Centre Spirite Lyonnais Allan Kardec
A Reencarnação na história
A doutrina das vidas sucessivas ou reencarnação é chamada
também de Palingenesia, de duas palavras gregas, Palin, de novo, gênese,
nascimento. Ela foi formulada desde a aurora da civilização na Índia.
Encontra-se nos Vedas: " Da mesma forma que nos desfazemos de uma roupa
usada para pegar uma nova, assim a alma se descarta de um corpo usado para se
revestir de novos corpos."
Pitágoras foi o primeiro a introduzir na Grécia a doutrina
dos renascimentos da alma que tinha conhecido em suas viagens no Egito e na
Pérsia. Platão adotou a idéia pitagoriana da Palingenesia: "É certo que os
vivos nascem dos mortos; que as almas dos mortos renascem ainda." (Phèdre)
A escola néo-platônica da Alexandria ensinava a reencarnação
precisando a vantagem desta evolução progressiva para as condições da alma.
Plotino, o primeiro de todos, a revê várias vezes no curso de suas Eneidas. É
um dogma, disse ele, muita antigo e universalmente ensinado que, se a alma
comete faltas, é condenada a expiá-las submetendo-se a punições nos infernos
tenebrosos, depois do que é admitida a voltar em um novo corpo para recomeçar
suas provas. "A providência de Deus, escreveu Plotino, assegura a cada um
de nós a sorte que lhe convém e que é harmônica com seus antecedentes, segundo
suas existências sucessivas." Jamblico acrescenta: "Assim as penas
que nos afligem são freqüentemente castigos de um pecado do qual a alma se
rende culpada em sua vida anterior. Algumas vezes, a razão do castigo nos é
ocultada por Deus, mas nós não devemos duvidar de sua justiça."
Entre os romanos que adquiriram a maior parte de seus
conhecimentos na Grécia, Virgílio exprime claramente a idéia da Palingenesia
neste termos: " Todas as almas, ainda que por milhares de anos tenham
retornado à roda desta existência (no Elísios ou no Tartaro), Deus as chama em
numerosos enxames ao rio Léthé, a fim de que, privadas de recordações, revejam
os lugares superiores e convexos e comecem a querer voltar ao corpo."
Os Gauleses acreditavam nas vidas sucessivas. César escreveu
na Guerra de Gales: "Uma crença que eles buscam sempre estabelecer, é que
as almas não perecem de forma alguma e que após a morte elas passam de um corpo
para outro."
Em suas obras, o historiador Joseph fez profissão de sua fé
na reencarnação; relata que essa era a crença dos Fariseus. O Pe. Didon o
confirma nestes termos, em sus "Vida de Jesus: "Então crê-se, entre o
povo (judeu) e mesmo nas escolas, no retorno à vida da alma dos mortos." O
sábio beneditino Dom Calmet se exprime assim em seus Comentário, sobre essa
passagem das Escxrituras: "Vários doutores judeus crêm que as almas de
Adão, Abrâo, Phinées, animaram sucessivamente vários homens de sua nação."
O Talmud ensina que a alma de Abel passou ao corpo de Seth e mais tarde ao de
Moisés. O Zoar diz: "Todas as almas são submetidas às provas da transmigração"
e a Cabala: "São os renascimentos que permitem aos homens se
purificar."
Os judeus acreditavam que o retorno de Elias sobre a Terra
devia preceder o do Messias. Isto porque, no Evangelho, quando seus discípulos
perguntaram a Jesus se ele voltaria, Ele respondeu afirmativamente dizendo:
"Elias já veio e não o reconheceram, mas eles lhe tem feito tudo o que
havia sido predito." E seus discípulos compreenderam, diz o Evangelista,
que era de João que lhes falava.
Um dia, Jesus perguntou a seus discípulos o que diziam dele
no povo. Eles respondem1: "Uns dizem que és João Batista; outros, Elias;
outros Jeremias, ou qualquer um dos antigos profetas que vieram ao mundo."
