segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Comunicação com os Espíritos


Allan Kardec - O Principiante Espírita

Primeira Parte
Noções de Espiritismo
Noções preliminares

1. É engano pensar que, para se convencerem, basta aos incrédulos o testemunho dos fenômenos extraordinários. Aqueles que não admitem a existência da alma, ou Espírito, no homem, também não o admitem fora do homem. Assim, negam a causa e, em consequência, negam os efeitos. Via de regra têm uma ideia preconcebida e um propósito negativo, que impossibilita a observação exata e imparcial. Com isso levantam problemas e objeções que não podem ser respondidas de modo completo porque cada uma delas exigiria como que um curso, em que as coisas fossem expostas desde o princípio.
Como essas objeções derivam, em grande parte, do desconhecimento das causas dos fenômenos e das condições em que os mesmos se verificam, um estudo prévio teria a vantagem de as eliminar.
2. Imaginam os desconhecedores do Espiritismo que os fenômenos espíritas podem ser produzidos do mesmo modo que as experiências de Física ou de Química. Por isso pretendem submetê-los à sua vontade e se recusam colocar-se nas condições exigidas para poder observá-los.

Os Espíritos
20. O fim do Espiritismo é demonstrar e estudar a manifestação dos Espíritos, as suas faculdades, a sua situação feliz ou infeliz, o seu porvir. Numa palavra, a sua finalidade é o conhecimento do mundo espiritual.
Evidenciadas essas manifestações, conduzem à prova irrefragável da existência da alma, da sua sobrevivência ao corpo, da sua individualidade após a morte, isto é, da vida futura. Assim, é ele a negação das doutrinas materialistas, não só mediante o raciocínio, mas, e principalmente, pelos fatos.

Comunicação com o mundo invisível
22. Desde que sejam admitidas a existência, a sobrevivência e a individualidade da alma, reduz-se o Espiritismo a uma questão principal: “Serão possíveis às comunicações entre as almas e os homens?”
A experiência demonstrou tal possibilidade. Estabelecido o fato das relações entre o mundo visível e o invisível, conhecidos a natureza, o princípio e a maneira dessas relações, abriu-se novo campo à observação e foi encontrada a chave de inúmeros problemas. Eliminando a dúvida sobre o futuro, é o Espiritismo um poderoso elemento de moralização.
Qualidades dos médiuns
79. A faculdade mediúnica é uma propriedade orgânica; não depende das qualidades morais do médium; mostrasse-nos em diversos graus da escala moral. O mesmo não se dá, entretanto, com a preferência que os bons Espíritos dão aos médiuns.

Contradições
99. Há dois meios para fixar as ideias sobre as questões duvidosas. O primeiro é submeter todas as comunicações ao severo exame da razão, do bom-senso e da lógica; é a recomendação feita por todos os bons Espíritos, mas a que fogem os maus, pois sabem
que só terão a perder com um exame severo. Por essa razão evitam a discussão e querem ser acreditados sob palavra.
O segundo critério da verdade está na concordância do ensino. Quando o mesmo princípio é ensinado em vários lugares, por Espíritos diversos e médiuns que reciprocamente se desconhecem, que não se acham debaixo das mesmas influências, pode-se concluir que ele mais se aproxima da verdade do que o que deriva de uma fonte única e é contraditado pela maioria.

