 1517, lançou as bases para a expansão do protestantismo. Os luteranos condenavam o comportamento moral dos padres católicos e acreditavam que a salvação estava nas escrituras sagradas.
Presbiterianos
Inspirados no teólogo fracês João Calvino (1509-1564), pregavam a predestinação divina: ou seja, só os eleitos por Deus se salvariam. O teólogo holandês James Arminius (1560-1609) criaria depois outra vertente do presbiterianismo: o Arminianismo.
Anglicanos
O rei inglês Henrique VIII (1491-1547) queria anular seu primeiro casamento para se unir a outra mulher. Após a recusa do papa Clemente VII, ele rompeu com a Igreja Católica e criou a anglicana em 1534, ficando livre da interferência papal.
Batistas
O movimento anabatista já existia quando Lutero começou a questionar a Igreja Católica. Mas, como outras correntes protestantes, o movimento só ganhou expressão após a Reforma. Acabou dando origem à Igreja Batista.
Metodistas
Surgiram na Inglaterra no século 18, propondo reformar a Igreja Anglicana. Baseadas na crença da salvação pela fé em Cristo, as idéias metodistas não conseguiram mudar os anglicanos, mas deram origem a uma nova corrente protestante
Pentecostais
Começaram a aparecer no início do século 20 como uma dissidência dos metodistas. Em 1910, foi fundada a Congregação Cristã do Brasil; no ano seguinte, a Assebléia de Deus, e em 1962, Deus é Amor. Os pentecostais crêem na cura pela fé.
Neo pentecostais
Fazendo parte do grupo a Igreja Universal do Reino de Deus, de 1977, e a Igreja Renascer em Cristo, de 1986. Os neo pentecostais têm em comum a adoção da mídia para pregar aos fiéis, além dos cultos espetaculares e a realização de exorcismos.

Fonte: “site - mundoestranho.abril.com"

A Reencarnação na história


Publicado por Marcio-geec em 19/8/2006 (787 leituras)
Centre Spirite Lyonnais Allan Kardec

A Reencarnação na história
A doutrina das vidas sucessivas ou reencarnação é chamada também de Palingenesia, de duas palavras gregas, Palin, de novo, gênese, nascimento. Ela foi formulada desde a aurora da civilização na Índia. Encontra-se nos Vedas: " Da mesma forma que nos desfazemos de uma roupa usada para pegar uma nova, assim a alma se descarta de um corpo usado para se revestir de novos corpos."
Pitágoras foi o primeiro a introduzir na Grécia a doutrina dos renascimentos da alma que tinha conhecido em suas viagens no Egito e na Pérsia. Platão adotou a idéia pitagoriana da Palingenesia: "É certo que os vivos nascem dos mortos; que as almas dos mortos renascem ainda." (Phèdre)
A escola néo-platônica da Alexandria ensinava a reencarnação precisando a vantagem desta evolução progressiva para as condições da alma. Plotino, o primeiro de todos, a revê várias vezes no curso de suas Eneidas. É um dogma, disse ele, muita antigo e universalmente ensinado que, se a alma comete faltas, é condenada a expiá-las submetendo-se a punições nos infernos tenebrosos, depois do que é admitida a voltar em um novo corpo para recomeçar suas provas. "A providência de Deus, escreveu Plotino, assegura a cada um de nós a sorte que lhe convém e que é harmônica com seus antecedentes, segundo suas existências sucessivas." Jamblico acrescenta: "Assim as penas que nos afligem são freqüentemente castigos de um pecado do qual a alma se rende culpada em sua vida anterior. Algumas vezes, a razão do castigo nos é ocultada por Deus, mas nós não devemos duvidar de sua justiça."
Entre os romanos que adquiriram a maior parte de seus conhecimentos na Grécia, Virgílio exprime claramente a idéia da Palingenesia neste termos: " Todas as almas, ainda que por milhares de anos tenham retornado à roda desta existência (no Elísios ou no Tartaro), Deus as chama em numerosos enxames ao rio Léthé, a fim de que, privadas de recordações, revejam os lugares superiores e convexos e comecem a querer voltar ao corpo."
Os Gauleses acreditavam nas vidas sucessivas. César escreveu na Guerra de Gales: "Uma crença que eles buscam sempre estabelecer, é que as almas não perecem de forma alguma e que após a morte elas passam de um corpo para outro."
Em suas obras, o historiador Joseph fez profissão de sua fé na reencarnação; relata que essa era a crença dos Fariseus. O Pe. Didon o confirma nestes termos, em sus "Vida de Jesus: "Então crê-se, entre o povo (judeu) e mesmo nas escolas, no retorno à vida da alma dos mortos." O sábio beneditino Dom Calmet se exprime assim em seus Comentário, sobre essa passagem das Escxrituras: "Vários doutores judeus crêm que as almas de Adão, Abrâo, Phinées, animaram sucessivamente vários homens de sua nação." O Talmud ensina que a alma de Abel passou ao corpo de Seth e mais tarde ao de Moisés. O Zoar diz: "Todas as almas são submetidas às provas da transmigração" e a Cabala: "São os renascimentos que permitem aos homens se purificar."
Os judeus acreditavam que o retorno de Elias sobre a Terra devia preceder o do Messias. Isto porque, no Evangelho, quando seus discípulos perguntaram a Jesus se ele voltaria, Ele respondeu afirmativamente dizendo: "Elias já veio e não o reconheceram, mas eles lhe tem feito tudo o que havia sido predito." E seus discípulos compreenderam, diz o Evangelista, que era de João que lhes falava.
Um dia, Jesus perguntou a seus discípulos o que diziam dele no povo. Eles respondem1: "Uns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros Jeremias, ou qualquer um dos antigos profetas que vieram ao mundo." Jesus, longe de os dissuadir, como se eles estivessem falando coisas imaginárias, se contenta em acrescentar: " E vós, quem acreditam que sou?" Quando encontram o cego de nascença, seus discípulos lhe perguntam se esse homem nasceu cego por causa dos pecados de seus pais ou dos pecados que ele tinha cometido antes de nascer. Eles acreditavam então na possibilidade da reencarnação e na possível preexistência da alma. Sua linguagem fazia mesmo crer que essa idéia estava difundida entre o povo, e Jesus parecia autorizá-la, em vez de combatê-la; Ele fala das numerosas moradas de que se compõe a casa do Pai.
Lemos no Evangelho de João: " Havia um homem entre os fariseus, chamado Nicodemos, um dos principais judeus. Esse homem veio de noite encontrar Jesus e lhe disse: "Mestre, sabemos que tu és um doutor vindo da parte de deus, porque ninguém poderia fazer os milagres que tu fazes se Deus não estivesse com ele." Jesus lhe respondeu: "Em verdade, eu te digo que se um homem não nascer da água e do espírito. ele não pode entrar no reino de Deus. Aquele que nasceu da carne é carne, e aquele que nasceu do espírito é espírito. Não se espante de nada disso que te digo; é preciso que vós nasçais de novo. O vento sopra onde quer, e tu ouves o ruído, mas não sabes donde ele vem nem para onde ele vai. O mesmo ocorre de todo homem que nasceu do espírito."
Entre os Hebreus, a água representava a essência da matéria, e quando Jesus adianta que o homem deve renascer da água e do espírito, não é como se dissesse que deve renascer da matéria e do espírito, quer dizer em corpo e em alma?
De todos os Padres da Igreja, Orígenes é o que afirmou de forma mais precisa, em numerosas passagens de seu Princípios (livro 1°), a reencarnação ou renascimento das almas. Sua tese é esta: "A justiça do Criador deve aparecer em todas as coisas." São Jerônimo, por seu lado, afirma que a transmigração das almas fazia parte dos ensinamentos revelados a um certo número de iniciados. Em suas Confissões, santo Agostinho nos diz: "Minha infância não sucedeu a uma outro idoso morto antes dela?... Mesmo antes desse tempo, tinha já estado em qualquer parte? Fui alguma pessoa qualquer?"
Ainda no século quinze, o cardeal Nicolas de Cusa "sustentava em pleno Vaticano a teoria da pluralidade das existências da alma e dos mundos habitados, não somente com o assentimento, mas com os encorajamentos sucessivos de dois papas: Eugênio IV e Nicolau V." Malgrado esta exceção, a doutrina das vidas sucessivas permaneceu velada por toda a duração da idade média, porque estava severamente proscrita pela Igreja.
É preciso esperar os tempos modernos e a liberdade de pensar e discutir para que isso reaparecesse. Leibnitz, estudando o problema da origem da alma, admitiu que o princípio inteligente, sob a forma de mônada, tinha podido se desenvolver no reino animal. Numerosos pensadores se reuniram à reencarnação: Dupont de Nemours, Charles Bonnet, Lessing, Constant Savy, Pierre Leroux, Fourier, Jean Reynaud. A doutrina das vidas sucessivas foi vulgarizada para o grande público por autores como Balzac, Théophile Gautier, George Sand e Victor Hugo.