Jesus, longe de os dissuadir, como se eles estivessem falando coisas imaginárias,
se contenta em acrescentar: " E vós, quem acreditam que sou?" Quando
encontram o cego de nascença, seus discípulos lhe perguntam se esse homem
nasceu cego por causa dos pecados de seus pais ou dos pecados que ele tinha
cometido antes de nascer. Eles acreditavam então na possibilidade da
reencarnação e na possível preexistência da alma. Sua linguagem fazia mesmo
crer que essa idéia estava difundida entre o povo, e Jesus parecia autorizá-la,
em vez de combatê-la; Ele fala das numerosas moradas de que se compõe a casa do
Pai.
Lemos no Evangelho de João: " Havia um homem entre os
fariseus, chamado Nicodemos, um dos principais judeus. Esse homem veio de noite
encontrar Jesus e lhe disse: "Mestre, sabemos que tu és um doutor vindo da
parte de deus, porque ninguém poderia fazer os milagres que tu fazes se Deus
não estivesse com ele." Jesus lhe respondeu: "Em verdade, eu te digo
que se um homem não nascer da água e do espírito. ele não pode entrar no reino
de Deus. Aquele que nasceu da carne é carne, e aquele que nasceu do espírito é
espírito. Não se espante de nada disso que te digo; é preciso que vós nasçais
de novo. O vento sopra onde quer, e tu ouves o ruído, mas não sabes donde ele
vem nem para onde ele vai. O mesmo ocorre de todo homem que nasceu do espírito."
Entre os Hebreus, a água representava a essência da matéria,
e quando Jesus adianta que o homem deve renascer da água e do espírito, não é
como se dissesse que deve renascer da matéria e do espírito, quer dizer em
corpo e em alma?
De todos os Padres da Igreja, Orígenes é o que afirmou de
forma mais precisa, em numerosas passagens de seu Princípios (livro 1°), a
reencarnação ou renascimento das almas. Sua tese é esta: "A justiça do
Criador deve aparecer em todas as coisas." São Jerônimo, por seu lado,
afirma que a transmigração das almas fazia parte dos ensinamentos revelados a
um certo número de iniciados. Em suas Confissões, santo Agostinho nos diz:
"Minha infância não sucedeu a uma outro idoso morto antes dela?... Mesmo
antes desse tempo, tinha já estado em qualquer parte? Fui alguma pessoa
qualquer?"
Ainda no século quinze, o cardeal Nicolas de Cusa
"sustentava em pleno Vaticano a teoria da pluralidade das existências da
alma e dos mundos habitados, não somente com o assentimento, mas com os
encorajamentos sucessivos de dois papas: Eugênio IV e Nicolau V." Malgrado
esta exceção, a doutrina das vidas sucessivas permaneceu velada por toda a
duração da idade média, porque estava severamente proscrita pela Igreja.
É preciso esperar os tempos modernos e a liberdade de pensar
e discutir para que isso reaparecesse. Leibnitz, estudando o problema da origem
da alma, admitiu que o princípio inteligente, sob a forma de mônada, tinha
podido se desenvolver no reino animal. Numerosos pensadores se reuniram à
reencarnação: Dupont de Nemours, Charles Bonnet, Lessing, Constant Savy, Pierre
Leroux, Fourier, Jean Reynaud. A doutrina das vidas sucessivas foi vulgarizada
para o grande público por autores como Balzac, Théophile Gautier, George Sand e
Victor Hugo.
Para saber mais:
Christianisme et Spiritisme de Léon Denis (notes
complémentaires, n° 5. Sur la Réincarnation)
La Réincarnation de Gabriel Delanne (ch. I, Coup d’œil
historique sur la théorie des vies successives)
O Problema do Ser e do Destino Léon Denis (2ª parte, cap.
XVII, As Vidas sucessivas. Provas históricas)
Le Génie Celtique et le monde invisible de Léon Denis (2e
partie, ch. VIII, Palingénésie : Préexistences et vies successives. La loi des
Réincarnations)