Consequências do Espiritismo
100. Ante a incerteza das revelações feitas pelos Espíritos, perguntar-se-á: Então, para que serve o estudo do Espiritismo?
Para provar materialmente a existência do mundo espiritual. Sendo este formado pelas almas dos que viveram, daí decorre a prova da existência da alma e da sua sobrevivência ao corpo. Manifestando-se, manifestam as almas, do mesmo passo, alegria ou sofrimento, conforme a maneira por que viveram a vida terrena. Daí a prova das penas e recompensas futuras. Quando nos descrevem o seu estado ou a sua situação, as almas ou Espíritos corrigem as falsas ideias que faziam da vida futura e, sobretudo, da natureza e da duração de suas penas. Assim, a vida futura passa de vaga teoria insegura a um fato adquirido e positivo; desperta a necessidade de trabalhar-se o mais possível na existência presente, tão breve, em favor da existência futura, que é infinita.
Admitamos que um rapaz de vinte anos adquirisse a certeza de que iria morrer aos vinte e cinco anos. O que faria nesse lapso de cinco anos que lhe restam? trabalharia para o futuro? Certo que não: procuraria gozar o mais possível, pois acreditaria que fosse uma tolice sujeitar-se sem proveito a fadigas e privações.
Entretanto, se tiver a certeza de viver até os oitenta anos, outro será o seu procedimento, porque compreenderá que necessita sacrificar alguns instantes do repouso atual a fim de assegurar o repouso futuro durante longos anos. Dá-se o mesmo com os que têm certeza da vida futura. A dúvida sobre este ponto conduz naturalmente a sacrificar tudo aos gozos da vida presente e, consequentemente, a ligar demasiada importância aos bens materiais. A importância atribuída a estes excita a cobiça, a inveja, o ciúme daqueles que têm pouco contra os que têm muito.
Da cobiça ao desejo de adquirir a qualquer preço aquilo que o vizinho possui vai apenas um passo. Daí os ódios, as disputas, os processos, as guerras e todos os males gerados pelo egoísmo.
Com a dúvida sobre o futuro e acabrunhado pelo infortúnio e pelos desgostos desta existência, somente na morte vê o homem um termo aos seus padecimentos. Então, nada esperando, considera racional abreviá-la pelo suicídio. É natural que, sem esperança no futuro, o homem sofre e se desespera com as decepções experimentadas. Os abalos violentos que sente repercutem no seu cérebro e são a causa de muitos casos de loucura. Sem a vida futura a existência terrena se converte para o homem em coisa capital, em objeto exclusivo de suas preocupações, e a ela tudo se subordina. Por isso mesmo quer desfrutar, a qualquer preço, não só todos os bens materiais, como também as honras. Deseja brilhar e elevar-se acima de todos, ofuscar o próximo com o seu luxo e posição. Daí a desordenada ambição que liga aos títulos e a todos os enfeites da vaidade, aos quais chega a sacrificar a própria honra, de vez que nada enxergue além disso.
A certeza da vida futura, com todas as suas consequências, transforma completamente a ordem de suas ideias, fazendo-lhe ver as coisas por outro prisma: é um véu que se ergue e lhe desvenda um horizonte imenso e esplêndido. Diante da infinidade e da grandeza da vida além da morte, a existência terrena desaparece, como um segundo na contagem dos séculos, como um grão de areia ao lado da montanha. Tudo se torna pequeno e mesquinho e nos admiramos por havermos dado tanta importância às coisas efêmeras e infantis. Daí, em meio às vicissitudes da existência, uma calma e uma tranquilidade que
constituem uma felicidade, comparados com as desordens e os tormentos a que nos sujeitamos, ao buscarmos nos elevar acima dos outros; daí, também, ante as vicissitudes e as decepções, uma indiferença, que tira quaisquer motivos de desespero, afasta os mais numerosos casos de loucura e remove, automaticamente, a ideia de suicídio.
A certeza do futuro dá ao homem esperança e resignação; a dúvida lhe tira a paciência, porque ele nada espera do presente. O exemplo dos que viveram prova que a soma de felicidade futura está na razão do progresso realizado e do bem que se haja praticado, enquanto que a soma de desventuras está na razão dos vícios e das más ações. Isto produz naqueles que estejam convictos desta verdade uma tendência naturalíssima para fazer o bem e evitar o mal.
Quando a maioria dos homens estiver convencida dessa verdade, quando professar esses princípios e praticar o bem, o bem triunfará sobre o mal aqui na Terra; os homens não mais se molestarão reciprocamente; reorganizarão as suas instituições sociais visando o bem geral e não o proveito de uns poucos; numa palavra, compreenderão que a lei da Caridade, ensinada por Jesus Cristo, é a fonte da felicidade, já aqui na Terra, e basearão as leis civis sobre a lei da Caridade.
A constatação da existência do mundo espiritual, que nos rodeia, e de sua ação sobre o mundo corpóreo é a revelação de uma das forças da Natureza e, consequentemente, chave de uma porção de fenômenos até agora incompreendidos, quer na ordem física, quer na ordem moral. Quando a Ciência tomar em consideração essa nova força até agora desconhecida, corrigirá um grande número de erros resultantes de se atribuir tudo a uma causa única – a matéria. O reconhecimento dessa nova causa nos fenômenos da Natureza será uma alavanca para o progresso e terá um efeito semelhante ao de outro agente novo qualquer.

Fonte: Allan Kardec - O Principiante Espírita

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