Para saber mais:
Christianisme et Spiritisme de Léon Denis (notes complémentaires, n° 5. Sur la Réincarnation)
La Réincarnation de Gabriel Delanne (ch. I, Coup d’œil historique sur la théorie des vies successives)
O Problema do Ser e do Destino Léon Denis (2ª parte, cap. XVII, As Vidas sucessivas. Provas históricas)
Le Génie Celtique et le monde invisible de Léon Denis (2e partie, ch. VIII, Palingénésie : Préexistences et vies successives. La loi des Réincarnations)

A Obra de Kardec

Estou postando este Artigo para servir de embasamento aos irmãos palestrantes e estudantes. Encontrei-o em um site e o transcrevo aqui para nos auxiliar na divulgação da Doutrina.


A OBRA DE KARDEC E KARDEC DIANTE DA OBRA
Hermínio C Miranda

Sempre haverá muito que aprender na obra de Allan Kardec, não apenas aqueles que se iniciam no estudo da Doutrina Espírita, como também os que dela já têm conhecimento mais profundo. Isso porque os livros que divulgam idéias construtivas — e especialmente idéias novas — nunca se esgotam como fonte de onde fluem continuamente motivações para novos arranjos e, portanto, de progresso espiritual, sem abandonar a contextura filosófica sobre as quais se apóiam.
Para usar linguagem e terminologia essencialmente espíritas, diríamos que o perispírito da doutrina permanece em toda a sutileza e segurança de sua estrutura, ao passo que o espírito da Doutrina segue à frente, em busca de uma expansão filosófica, sujeito que está ao constante embate com a tremenda massa de informação que hoje nos alcança, vinda de todos os setores da especulação humana.
De fato, a Doutrina Espírita está exposta às mais rudes confrontações, por todos os seus três flancos ao mesmo tempo: o filosófico, o científico e o religioso. A cada novo pronunciamento significativo da filosofia, da ciência ou da especulação religiosa, a doutrina se entrega a um processo introspectivo de auto-análise para verificar como se saiu da escaramuça. I
Isso tem feito repetida mente e num ritmo cada vez mais vivo, durante mais de um século. E com enorme satisfação, podemos verificar que nossas posições se revelaram inexpugnáveis.
Até mesmo idéias e conceitos em que a Doutrina se antecipou aos tempos começam a receber a estampa confirmatória das conquistas intelectuais como, para citar apenas dois exemplos a reencarnação e a pluralidade dos mundos habitados. Poderíamos citar ainda a existência do perispírito que vai cada dia mais tornando-se uma necessidade científica, para explicar fenômenos que a biologia clássica não consegue entender.
Quando abrimos hoje revistas, jornais e livros sintonizados com as mais avançadas pesquisas e damos com o nome de importantes cientistas examinando a sério a doutrina palingenésica ou a existência de vida inteligente fora da Terra, somos tomados por um legítimo sentimento de segurança e de crescente respeito pelos postulados da doutrina que os Espíritos vieram trazer-nos. Tamanha era a certeza de Kardec sobre tais aspectos que escreveu que o Espiritismo se modificava nos pontos em que entrasse em conflito com os fatos científicos devidamente comprovados.
Essa observação do Codificador, que poderia parecer a muitos a expressão de um receio ou até mesmo uma gazua para eventual saída honrosa, foi, ao contrário, uma declaração corajosa de quem pesou bem a importância do que estava dizendo e projetou sobre o futuro a sua própria responsabilidade. O tempo deu-lhe a resposta que ele antecipou: não, não há o que reformular, mas se algum dia houver, será em aspectos secundários da doutrina e jamais nas suas concepções estruturais básicas, como a existência de Deus, a sobrevivência do Espírito. a reencarnação e a comunicabilidade entre vivos e ‘mortos “.
O que acontece é que a doutrina codificada não responde a todas as nossas indagações, e nem as de Kardec foram todas resolvidas nos seus mínimos pormenores e implicações. “O Livro dos Espíritos” é um repositório de princípios fundamentais de onde emergem inúmeras “tomadas” para outras tantas especulações e conquistas e realizações.
Nele estão os germes de todas as grandes idéias que a humanidade sonhou pelos tempos afora, mas os Espíritos não realizam por nós o nosso trabalho. Em nenhum outro cometimento humano vê-se tio claramente os sinais de uma inteligente, consciente e preestabelecida coordenação de esforços entre as duas faces da vida —a encarnada e a desencarnada. Tudo parece — e assim o foi — meticulosamente planejado e escrupulosamente executado. A época era aquela mesma, como também o meio ambiente e os métodos empregados.
Para a carne vieram os espíritos incumbidos das tarefas iniciais e das que se seguiram, tudo no tempo e no lugar certos. Igualmente devem ter sido levadas em conta a fragilidade e as imperfeições meramente humanas, pois que também alternativas teriam sido planejadas com extremo cuidado.
Há soluções opcionais para eventuais falhas, porque o trabalho era importante demais para ficar ao sabor das imperfeições humanas e apoiado apenas em dois ou três seres, por maiores que fossem. Ao próprio Kardec, o Espírito da Verdade in forma que é livre de aceitar ou não o trabalho que lhe oferecem. O eminente professor é esclarecido, com toda a honestidade e sem rodeios, que a tarefa é gigantesca e, como ser humano, seria arrastado na lama da iniqüidade, da calúnia, da mentira, da infâmia.
Que todos os processos são bons para aqueles que se opõem à libertação do homem. Que ele, Kardec, poderia também falhar. Seu engajamento seria, pois, de sua livre escolha e que, se recusasse a tarefa, outros havia em condições de levá-la a bom termo.
O momento é dramático.
É também a hora da verdade suprema, pois o plano de trabalho não poderia ficar comprometido por atitudes dúbias e meias-palavras. Aquilo que poderia parecer rudeza de tratamento é apenas ditado pote seriedade do trabalho que se tinha a realizar no plano humano. Kardec aceitou a tarefa e arrostou, com a bravura que lhe conhecemos, a dureza das aflições que sobre ele desabaram, como estava previsto. Tudo lhe aconteceu, como anunciado; os amigos espirituais seriam incapazes de glamourizar a sua colaboração e minimizar as dificuldades apenas para induzi-lo a aceitar a incumbência.
Por outro lado, se ele era, entre os homens, o chefe do movimento,pois alguém Unha que o liderar, compreendeu logo que não era o dono da doutrina e jamais desejou sê-lo.
Quando lhe comunicam que foi escolhido para esse trabalho gigantesco, sente com toda a nitidez e humildade a grandiosidade da tarefa que lhe oferecem e declara que de simples adepto e estudioso a missionário e chefe vai uma distância considerável, diante da qual ele medita, não propriamente temeroso, mas preocupado, dado que era homem de profundo senso de responsabilidade.
Do momento em que toma a incumbência, no entanto, segue em frente com uma disposição e uma coragem inquebrantáveis.
Esse aspecto da sua atuação jamais deve ser esquecido a consciência que tem da sua posição de coordenador do movimento e não de seu criador.
Não deseja que a doutrina nascente seja ligada ao seu nome. Apaga-se deliberadamente e tenazmente para que a obra surja como planejada, isto é, uma doutrina formulada pelos Espíritos e transmitida aos homens pelos Espíritos, contida numa obra que fez questão de intitular “O Livro dos Espíritos”. Por outro lado, não é intenção dos mensageiros espirituais — ao que parece — ditar um trabalho pronto e acabado, como um “flash” divino, de cima para baixo.
Deixam a Kardec a iniciativa de elaborar as perguntas e conceber não a essência do trabalho, mas o plano geral da sua apresentação aos homens. A obra não deve ser um monólogo em que seres superiores pontificam eruditamente sobre os grandes problemas do ser e da vida; é um diálogo no qual o homem encarnado busca aprender com os irmãos mais experimentados novas dimensões da verdade.
E preciso, pois, que as questões e as dúvidas sejam levantadas do ponto de vista humano, para que o mundo espiritual as esclareça na linguagem simples da palestra, dentro do que hoje se chamaria o contexto da psicologia específica do ser encarnado. Por isso, Kardec não se julga o criador da Doutrina, mas é infinitamente mais do que um mero copista ou um simples colecionador de pensamentos alheios. Deseja apagar-se individualmente para que a obra sobreleve às contingências humanas; a Doutrina não deve ficar “ligada” ao seu nome pessoal como, por exemplo, a do super-homem a Nietszche, o islamismo a Maomé, o positivismo a Augusto Comte ou a teoria da relatividade a Einstein; é, no entanto, a despeito de si mesmo, mais do que simples colaborador, para alcançar o estágio de um co-autor quanto ao plano expositivo e às obras subseqüentes.
Os Espíritos deixam-lhe a iniciativa da forma de apresentação. A princípio, nem ele mesmo percebe que já está elaborando ‘O Livro dos Espíritos”; parece-lhe estar apenas procurando respostas às suas próprias interrogações.
Homem culto, objetivo, esclarecido e com enormes reservas às doutrinas religiosas e filosóficas da sua época, tem em mente inúmeras indagações para as quais ainda não encontrara resposta. Ao mesmo tempo em que vai registrando as observações dos Espíritos, vai descobrindo um mundo inteiramente novo e insuspeitado e tem o bom senso, de não se deixar fascinar pelas suas descobertas.
E, pois, ao sabor de sua controlada imaginação que organiza o esquema das suas perguntas e quando dá conta de si tem anotações metódicas, lúcidas, simples de entender e, no entanto, do mais profundo e transcendental sentido humano. Sem o saber, havia coligido um trabalho que, pela sua extraordinária importância, não poderia ficar egoisticamente preso à sua gaveta; era preciso publicá-lo e isso mesmo lhe dizem os Espíritos. Assim o fez e sabemos de sua surpresa diante do sucesso inesperado da obra.
Daí em diante, isto é, a partir de “O Livro dos Espíritos”, seus amigos assistem-no, como sempre o fizeram, mas deixam-no prosseguir com a sua própria metodologia e nisso também ele era mestre consumado, por séculos de experiência didática.
As obras subseqüentes da Codificação não surgem mais do diálogo direto com os Espíritos e sim das especulações e conclusões do próprio Kardec, sem jamais abandonar, não obstante, o gigantesco painel desenhado a quatro mãos em “O Livro dos Espíritos”.
Conversando uma vez, em nosso grupo, sobre o papel de certos espíritos na história, disse-nos um amigo espiritual que é muito importante para todos nós o trabalho daqueles a quem ele chamou Espíritos ordenadores.
São os que vêm imcumbidos de colocar em linguagem humana, acessível, as grandes idéias. Sem eles, muito do que se descobre, se pensa e se realiza ficaria perdido no caos e na ausência de perspectiva e hierarquia. São eles —Espíritos lúcidos, objetivos e essencialmente organizadores — que disciplinam as idéias, descobrindo-lhes as conexões, implicações e conseqüências, colocando-as ordenadamente ao alcance da mente humana, de modo facilmente acessível e assimilável, sob a forma de novas sínteses do pensamento.
São eles, portanto, que resumem um passado de conquistas e preparam um futuro de realizações. Sem eles, o conhecimento seria um amontoado caótico de idéias que se contradizem, porque invariavelmente vem joio com o trigo, na colheita, e ganga com ouro, na mineração.
São eles os faiscadores que tudo tomam, examinam, rejeitam, classificam e colocam no lugar certo, no tempo certo, altruisticamente, para que quem venha depois possa aproveitar-se das estratificações do conhecimento e sair para novas sínteses, cada vez mais amplas, mais nobres, mais belas, ad infinitum.
Allan Kardec é um desses espíritos. Não diremos que seja um privilegiado porque essa classificação implica idéia de prerrogativa mais ou menos indevida e as suas virtudes são conquistas legítimas do seu espírito, amadurecidas ao longo de muitos e muitos séculos no exercício constante de uma aguda capacidade de julgamento — é, pois, um direito genuinamente adquirido pelo esforço pessoal do espírito e não uma concessão arbitrária dos poderes superiores da vida.
O trabalho que realizou pela Doutrina Espírita é de inestimável relevância. Para avaliar a sua importância basta que nos coloquemos, por alguns instantes, na posição em que ele estava nos albores do movimento. Era um homem de 50 -anos de idade, professor e autor de livros didáticos.
Sua atenção é solicitada para os fenômenos, mas ele não é de entregar-se impulsivamente aos seus primeiros entusiasmos. Quer ver primeiro, observar, meditar e concluir, antes de um envolvimento maior. Quando recebe a incumbência e percebe o vulto da tarefa que tem diante de si, nem se intimida, nem se exalta. É preciso, porém, formular um plano de trabalho. Por onde começar? Que conceitos selecionar? Que idéias têm precedência sobre outras? Serão todas as comunicações autênticas? Será que os Espíritos sabem de tudo? Poderão dizer tudo o que sabem?
É tudo novo, tudo está por fazer e já lhe preveniram que o mundo vai desabar sobre ele. O cuidado tem de ser redobrado, para que o edifício da doutrina não tenha uma rachadura, um fresta, um ponto fraco, uma imperfeição; do contrário, poderá ruir, sacrificando toda a obra. Os representantes das trevas estão atentos e dispostos a tudo. Os Espíritos o ajudam e o inspiram e o incentivam, embora sejam extremamente parcimoniosos em elogios e um tanto enérgicos nas advertências.
Quando notam um erro de menor importância numa exposição de Kardec, não indicam o ponto fraco; limitam-se a recomendar-lhe que releia o texto, que ele próprio encontrará o engano.
Do lado humano, encarnado, da vida, é um trabalho solitário. Não tem a quem recorrer para uma sugestão, um conselho, um debate. Os amigos espirituais somente estão à sua disposição por algum tempo, restrito, sob limitadas condições, durante as horas que consegue subtrair ao seu repouso, porque as outras são destinadas a ganhar a vida, na dura atividade de modesto guarda-livros.
Sem dúvida alguma, trata-se de um trabalho de equipe, tarefa pioneira, reformadora, construtora de um novo patamar para a escalada do ser na direção de Deus.
As velhas doutrinas religiosas não satisfazem mais, a filosofia anda desgovernada pelos caminhos da negação e a ciência desgarrada de tudo, aspirando ao trono que o dogmatismo religioso deixou vago.
No meio de tudo isso, o homem que pensa e busca um sentido para a vida se atormenta e se angustia, porque não vê suporte onde escorar sua esperança. A nova doutrina vem trazer-lhe o embasamento que faltava, propor uma total reformulação dos conceitos dominantes.
Ciência e religião não se eliminam, como tantos pensavam; ao contrário, se completam, coexistindo com a filosofia. O homem que raciocina também pode crer e o crente pode e deve exercer, em toda a extensão, o seu poder de análise e de crítica. Isso não é apenas tolerado, senão estimulado, pois entende Kardec que a fé só merece confiança quando passada pelos filtros da razão. Se não passar, é espúria e deve ser rejeitada.
Concluindo, assim, o trabalho que lhe competia junto aos Espíritos ainda lhe resta muito a fazer, e o tempo urge. Incumbe-lhe agora inserir a nova doutrina no contexto do pensamento de seu tempo — como se diria hoje. Terminou o recital a quatro mãos e começa o trabalho do solista, porque o mestre ainda está sozinho entre os homens, embora cercado do carinho e da amizade de seus companheiros espirituais. Atira-se, pois, ao trabalho.
A luz do seu gabinete arde até altas horas da noite. E preciso estudar e expor aos homens os aspectos experimentais implícitos na Doutrina dos Espíritos. Desses aspectos, o mais importante, sem dúvida, é a prática da mediunidade, instrumento de comunicação entre os dois mundos. Sem um conhecimento metodizado da faculdade mediúnica, seria impossível estabelecer as bases experimentais da doutrina. Daí, o “O Livro dos Médiuns”.
Em seguida, é preciso dotar o Espiritismo de uma estrutura ética. Não é necessário criar uma nova moral; já existe a do Cristo. O trabalho é~,enorme e exige tudo de seu notável poder ordenador. E que o ensinamento de Jesus, com a passagem dos séculos e ao sopro de muitas paixões humanas, ficara soterrado em profunda camada de impurezas. Kardec decidiu reduzir ao mínimo os atritos e controvérsias, buscando nos Evangelhos apenas o ensinamento moral, sem se deter, portanto, na análise dos milagres, nem dos episódios da vida pública do Cristo, ou dos aspectos que foram utilizados para a elaboração dos dogmas.
Dentro dessa idéia diretora, montou com muito zelo e amor “O Evangelho segundo o Espiritismo”. O problema dos dogmas — pelo menos os principais —ficaria para “O Céu e o Inferno” e sobre as questões científicas ainda voltaria a escrever em “A Gênese”.
E assim concluía mais uma etapa da sua tarefa. O começo, onde andaria? Em que tempo e em que ponto cósmico? Era — e é — um espírito reformador, ordenador, preparador de novas veredas.
A continuação, seus amigos espirituais deixaram-no entrevê-la ao anunciar-lhe que se aproximava o término da existência terrena, mas não dos seus encargos: voltaria encarnado noutro corpo, lhe disseram, para dar prosseguimento ao trabalho. Ainda precisavam dele e cada vez mais.
Nada eram as alegrias que experimentava ao ver germinar as sementes que ajudara a semear; aquilo eram apenas os primeiros clarões de uma nova madrugada de luz. Quando voltasse, teria a alegria imensa de ver transformadas em árvores majestosas as modestas sementeiras das suas vigílias, regadas por dores muitas.
Não seria mais o vulto solitário a conversar com os Espíritos e a escrever no silêncio das horas mortas —teria companheiros espalhados por toda a Terra, entregues ao mesmo ideal supremo de trabalhar sem descanso na seara do Cristo, cada qual na sua tarefa, conforme seus recursos, possibilidades e limitações, dado que o trabalho continua entregue a equipes, onde o personalismo não pode ter vez para que as paixões humanas não o invalidem.
“De modo que — dizia Paulo — nem o que planta é alguém, nem o que rega, senão Deus que a faz crescer.
E o que planta e o que rega são iguais; se bem que cada um receberá o seu salário segundo seu próprio trabalho, já que somos colaboradores de Deus e vós, campo de Deus, edificação de Deus” (1 Coríntios, 3:7 a 9).
Trabalhadores de Deus desejamos ser e o seremos toda vez que apagarmos o nosso nome na glória suprema do anonimato, para que o nosso trabalho seja de Deus, que faz germinar a semente e crescer a árvore, e não nosso, que apenas confiamos a semente ao solo. Somos portadores da mensagem, não seus criadores, porque nem homens nem espíritos criam; apenas descobrem aquilo que o Pai criou.
São essas as dominantes do espírito de Kardec.
Sua vitória é a vitória do equilíbrio e do bom senso, é a vitória do anonimato e da humildade, notável forma de humildade que não se anula, mas que luta e vence. Como figura humana, nem sequer aparece nos livros que relatam a saga humana. Para o historiador leigo, quem foi Kardec? Seu próprio nome civil, Hippolyte-Léon Denizard Rivail, ele o apagou para publicar seus livros com o nome antigo de um obscuro sacerdote druida.
De modo que não é somente a obra realizada por Kardec que devemos estudar, é também sua atitude perante a obra, porque tudo neste espírito é uma lição de grandeza em quem não deseja ser grande.
Nas Fronteiras do Além – Hermínio C Miranda

Autodescobrimento

Muito antes da valiosa contribuição dos psiquiatras e psicólogos humanistas e transpessoais, quais Jubler Ross, Grof, Raymond Moody Júnior, Maslow, Tart, Viktor Frankl, Coleman e outros, que colocaram a alma como base dos fenômenos humanos, a psicologia espírita demonstrou que, sem uma visão espiritual da existência física, a própria vida permaneceria sem sentido ou significado. O reducionismo, em psicologia, torna o ser humano um amontoado de células sob o comando do sistema nervoso central, vitimado pelos fatores da hereditariedade e pelos caprichos aberrantes do acaso. A saúde e a doença, a felicidade e a desdita, a genialidade e as patologias mentais, limitadoras e cruéis, não passam de ocorrências estúpidas da eventualidade genética. Assim considerado, o ser humano começaria na concepção e anular-se-ia na morte, um período muito breve para o trabalho que a Natureza aplicou mais de dois bilhões de anos, aglutinando e aprimorando moléculas, que se transformaram em um código biológico fatalista... Por outro lado, a engenharia genética atual, aliando-se à biologia molecular, começa a detectar a energia como fator causal parea a construção do indivíduo, que passa a ser herdeiro de si mesmo, nos avançados processos das experiências da evolução. Os conceitos materialistas, desse modo, aferrados ao mecanismo fatalista, cedem lugar a uma concepção espiritualista para a criatura humana, libertando-a das paixões animais e dos atavismos que ainda lhe são predominantes. Inegavelmente, Freud e Jung ensejaram uma visão mais profunda do ser humano com a descoberta e estudo do inconsciente, assim como dos arquéticos, respectivamente, constatando a realidade do Espírito, como explicação para os comportamentos variados dos diferentes indivíduos que, procedentes da mesma árvore genética, apresentam-se fisiológica e psicologicamente opostos, bem e mal dotados, com equipamentos de saúde e de desconserto. Não nos atrevemos a negar os fatores hereditários, sociais e familiares na formação da personalidade da criança. No entanto, adimos que eles decorrem de necessidades da evolução, que impõem a reencarnação no lugar adequado, entre aqueles que propiciam os recursos compatíveis para o trabalho de auto-iluminação, de crescimento interior. O lar exerce, sem qualquer dúvida, como ocorre com o ambiente social, significativa influência no ser, cujos ônus serão o equilíbrio ou a desordem moral, a harmonia física ou psíquica correspondente ao estágio evolutivo no qual se encontra. A necessidade, portanto, do auto descobrimento, em uma panorâmica racional torna-se inadiável, a fim de favorecer a recuperação, quando em estado de desarmonia, ou o crescimento, se portador de valores intrínsecos latentes. Enquanto não se conscientize das próprias possibilidades, o indivíduo aturde-se em conflitos de natureza destrutiva, ou foge espetacularmente para estados depressivos, mergulhando em psicoses de vária ordem, que o dominam e inviabilizam a sua evolução, pelo menos momentaneamente. A experiência do auto descobrimento faculta-lhe identificar os limites e as dependências, as aspirações verdadeiras e as falsas, os embustes do ego e as imposturas da ilusão. Remanescem-lhe no comportamento, como herança dos patamares já vencidos pela evolução, a dualidade do negativismo e do positivismo diante das decisões a tomar. Não identificado com os propósitos da finalidade superior da Vida, quando convidado à libertação dos vícios e paixões perturbadores, das aflições e tendências destrutivas, essa dualidade do negativo e do positivo desenha-se-lhe no pensamento, dificultando-lhe a decisão. É comum, então, o assalto mental pela dúvida: Isto ou aquilo? A definição faz-se com insegurança e o investimento para a execução do propósito novo diminui ou desaparece face às contínuas incertezas. Fazem-se imprescindíveis alguns requisitos para que seja logrado o auto descobrimento com a finalidade de bem-estar e de logros plenos, a saber: insatisfação pelo que se é, ou se possui, ou como se encontra; desejo sincero de mudança; persistência no tentame; disposição para aceitar-se e vencer-se; capacidade para crescer emocionalmente. Porque se desconhece, vitimado por heranças ancestrais - de outras reencarnações -, de castrações domésticas, de fobias que prevalecem da infância, pela falta de amadurecimento psicológico e outros, o indivíduo permanece fragilizado, suscetível aos estímulos negativos, por falta de auto-estima, do auto-respeito, dominado pelos complexos de inferioridade e pela timidez, refugiando-se na insegurança e padecendo aflições perfeitamente superáveis, que lhe cumpre ultrapassar mediante cuidadoso programa de discernimento dos objetivos da vida e pelo empenho em vivenciá-lo. Inadvertidamente ou por comodidade, a maioria das pessoas aceita e submete-se ao que poderia mudar a benefício próprio, auto punindo-se, e acreditando merecer o sofrimento e a infelicidade com que se vê a braços, quando o propósito da Divindade para com as suas criaturas é a plenitude, é a perfeição. Dominado pela conduta infantil dos prêmios e dos castigos, o indivíduo não amadurece o eu profundo, continuando sob o jugo dos caprichos do ego, confundindo resignação com indiferença pela própria realização da ocorrência - dor sem revolta, porém atuando para erradicá-la. Liberando-se das imagens errôneas a respeito da vida, o ser deve assumir a realidade do processo da evolução e vencer-se, superando os fatores de perturbação e de destruição. Ao apresentarmos o nosso livro aos interessados na decifração de si mesmos, tentamos colocar pontes entre os mecanismos das psicologias humanista e transpessoal com a Doutrina Espírita, que as ilumina e completa, assim cooperando de alguma forma com aqueles que se empenham na busca interior, no auto descobrimento. Não nos facultamos a ilusão de considerar o nosso trabalho mais do que um simples ensaio sobre o assunto, com um elenco amplo de temas coligidos no pensamento dos eméritos da alma e com a nossa contribuição pessoal. Uma fagulha pode atear um incêndio. Um fascículo de luz abre brecha na treva. Uma gota de bálsamo suaviza a aflição. Uma palavra sábia guia uma vida. Um gesto de amor inspira esperança e doa paz. Esta é uma pequena contribuição que dirigimos aos que sinceramente se buscam, tendo Jesus como Modelo e Terapeuta Superior para os problemas do corpo, da mente e do espírito. Rogando escusas pela sua singeleza, permanecemos confiantes nos resultados felizes daqueles que tentarem o auto descobrimento, avançando em paz.
JOANA DE ÂNGELIS (espírito)
Salvador, 30 de novembro de 1994.
Livro: Autodescobrimento: uma busca interior. Psicografia do médium Divaldo Franco

Desfavoravelmente

"Não imiteis o homem que se apresenta como modelo e trombeteia ele próprio suas qualidades a todos os ouvidos complacentes." (Alan Kardec - E.S.E. Cap. XVII -ltem 8).
Não julgue desfavoravelmente, mesmo que sua observação o ajude na conclusão precipitada. Você não pode pretender ter examinado o assunto sob todos os ângulos. Muita coisa, que você vê, não é exatamente como você vê... * Não comente desfavoravelmente, mesmo que tenha sobejas razões para fazê-lo. Você não sabe como se portaria, se estivesse na posição do antagonista. O que você sabe não se deu realmente como você sabe... * Não pense desfavoravelmente, mesmo que encontre apoio na atitude de todos. Você não conhece o assunto com a consideração devida. O que você conhece não expressa a realidade como você pensa... Não informe desfavoravelmente, mesmo que você esteja senhor do assunto. Você não dispõe de possibilidades para prever as mudanças que se operam num minuto. O de que você está informado não é conhecimento bastante para que você informe como foi informado... * Não opine desfavoravelmente, quando você puder ajudar, só porque muitos são contra. Você não pode discordar, somente para agradar a maioria. O de que você tem notícia não se passou como lhe disseram... * Ouça a opinião de duas pessoas de gostos musicais diferentes, saindo de um concerto de música clássica... No dia do julgamento de Jesus-Cristo, a multidão julgava, comentava, pensava, informava e opinava desfavoravelmente a Ele... Crucificado, deu ganho de causa aos assassinos e perseguidores. No entanto, o material com que O julgaram e as testemunhas que O acusaram não representavam a verdade, porque, enquanto todos estavam ligados aos interesses inconfessáveis do mundo, desejavam alijá-lo da Terra. Ele, que era o Senhor do mundo, ficou, porém, em silêncio, fiel ao Supremo Pai, porfiando até o fim. * * * Franco, Divaldo Pereira. Da obra: Glossário Espírita-Cristão. Ditado pelo Espírito Marco Prisco. 4a edição. Salvador, BA: LEAL, 1993. Paz e Luz em nossos caminhos... Abraço fraterno

sábado, 16 de julho de 2011

Fluidoterapia

Entrevista com Divaldo Pereira Franco, dia 18.10.94. Na reunião doutrinária do Centro Espírita Caminho da Redenção.


         JOSÉ FERRAZ: Divaldo, o que é o passe espírita? Ele cura as nossas desarmonias íntimas com reflexos na mente, na emoção e no corpo? Se isso acontece, como esses mecanismos funcionam?
         DIVALDO: Iremos buscar as origens históricas do passe espírita nos tempos modernos, nas experiências de franz Anton Mesmer, por volta de 1775, em Viena, quando o admirável médico austríaco apresentou à Universidade uma tese a respeito do intercâmbio das energias entre as criaturas humanas e os astros. A tese de Mesmer passaria à posteridade com o nome de fluidismo. Porque a Universidade de Viena considerasse a doutrina do admirável médico como anticientífica, ele recebeu uma proposta em duas alternativas: abandonar as suas experiências e ficar em Viena, ou abandonar Viena  para dar curso ao seu trabalho de investigação, Mesmer optou por transferir-se de Viena para Paris, numa época que precede aos dias da revolução de 89. Entre as clientes que atendeu no seu consultório podem ser recordadas Maria Antonieta e outras personalidades da corte de Luiz XVI.
         Foi Maria Antonieta, principalmente, quem se tornou uma grande divulgadora da energia mesmérica... Encontrava-se, nessa época, em França o militar estadunidense, General Lafayete; diante da revolução operada por Mesmer através do “baquet” ou tina das convulsões – uma grande tina de carvalho, na qual eram colocadas água e peças de metais imantados e em torno dela vários pequenos bancos e nela própria diversos orifícios por onde saiam hastes metálicas, que estavam introduzidas no imã e nos demais elementos dentro da tina, que as pessoas seguravam com o objeto de provocar choques(daí o “baquet”ter passado à posteridade com o nome de tina das convulsões) – 0nde as pessoas, por esta ou aquela razão, entrando num estado alterado de consciência asseveravam estar melhorando dos problemas psicossomáticos, de que eram objeto e porque Maria Antonieta, que era portadora  de uma grande enxaqueca, asseverasse haver se curado ao sentar na tina das convulsões, ele manda essa experiência para a América, através de uma carta memorável, a fim de que chegasse ao Novo Mundo o último fenômeno  que visitava Paris.
         Depois da Revolução francesa o “baquet”, ou tina das convulsões, entrou em relativa decadência.
         Mais tarde, por volta de 1825, as experiências mesméricas ganharam um admirável colaborador, o Marquês de Puységur, armand M. Jacques de Chastenet, que se tornou um admirável magnetizador. A partir de suas experiências o fluidismo mesmérico passou a ser considerado como magnetismo animal. Ele morava em Buzanci e ali atendia uma larga cópia de pacientes da nobreza, da burguesia. E porque os pobres também recorressem ao seu auxílio, o Marquês resolveu magnetizar uma árvore, um seibo, e os pacientes que a tocavam asseveravam assimilar energia, recuperando-se da problemática atormentadora.
         Visitando Paris, Marquês de Puységur teve oportunidade de magnetizar, nos Campos Elíseos, uma árvore que passou a ter propriedades curadoras.
         Nessa época, em 1828, chega a Paris, o jovem professor Hippolyte Leon Denizard Rivail e, diante da moda que tomava conta dos gabinetes de pesquisas, ele também adotou o comportamento de magnetizador. Allan Kardec, pseudônimo pelo qual será conhecido mais tarde, torna-se grande magnetizador; e foi numa das sessões, na residência de madame Plainemaison, como magnetizador, com o Sr. Fortier, que ele teve contato pela primeira vez com as mesas girantes, em uma terça feira de maio do ano de 1855 ( a data não foi anotada devidamente).
         Então, esse magnetismo, mais tarde, a partir de 1856, foi aplicado na terapia de pacientes de vária ordem, quando um deles, de nome Walker, caiu em transe sonambúlico por estar com os olhos detidos em peça brilhante, que o seu magnetizador movimentava. Nascem daí, as primeiras experiências hipinológicas que ficarão centralizadas na Universidade de Paris, especialmente para atender aos histéricos, durante a década 1880-1890, nas memoráveis experiências de Charcot.
         À medida que a Doutrina Espírita se popularizou, aquela aplicação de energias magnéticas passou a ter o contributo também fluídico, graças á interferência dos Espíritos que, invariavelmente, estão em contato com as criaturas humanas, e, a postriori, essas experiências (hoje chamadas de terapia alternativa), principalmente no passe e na água magnetizada, tornaram-se uma forma de os espíritas atendermos a pessoa que tem problemas.
         O passe pode ser considerado sob vários aspectos: o passe magnético, quando a energia exteriorizada é chamada energia animal, do próprio magnetizador; o passe fluídico, quando essa energia é calcada com as vibrações dos Espíritos desencarnados que se utilizam do comportamento mediúnico para transmitir o contributo energético e salutar.
         Essa mesma energia pode ser transmitida à água que, apesar de ser um corpo composto, é considerado dos mais simples; ela assimila com muita propriedade. É uma repetição do fenômeno das bodas de Cana, quando Jesus, a pedido de Maria santíssima, transformou a água dando-lhe o sabor de vinho.
         A transmissão da energia produz resultados saudáveis ou negativos, a depender do fulcro que faz a irradiação dela mesma. Qu8ando se trata de pessoas saudáveis, física, psíquica e moralmente, essa energia recompõe os tecidos porque vai atuar no perispírito, restabelecendo o equilíbrio vibratório para a multiplicação e a renovação das células.
Tanto tem ação de natureza emocional, na área psicológica do indivíduo, como psíquica, nos problemas de alienação mental e de tormento na área da obsessão, como também do refazimento orgânico, por proporcionar ao perispírito a recomposição energética das células que, ao se multiplicarem saudáveis, substituem aquelas degeneradas que, ao morrerem, já não se multiplicam.
         Então o passe espírita é a transmissão da energia através de uma pessoa que, orando, vinculada ao Psiquismo Divino, sintoniza com as Entidades do Bem para realizarem a ação de caridade.

         JOSÉ FERRAZ: Qualquer pessoa pode aplicar passe ou se exigem determinados requisitos?
         DIVALDO: Qualquer pessoa pode aplicar passe. O que merece considerar é a conseqüência da transmissão da energia.
         Uma pessoa caracterizada pelas veleidades morais, vinculada aos vícios chamados sociais, dependentes de drogas químicas e de hábitos censuráveis da promiscuidade sexual e comportamental; as pessoas que agasalham idéias pessimistas, que cultivam a maledicência e os vícios morais, não tem condições de aplicar de maneira saudável, o passe com objetivos curativos. Pode possuir energia, mas essa energia é deletéria conforme o comportamento do indivíduo. Para contribuir a favor da saúde moral, de saúde física, de saúde psíquica, porque somente uma pessoa harmônica pode evitar vibrações equilibradas para sintonizar com o psiquismo em perturbação daquela que se encontra doente.
         Para que se venha a aplicar passes, abandonando hábitos mundanos e modificando a sua estrutura comportamental, tornam-se exigíveis: primeiro, a mudança do direcionamento mental, depois, o cultivo de idéias otimistas, uma alimentação saudável (que seja rica de elementos nutrientes e não aquela que seja rica de toxinas para que estas não sejam eliminadas pela energia que vem do interior do indivíduo para o mundo exterior, no momento da transmissão) mas são especialmente na conduta moral e nos hábitos espirituais, graças a cujo comportamento se atrai Espíritos equivalentes, que está a grande responsabilidade de quem deseja aplicar passes.
         É, portanto, conveniente, sob todos os aspectos, que o pretendente à atividade terapêutica, na área dos passes, realize uma mudança de comportamento para melhor e procure tornar-se realmente um terapeuta de natureza espiritual, a fim de que a sua contribuição não seja negativa e possa realmente ajudar o indivíduo a libertar-se das suas problemáticas.

         JOSÉ FERRAZ: Existem duas expressões do Mestre Jesus que nos chamam a atenção nos fenômenos de cura: “que queres que eu faça?” e “a tua fé te curou”. Qual o significado dessas duas frases na visão espírita?
         DIVALDO: Nem sempre sabemos o que é de melhor para nós. Aquilo que hoje nos significa o melhor, amanhã, talvez, seja a causa da nossa desventura. E Jesus, porque conhecia essa nossa oscilação emocional, quando o homem foi pedir-lhe ajuda e, outras vezes, quando os necessitados dEle se acercavam, Ele lhes perguntava” “O que queres que eu te faça?”. Invariavelmente as pessoas redargüiam: “que me cures”. Por que era o seu grande problema.
         Jesus não apenas curava as seqüelas dos males orgânicos, mas aquele que mantinha um contato com Ele, quando levava as suas doenças, encontrava uma renovação íntima tão profunda que a sua era a cura moral, atingindo-lhe o fulcro espiritual.
         Na pergunta “que queres que eu faça?!, o espiritismo vê o que nós poderemos oferecer a quem nos busca, nem sempre conforme a pessoa quer, mas conforme o que a pessoa tem necessidade para evoluir.. Muitas vezes, a dor que nos amesquinha e que aparentemente nos infelicita é o que há de melhor para o nosso momento, já que nos amadurece para ensejar-nos a colheita de frutos opimos e sazonados mais tarde.
         A fé é o estado de receptividade, porque, se ao doador de energia são exigíveis requisitos essenciais para se colimarem efeitos superiores, àquele que se candidata a receber também são exigíveis requisitos específicos para poder beneficiar-se.

         O Swami Sai Baba tem uma bela imagem numa parábola: diz ele, que existem pedras que estão no fundo do oceano há milhões de anos; estão envoltas pelas águas abissais, mas se as arrebentarmos, elas estão secas por dentro, porque não se deixam permear. Existem outras que apenas o sereno da noite consegue penetra-las; e se nós as arrebentarmos encontrá-las-emos úmidas no seu interior. Essas pedras, para sai Baba, são as criaturas humanas: há pessoas que se encontram muitas vezes mergulhadas no oceano do conhecimento divino e permanecem impermeáveis; não se deixam sensibilizar; as suas necessidades são supérfluas, são sempre exteriores; interiormente estão secas, são frias, indiferentes. E outras são muito sensíveis, facilmente assimilam as boas idéias, beneficiam-se das informações, deixam-se penetrar pelas energias.
         Logo, todo aquele que se candidate à terapia do passe, como beneficiário, deve ser receptivo.  Deve abrir-se para que as vibrações penetrem-lhe e atinjam o perispírito.
         Essencialmente, o indivíduo é constituído de  sete fulcros ou chakras, ou centro de força. Particularmente o chakra coronário, que fica na região da glândula pienal e que é a sede do conhecimento de ordem divina, é o fulcro da  inspiração através do qual nós captamos as ondas do pensamento superior.

         JOSÉ FERRAZ: Existe necessidade de incorporação mediúnica para aplicação do passe?
         DIVALDO: Nenhuma necessidade, já que se pode magnetizar pela própria energia, como faziam Allan Kardec e os magnetizadores do passado. A incorporação mediúnica tem outra finalidade.
         Quando os Espíritos vêm comunicar-se conosco e trazem as suas mensagens, fazem-no em momentos próprios adrede estabelecidos. Durante a terapia pelos passes não é conveniente a incorporação mediúnica, para evitar a mística e a surperstição  e também o desgaste do próprio passista. Porque durante o fenômeno de incorporação há um desgaste de energia ectoplasmática, uma perda de energia curativa. Esses dois desgastes irão perturba o equilíbrio psicssomático do agente aplicador de passe.
         Buda tem uma imagem que nos parece esclarecedora: “uma vela que está acesa numa extremidade terá um tempo em que o combustível manterá a chama iluminando. Mas, se a acendermos pelos dois extremos, naturalmente o combustível se gastará com muito maior rapidez”.
         A pessoa que aplica passes, estando incorporada, vai ter uma despesa de energia desnecessária. O que acontece, no entanto, quando se faz a aplicação dopasse em estado de lucidez e de consciência? No breve intervalo do repouso entre um passe e outro o organismo se refaz qual ocorre na transfusão de sangue.

         JOSÉ FERRAZ: Divaldo, onde se deve aplicar passes?
         Divaldo:  Na casa Espírita.
         Onde se deve fazer cirurgias de grande porte? Nos hospitais. Onde se deve fazer um leve curativo? Em qualquer lugar.
         O passe espírita é uma atividade de profundidade. Muitas vezes, no momento do passe, as entidades venerandas realizam cirurgias perispirituais. Pessoas que tem “células fotoelétricas”, implantadas no cérebro, no cerebelo, ou tem determinados implantes em órgãos enfermos são beneficiados por esses Benfeitores, que se utilizam dos momentos de concentração do paciente e de harmonia com o agente do passe para realizar tais cirurgias.
         No centro Espírita, sim, por se tratar de um lugar onde existe um clima psíquico apropriado, onde se encontram condições mesológicas, porque ali os Espíritos colocam equipamentos especiais de que se utilizam.
         Em emergência, pode-se aplicar o passe em qualquer lugar. O essencial é a condição do agente e, como conseqüência, a receptividade do paciente. Pode-se aplica-lo no lar, naqueles que o habitam, ao término do culto evangélico, ou quando se torna uma necessidade. Não por hábito. Num hospital, quando as circunstancias assim o exigirem. Mas o ideal é que a terapia pelos passes seja aplicada no lugar conveniente que é o Centro Espírita. E por que aí? Porque no centro espírita a pessoa antes faz uma terapia psicológica, ouve para poder libertar-se de idéias que não correspondem à realidade, faz uma psicanálise de grupo, recebe uma onda vibratória essencial e vai, naturalmente, relaxar, por causa do próprio psiquismo ambiente, tornando-se facilmente receptiva.

        
JOSÉ FERRAZ: Como atuam os Bons Espíritos no momento da aplicação do passe?
         DIVALDO: sempre através do perispirito.
         Em A Gênese, capítulo 14, item 7, Allan Kardec fala das propriedades do perispírito e, em outras reporta-se à expansibilidade.

         JOSÉ FERRAZ: As técnicas usadas na aplicação dos passes tem alguma influência nos seus resultados?
         DIVALDO: Toda técnica é um contributo especializado para mais rapidamente se alcançar uma finalidade.
         Jesus, pelo Seu alto poder de dínamo gerador, deu-nos a prova de que as técnicas são meios, mas não se tornam essenciais.
         Chega o cego, Ele cospe na areia e faz lodo, passa-lhe nos olhos e diz-lhe: - “Agora vai lavar-te no poço de siloé” – que era um poço, uma piscina muito famosa nos arredores de Jerusalém – porque a tradição dizia que, periodicamente, os anjos “desciam”, moviam as águas e o primeiro enfermo que nelas caísse após a “agitação” adquiria a cura momentânea. Então o cego vai, lava os olhos e recupera a visão. É uma técnica.
         Ao jovem obsidiado de Gadara, quando ele passa pelo cemitério e o doente grita: “Jesus de Nazaré, que tens Tu contra nós?”, Ele pergunta: “Quem tu és?”. “Nós somos Legião, porque somos muitos aqueles que estamos neste corpo”. Ele impõe: “Legião, eu te ordeno: sai dele”. E os Espíritos saíram porque Lhe obedeceram a força vibratória. Outra técnica.
         Outra vez, uma paciente, portadora de obsessão física que a tornava corcunda, andava para cá e para lá, na Sinagoga. Jesus chamou-a, colocou-lhe a mão no dorso espinhal e corrigiu-lhe a imperfeição, libertando-a da constrição física do obsessor que a tornava uma atormentada.
         Temos ainda o caso da mulher que lhe tocou as vestes, a hemorroíssa, que tocou em Jesus, e o fluxo hemorrágico desapareceu na hora.
         Noutra oportunidade, a mulher caminhava acompanhando o féretro da própria filha, e porque chorava muito, Jesus contemplou o corpo e viu que a menina não estava morta, mas em catalepsia. Ele mandou tirar o envoltório e disse: “talita, cumi” (Levanta –te e anda).
          Ora, ele possuía essa força de irradiação, e nós, que não temos o mesmo poder, utilizamo-nos de algumas técnicas, devendo, todavia, preservar as mais simples, aquelas que sejam enriquecidas de doação para que, em primeiro lugar, a preocupação com a técnica não nos desvie da intenção de ajudar o paciente, e segundo, para que não fiquemos presos a fórmulas e formas, esquecidos do conteúdo, qual aconteceu com outras doutrinas que se preocuparam muito com o exterior e perderam a vitalidade interior.

         JOSÉ FERRAZ: Divaldo, agora nos demonstre um passe padrão, explicando-o detalhadamente para que o entendamos.
         DIVALDO: Antes de faze-lo, abramos um Parêntese: Pressupomos que o paciente tem um problema que não nos revelou – e não devemos ter a leviandade de invadir a privacidade das pessoas que nos procuram, para nos inteirarmos dos seus problemas, É necessário respeitar muito a vida íntima dos que nos buscam, para não nos tornarmos detentores de segredos e depois, consciente ou inconscientemente, fazermos chantagem. O problema de cada um merece todo o respeito, é de sua propriedade. Se a pessoa, espontaneamente, nos diz, peçamos para não entrar em detalhes constrangedores porque, no momento do impacto, ela abre a alma e depois arrepende-se, fica constrangida e afasta-se, ou,  muitas vezes nós, por deficiências do emocional, não captamos bem (cada um ouve e sente conforme a sua capacidade) e interpretamos errado, gerando situações embaraçosas. Muito respeito ao próximo é uma questão que caracteriza a atitude do espírita e o conteúdo do Espiritismo – um problema, não importa qual, e como o Chakra coronário é o centro da vida divina e o fulcro por onde entram as energias para nos vitalizar o organismo, iremos concentrar a nossa atividade nesse chakra, que está na parte superior do crâneo , ele próprio situado na tela túrcica, na base do cérebro, onde se localiza a glândula pienal ou epífese (Missionários da Luz, capítulo 2, André Luiz, estuda em profundidade a função psíquica dessa glândula).
         Então, pressupomos a pessoa com um desequilíbrio de qualquer natureza: a nossa primeira atitude é eliminar o fator perturbador, diríamos, retirar as energias deletérias através de movimentos rítmicos. Sabemos, hoje, através da doutrina do  bioritmo, que tudo no Universo obedece a ritmos , sendo  desnecessário apresentar explicações. As leis de gravitação universal, a circulação do sangue, os batimentos peristálticos... toda a vida transcorre em ritmos equilibrados.
         Através de movimentos rítmicos  iremos retirar essa energia que supomos negativa. Quer se trate de uma obsessão, de uma distonia psíquica ou de um desequilíbrio orgânico, centralizaremos o chakra coronário. Se a pessoa que estamos atendendo falou-nos que tem um problema pulmonar, iremos atuar no chakra correspondente. Mas no início, sempre fazer a “limpeza” no coronário. Terminada essa fase, que deve durar o tempo em que oramos um “Pai Nosso” – para dar idéia de tempo e não ficarmos preocupados oremos suavemente um “pai Nosso” e aí teríamos a dimensão de um minuto e meio a dois minutos, para não ficar cansativo para quem recebe e para quem aplica, e monótono, nem, também, muito rápido –faremos uma pausa e aplicaremos a energia que o organismo do paciente vai absorver para restaurar-lhe o equilíbrio.
         Assim dividimos esse passe simples em três momentos: assepsia, repouso e doação. Ainda, na limpeza, devemos ter o cuidado com o campo vibratório, que é toda a área que envolve a pessoa. Quando estivermos fazendo a assepsia de campo, tiraremos a energia negativa e esse campo (por onde nossas mãos passaram) óbviamente ficará saturado dessa energia. Ao retornar as mãos, fá-lo-emos por um campo neutro, por dentro (próximo ao nosso corpo). Retiramos e retornamos, repetidamente, sem que isso venha a se transformar num ritual. O espiritismo não tem ritual, não tem formalismo, não tem cerimonial.

         Agora esclarecidos, vamos aplicar o passe. Tomemos uma postura agradável: um pé à frente, o outro atrás, para nos movermos sem nos desequilibrar. Evitemos a respiração sobre a face do paciente. Não é necessário, aqui, nos reportarmos aos cuidados da higiene, porque é muito desagradável alguém descuidado acercar-se de outrem produzindo náuseas ou reações compreensíveis. Tenhamos bastante cuidado com os nossos odores, para criarmos constrangimentos nem reações próprias da nossa condição de pessoas humanas. Não falamos só da higiene corporal, porque essa é óbvia. Mas, ao passista, exigir-se-á muito mais: quando ele ao transpirar, sentir-se sem condição física, ceda o lugar a outro, porque não deve ter a pretensão de ser o salvador do mundo; se ele se salvar a si mesmo já é uma grande coisa e se ele ajudar alguém, é um coroamento. Há pessoas que, para impressionar, resfolegam e agitam-se, e movem-se... Isto é só para impressionar, não tem nenhum efeito, nenhum valor. O passe, é óbvio, não depende de força muscular, quanto mais discreto, rítmico, nobre, melhor efeito.
         Evitemos tocar nas pessoas. Não é necessário  segura-las, puxar de dedos, puxar os braços... São superstições, são quejandos que nós colocamos em uma terapia superior, para impressionar.
         Está no Evangelho: “Não é por muito chamar: Senhor, Senhor, que se entrará no reino dos céus”.E o profeta Isaías dizia: “Esse povo honra-me com os lábios, mas não tem no coração”. Portanto o passe é uma terapia eminentemente psíquica, de perispírito a perispírito, de alma a alma. Agora se notarmos que o paciente está muito concentrado, poderemos dar um ligeiro toque como a dizer-lhe: “Já terminei”. O fato de sairmos do seu lado, na maioria das vezes, é o suficiente para ele perceber que terminamos e volte serenamente à sua postura regulamentar.
         Como vimos é uma terapia simples. Tudo o que encontrarmos de arranjos e de exageros são enxertos pessoais que não tem nenhum valor real.
        


"Não se perturbe o teu coração. – Crê em Deus..."

O lar

Que as bençãos do Pai de Amor e Bondade sejam presentes na vida de cada um de nós. Que o Mestre Jesus consiga penetrar em nossos corações, t...